CONHEÇA A RESENHA-RETRÔ, QUE CRITICA O PASSADO COM O OLHAR DO ATIVISTA DE HOJE
O bom de viver um país que está numa Era de Ouro da cultura, cheio de Nobéis, Pulitzers, Emmys, Grammys e Oscars, é que o jornalismo cultural não precisa se ocupar do presente e sim resenhar o passado.
Essa nova modalidade de jornalismo – que eu chamo de Resenha-Retrô – se empenha em analisar produtos culturais de ontem com o olhar enviesado do ativista de hoje.
Já fizeram isso com “Friends“, programas infantis dos anos 90 , programa infantis dos anos 80 e crítica de costumes.
E se você procurar bem, certamente vai achar muito mais exemplos por aí.
Todas as Resenhas-Retrô têm um pezinho no autoritarismo e lamentam (nem sempre de forma sutil) que ninguém tenha censurado aquilo tudo na época. No fundo, é o mesmo tipo raciocínio que propõe que Monteiro Lobato seja reescrito e que Machado de Assis seja simplificado.
Como não é de bom tom contrariar tendências culturais, resolvi fazer umas Resenhas-Retrô para ver se faturo algum .
Aí vai.
A BÍBLIA (vários autores)
A primeira parte é um longo catálogo de genocídios. A segunda é um pouco mais positiva, mas não resolve nada e o mundo acaba. O maior problema, no entanto, é que o livro não apresenta nenhuma diversidade religiosa. Só fala de Jeová, e não abre espaço para outras divindades igualmente importantes como Baal, Osíris, Oxalá, Zeus ou Wotan. Devia ser proibido.
DOM QUIXOTE (Miguel de Cervantes)
O livro passa o tempo todo ridicularizando um cidadão da terceira idade com sintomas de Alzheimer. Devia ser proibido.
DOM CASMURRO (Machado de Assis)
O romance inteiro é construído sobre a suposta infidelidade de uma mulher, Capitu, que nasceu livre, não é propriedade de ninguém e, por isso, não tem obrigação alguma de prestar contas à sociedade patriarcal opressora. Devia ser proibido.
RASTROS DE ÓDIO, The Searchers, 1956 (direção John Ford)
Odioso homem branco racista e psicótico passa cinco anos em busca da sobrinha, que decidiu viver com belos e nobres nativos americanos. Nem devia ter sido filmado.
SEINFELD (1989-1998, criação de Larry David e Jerry Seinfeld)
Sem nenhuma diversidade cultural ou racial, a série mostra o quotidiano de quatro indivíduos repugnantes, todos brancos e da classe média. Nem pode ser considerada denúncia social porque é comédia. Não entendo como deixaram ir pro ar.