Compondo um currículo em inglês de sucesso

Compondo um currículo em inglês de sucesso

 Um CV atualizado é como um terno passado: Você nunca sabe se vai usá-lo, portanto é sempre bom ter um guardado, por se acaso. Seja para oportunidades como por exemplo estágio de verão, pesquisa, ou trabalho freelance; o curriculum vitae tem papel essencial em alavancar sua carreira, e por isso, o post de hoje tratará dos desafios e das dicas na composição de um currículo em inglês de sucesso no mercado global, e com o foco nas demandas do mundo corporativo britânico.

Escrita técnica em inglês: Independentemente de você estar traduzindo seu CV de português para inglês, ou escrevendo-o a partir do zero, há algumas notas importantes relativas à tradução e à língua inglesa técnica: Primeiramente, evite traduções literais/não-verificadas, afinal, um termo que faz sentido na sua cabeça, pode não estar correto. A prática da iniciação científica, por exemplo, jamais poderia ser traduzida como “scientific iniciation”, um termo mais adequado seria “undergraduate research project”. Termos técnicos e jargões precisam sempre ser checados: Uma empresa de cabos elétricos para veículos no Brasil fabrica “chicotes elétricos”, cuja tradução é “wiring harness”, e não “electric whip”! Uma dica é explorar currículos abertos no LinkedIn de pessoas associadas a empresas e instituições de seu interesse, para ver quais jargões e habilidades são realçadas em seus históricos. Também no tema de tradução: Evite o excesso de conjunções, tão comum na língua portuguesa. A frase “Avaliou a eficiência da equipe de enfermeiros” pode ser escrita como “Evaluated the efficiency of the team of nurses”, ou, de forma mais direta e clara, “Evaluated the nursing team’s efficiency”. É sempre bom trabalhar com a ordem dos substantivos e adjetivos, evitando a repetição dos termos “e”, “com”, “para” (the, of, for...).

Suporte da Universidade estrangeira: Caso você estude ou tenha estudado no UK, use e abuse do serviço de Careers da universidade para revisar seu CV, prepara-lo para entrevistas etc. Isso é um diferencial para quem estudou fora, pois, universidades brasileiras pecam na consultoria de currículo. E o que vários ex-intercambistas não sabem: As universidades muitas vezes concedem suporte para alunos formados após a graduação, ocasionalmente até dois anos após o aluno intercambista ter terminado seus estudos no Brasil (!). Naturalmente, esse suporte para ex-alunos fora do UK é dado por Skype/e-mail, mas posso garantir por experiência própria que é de grade utilidade.

Diferenças principais do CV britânico para o brasileiro: Primeiramente – pasmem –, no Reino Unido, seu desempenho acadêmico importa, até para avaliação do CV por indústrias. Portanto, na seção de histórico acadêmico, evidencie sua média de notas universitárias, utilizando ou porcentagem (recomendado), ou alternativamente a faixa de notas 1st, 2:1, 2:2, comum à classificação de diplomas britânicos (mais informações no tema).

Além disso, o currículo em inglês baseia-se em evidência, ou seja, ao invés da estrutura tradicionalista a qual estamos habituados, com a seção clichê de “perfil profissional”, dizendo que você é um cara pró-ativo e energético, e a seção batida de “conhecimentos em informática”; mais vale no seu currículo gringo que essas informações de habilidades sejam distribuídas em seu histórico educacional e profissional, e não em seções individuais. Para explorar bem essa regra, siga a formulinha do sucesso no seu CV:

Habilidade + Evidência + Quantificação

Como usá-la? É simples. Reestruture suas frases do histórico profissional e acadêmico de forma a conter os elementos de habilidade (seja técnica, de comunicação, gestão de tempo etc.) no início, seguida da evidência (como você adquiriu a habilidade), e a quantificação (alguma quantia numérica relacionada a evidência). Portanto, a frase no currículo:

- "Durante a pesquisa, trabalhou com a simulação numérica da resistência mecânica de próteses ortodônticas." Seria reestruturada como:

- Desenvolveu conhecimento de simulação computacional (habilidade) avaliando a resistência mecânica (evidência) de dez variações de próteses ortodônticas (quantificação). Ou, em inglês,

- Developed simulation skills through the mechanical resistance evaluation of ten orthodontic prosthetic models.

Cuide, porém, para não ser repetitivo em seus termos – buscar sinônimos de palavras no Google ajuda bastante. Por exemplo, alterne a palavra “developed” por “gained” ou “learned” quando conveniente. A “formulinha do sucesso” fará também que as informações mais importantes (habilidade) do currículo fiquem na faixa esquerda da página, fator de sucesso abordado pelo...

... Estudo científico sobre visualização de CV: A TheLadders (site de empregos norte-americano) avaliou, com tecnologia para rastreamento ocular, quais regiões do CV são mais visualizadas por analistas de RH (eu sei, parece ficção científica). Os resultados são variados (vale a pena ler a reportagem no tema), sendo as observações mais importantes:

- Um CV é lido em média durante 6 segundos (!). Portanto, nunca estenda-o por mais de duas páginas, e tenha as informações importantes bem estabelecidas, abusando de regiões brancas na folha – evite poluição visual, preferindo tópicos (boas e velhas bolinhas do Word) a parágrafos.

- As regiões do currículo com maior visibilidade (foto abaixo) são a faixa de informações na esquerda da página (vide a importância de estruturar as habilidades no início das frases), e as primeiras frases no topo. Portanto, uma seção inicial no currículo de “Profile”, com duas ou três linhas em tópicos destacando suas principais habilidades, é uma forma boa de dar realce aos seus diferenciais na região “dourada”, mais visualizada do CV.

Por fim, valorize suas habilidades: Como já explorado em outros posts no blog (como o da diferença de ensino Brasil-UK), o know-how de um profissional brasileiro, dado a alta carga horária universitária, e exposição a estágios e pesquisa, pode ser muito maior que a de um profissional mediano europeu. Portanto, faça questão de abordar suas diversas experiências no currículo, valorizando a si mesmo. Liste também atividades extracurriculares , voluntariado, participação em grêmio estudantil, etc. Informações burocráticas como possuir carteira de motorista internacional, ou dupla cidadania europeia, também são de grande valor.

Com dedicação e paciência, certamente seu CV estará, em breve, brilhando aos olhos de empregadores e professores. Muito obrigado, e até a próxima! :-)

 

 O texto acima foi originalmente publicado (com algumas diferenças), também por minha autoria, no blog Embaixadores da Rainha, que possui como público-alvo estudantes e ex-estudantes intercambistas do Reino Unido. O site conta com conteúdo atualizado semanalmente sobre a cultura do UK.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Eduardo Barreira Martinez, Dipl. Ing., PMP®

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos