Conceito e experiência na produção literária
Torna-se complicado encontrar meios de sobreviver com literatura em um país de educação ainda precária e que vive uma cultura dificilmente associada ao livro. Apesar do aumento no interesse do público, ler não é uma prática comum em nosso território e, mesmo com resultados melhores a cada ano, isso pode demorar a acontecer.
Mas é possível supor que esse quadro representa o fim do livro no Brasil? Os inúmeros profissionais competentes que lutam pela literatura nacional constituem uma comunidade engajada com o propósito. A busca por novos meios de melhorar o setor fez com que muitos começassem a compreender a necessidade de adequar, arriscar e testar as mais inusitadas estratégias para o incentivo do consumo artístico cultural no mundo novo.
E a movimentação começou a partir de atualizações provenientes dessa linha de raciocínio. Basta bisbilhotar pela internet para encontrar trilhas sonoras criadas por autores, designs pensados como conceitos complexos e até diagramações com propósitos maiores. As pessoas são outras e a produção literária teve de acompanhar o imaginário delas transformando o ato de ler em uma experiência imersiva totalmente diferente do que visava o propósito tradicional.
O objeto livro foi conduzido por uma espécie de direção de arte a uma área de desenvolvimento que parecia despropositada, mas que levou a indústria a trabalhar estímulos atraentes sem necessariamente precisar de uma adaptação para cinema ou televisão. Ressignificar o desejo faz parte da evolução do leitor e da obra. Edições de luxo ou capas comuns, um processo criativo minucioso visa esmiuçar os textos e estudar os sentidos para um resultado catártico muito mais adequado ao povo moderno.
O financiamento coletivo é o método em que essas técnicas são magistralmente aplicadas graças a participação ativa do leitor no processo criativo. A tática visionária faz com que os envolvidos adquiram uma capacidade inacreditável de promover experiências que vão além do trivial com o auxílio de um nicho cada vez mais exigente. Conhecer a necessidade do consumidor tende a tornar as campanhas realmente irresistíveis e vem alavancado a carreira de profissionais independentes através de uma comunicação íntima e constante.
Outra onda interessante que tem se aproveitado de conhecimento em conceito é a do clube de assinatura. Você se lembra do carteiro deixar alguma revistinha na sua casa quando você era criança? Eu lembro. Um negócio promissor, os serviços de assinatura literária repaginaram uma tendência antiga e cresceram. Com uma resposta bastante positiva, editoras grandes aderiram à ideia e inauguraram suas próprias marcas para assinantes. A curiosidade, a nostalgia e a alegria de receber um pacote todo mês se tornaram quase uma necessidade básica e hoje muitos amantes de livros são clientes fiéis desse modelo de vendas.
Por sua vez, o investimento em e-books, audiolivros e mídias sociais pode ser visto como consequência do estudo clínico de um consumidor fervoroso no meio digital. O online é realidade indiscutível e usufruir dessa condição para uma relação forte e próspera faz parte da exigência desses tempos.
É incessante o impacto provocado pela internet na maneira como o mercado atua e o cliente final recebe o produto. Na última Bienal do Livro de São Paulo, por exemplo, pôde-se notar cantinhos dedicados a livros populares no BookTok em vários estandes. Esses recursos que desencadeiam análises e percepções sobre o condicionamento humano de sua época trazem à tona possibilidades de interação com gente predisposta a vivenciar esse consumo que, em 2023, não deve existir exclusivamente de modo analógico.
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Perante os argumentos apresentados, podemos concluir que interdisciplinaridade é a palavra de ordem responsável por orquestrar o cenário que se forma. A expansão do pensamento é uma arma poderosa que força o mercado editorial nacional a deixar sua ilha para viver uma nova chance. O sucesso da indústria não depende apenas do leitor, mas da maneira como o profissional do livro é capaz de se conectar com a ideia de que agora não é só sobre ler. É preciso promover incentivo com entrega, iniciativas que conduzam ao futuro e remontem aos dias de glória. Realizar e concretizar para ser a reconciliação do que foi, do que é e do que será.
Por: Carolina Borges