Comprar empresas também é uma forma de inovar

De 1995 a 2022, o Grupo Estée Lauder adquiriu nada menos que 25 empresas de beleza. Parece muito? Pois o grupo L´Oréal, no mesmo período, adquiriu 30.

Por Gillian Borges

Fusões e aquisições (M&A) podem ser uma poderosa ferramenta para impulsionar inovação. Ao adquirir startups ou empresas consolidades, é possível incorporar novas tecnologias, conhecimentos e talentos. E mais: a combinação de recursos e expertise cria sinergias que alavancam inovação e avanço tecnológico.

As fusões e aquisições permitem que as empresas entrem em novos mercados, expandindo suas operações, implementando novas ideias e práticas inovadoras. Foi a entratégia da LVMH ao comprar a Sephora em 1998. A cadeia francesa de lojas de cosméticos, expandiu significativamente o alcance da LVMH no varejo da beleza, oferecendo uma plataforma já de grande alcance para promover ainda mais suas marcas, bem como para introduzir novos produtos em outros mercados.

No mesmo ano o grupo Estee Lauder adquiriu a MAC Cosmetics. Reconhecida por sua ampla gama de cores, a MAC tornou-se um pilar em diversidade e inclusão no portfólio da Esteé Lauder Companies, permitindo-lhe atrair um público mais diversificado e alcançar um sucesso internacional ainda maior.

Diversidade e inclusão também foram efeitos positivos da aquisição da Fenty Beauty pela LVMH. Em 2019 o grupo adquiriu a revolucionária marca fundada pela cantora Rihanna, atingindo rapidamente um mercado aida pouco explorado por ele.

Ao comprar a Too Faced Cosmetics, em 2016, famosa por embalagens cativantes e produtos de alta qualidade, o grupo Esteé Lauder fortaleceu sua marca entre os consumidores mais jovens e ligados às tendências.

Com a compra da brasileira Niely, o grupo L´Oréal entrou num mercado popular em que tinha pouca expressividade, o de cabelos cacheados e crespos. A mesma tática foi usada com a compra da Colorama, quando precisava conquistar o pujante mercado de unhas no Brasil. Ou quando, em 1996, comprou a Maybelline New York para oferecer uma ampla variedade de bons produtos e preços acessíveis.

Em 2023, o Grupo Boticário adquiriu a Dr Jones impulsionando sua presença no mercado masculino. A compra da Simple Organic, marca de cosméticos naturais e orgânicos, foi a estratégia usada pela Hypera Farma em 2020 para entrar no mercado americano. E em 2021 a compra da Eico foi vista pelos analistas como um passaporte para a Duty Cosméticos sair de média para grande empresa. Parece que Daniel de Jesus, fundador da Niely e da Duty Cosméticos, aprendeu com a gigante L´Oréal uma das formas de crescer rapidamente.

Há ainda outros benefícios que podem surgir a partir de fusões e aquisições:

• A competição e a adaptação são estimuladas, uma vez que as empresas adquirentes podem se inspirar e aprender com as práticas bem-sucedidas das adquiridas.
• Erros servem de aprendizado. Empresas adquirentes podem compreender falhas das adquiridas, evitando repeti-los e promovendo cultura de educação continuada.
• Expertise em regulamentação e conformidade, juntamente com mitigação de riscos e obtenção de vantagem competitiva são provocados por processos de fusão e aquisição.
• A troca de ideias entre as empresas envolvidas no processo de M&A promove a polinização cruzada de ideias, fomentando um ambiente propício à criatividade.
• O acesso a novas bases de clientes, a expansão e diversificação de mercado, bem como o compartilhamento de recursos e conhecimento são benefícios significativos que fusões e aquisições oferecem às empresas envolvidas.
• Fusões e aquisições também podem disponibilizar recursos financeiros para pesquisa e desenvolvimento (P&D), impulsionando ainda mais a inovação tecnológica.

Olhar para fora das paredes da empresa é sempre uma boa saída sempre que a ideia for inovar. Mas observar tendências, modelos de negócio e ações dos concorrentes é tão importante quanto avaliar outras empresas. É importante reconhecer o potencial das fusões e aquisições como uma forma de adquirir novas capacidades, estimular a criatividade e acelerar o progresso tecnológico.

Gillian Borges é consultora de negócios com foco em Inovação, Tendências e Futuro. Faz mapeamento de tendências e foresigh, apresentando oportunidades no mercado brasileiro de bens de consumo e HPPC. Atua como conselheira e board member, é Presidente da Conselheiros TrendsInnovation, Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie, Publisher pela Stanford University. Tem longa carreira no mercado de Comunicação, tendo atuado por 12 anos como alta executiva de empresas de mídia.