Concentração bancária pode limitar queda no juro para os consumidores
Apesar de o Comitê de Política Monetária do Banco Central ter reduzido, na semana passada, a taxa básica de juro – a famosa Selic – de 13,75% ao ano para 13% e prometer novas reduções para os próximos meses, o custo do dinheiro no Brasil é um dos maiores do mundo e deve continuar sendo.
Os altos juros vão continuar se refletindo nos nossos bolsos, em que pese as instituições financeiras terem anunciado cortes tímidos em suas taxas para as pessoas físicas e jurídicas.
O problema é o spread elevado – a diferença entre o que o banco paga ao investidor e o que cobra de quem empresta dinheiro. É o terceiro maior do mundo, atrás apenas de Madagascar e Malavi, segundo o Banco Mundial. São dois países que não tem um sistema financeiro sofisticado como o brasileiro, onde o crédito doméstico fornecido pelo setor financeiro corresponde a 108,3% do PIB (15° no ranking mundial em termos proporcionais).
Muito se discute sobre as razões de o Brasil ter um spread elevado, assunto já discutido neste blogue (clique aqui). Um dos fatores é a elevada concentração bancária que vem ocorrendo nos últimos anos.
Segundo o Banco Central, em 2000, as quatro maiores instituições financeiras detinham 50,4% dos recursos. No terceiro trimestre do ano passado, esse índice era de 72,4%.
Ao longo desses 16 anos, nove dos 16 maiores bancos foram absorvidos por outros. A presença de bancos estrangeiros no varejo encolheu. Restou só o Santander, de origem espanhola. As instituições financeiras estrangeiras deixaram de lado a atuação mais ostensiva e operam mais especificamente em nichos.
O aumento na concentração se reflete em uma dificuldade maior na redução das taxas de juro cobradas dos consumidores e nas tarifas bancárias. Nos últimos dois anos, segundo o IBGE, elas aumentaram mais do que a inflação: a alta atingiu 20,2%, diante de um IPCA acumulado de 17,6%.
Esta situação ocorre justo em um momento em que o consumidor está mais retraído. A demanda das empresas por crédito diminui 2,3% nos 11 primeiros meses do ano passado, comparativamente a igual período de 2015, aponta a Serasa Experian. E a dos consumidores teve uma alta, considerada tímida, de 3,7%, focada principalmente para quitação e renegociação de dívidas.