Conhece-te a ti mesmo: Esporte é Filosofia
Bem-vindos e bem-vindas! Qual foi a última vez que você fez algo pela primeira vez? Tanto faz. Na verdade, dá para aprender muito passeando pela rotina que você já conhece.
Hoje, a newsletter Toco Y me Voy mergulha de cabeça em um tema que faz parte da minha própria rotina desde que me entendo por gente: o amor pelo esporte. Essa paixão, que pulsa forte, vai muito além da atividade física - é um estilo de vida, que moldou minha personalidade, me proporcionou momentos inesquecíveis e me ensinou valiosas lições. É um convite para embarcar comigo nessa jornada.
Também é um texto metalinguístico: “Toco Y Me Voy” faz total referência ao relacionamento que tenho com o que torna o esporte um trabalho essencial de corpo, mente e alma. Começo pelo fim, para abraçar minhas próprias ambivalências: deixei de jogar futebol por não gostar de quem eu sou quando estou em uma competição no campo. Pode parecer contraditório - na verdade, esse é o alto nível de conhecimento que o esporte me ajudou a alcançar.
Só quem se conhece muito bem deixa de fazer algo que ama porque sabe que não será sustentável a longo prazo.
Nessa altura do campeonato
Minhas raízes esportivas são profundas e entrelaçadas com memórias da infância, aquelas que são abrigos em tempos de turbulência. Influenciado por uma mãe, que foi professora de educação física, um pai, fanático por futebol (especialmente pelo SPFC), e uma irmã talentosa nas competições esportivas, fui desde cedo incentivado a explorar esse universo. Aos 10 anos, embarquei em uma aventura para jogar futebol nos Estados Unidos. Todo Natal, eu esperava ansiosamente, para ganhar o jogo de computador Fifa Soccer, onde explorava todos os times e jogadores das diversas ligas de futebol do mundo. Como diz Marcelo D2, “sob o poder da criação, nenhuma força do mundo interfere”.
Portal para entrar em mim mesmo
Para além da alegria e adrenalina, o esporte me oferece um refúgio para a mente e o acesso para o autoconhecimento. A prática do tênis, por exemplo, me transporta para uma outra dimensão, onde todos os problemas externos se dissolvem e o foco se concentra na dinâmica do movimento. Cada golpe é um ritual: agachar corretamente, fixar o olhar na bola, empunhar a raquete com firmeza, entrar em contato com a bola, finalizar o movimento e observar a bola girar em direção ao outro lado da quadra.
Essa imersão profunda nas minhas habilidades físicas e mentais me conecta com uma dimensão espiritual, proporcionando um estado de paz e presença inigualável. É como se o tempo desacelerasse, permitindo que eu me concentre apenas no momento presente. Para quem pratica atividades físicas focadas, a sensação de presença e de consciência do agora é um dos benefícios que são mais rapidamente atingidos.
Senna, em uma declaração em Mônaco, no ano de 1988, disse: “foi naquele dia em que percebi que já não estava mais dirigindo conscientemente. Para mim, era como se fosse uma outra dimensão. O circuito era um túnel para mim e eu só ia, ia e ia em frente”.
Esporte é meditação somada à resistência física.
Conquista do pódio
O esporte, em suas diversas modalidades, me ensina valores que considero essenciais para o sucesso na vida: disciplina, foco, trabalho duro, confiança na equipe e a busca por soluções, em vez de culpados. Como já falei em outros textos, “disciplina é liberdade”. Enfrentar situações desafiadoras, como sacar em um match point ou cobrar um pênalti na final de um campeonato, mesmo que no nível amador, nos fortalece mentalmente e me prepara para lidar com os obstáculos da vida.
A verdade é que, algumas vezes, não queremos apenas o desafio - buscamos o que nos dá prazer e conforto, uma sensação única de se sentir bem na nossa própria pele. O esporte também me proporciona momentos de descontração e alívio do estresse, seja assistindo a um jogo com amigos ou praticando algo que me traga prazer. E claro, a conexão social é um dos grandes benefícios do esporte: quem nunca marcou um jogo como pretexto para um encontro com os amigos e uma cervejinha gelada?
A natureza da humildade
O surfe, em particular, me abriu os olhos para a importância da conexão com a natureza. Deslizar sobre as ondas me conectou à imensidão do oceano, me inspirando admiração e respeito pelo poder dos mares. Essa experiência me ensinou a praticar a humildade e a reconhecer a pequenez do ser humano, diante da grandiosidade do mundo natural. Foi a partir do surfe que passei a admirar ainda mais Yvon Chouinard, fundador da Patagonia, que alia o sucesso empresarial à responsabilidade ambiental e ao amor pelas atividades ao ar livre. Seu livro "Let my people go surfing" me inspirou a buscar um modelo de vida que priorize a sustentabilidade e o bem-estar do planeta. Confesso que ainda fracasso grosseiramente nesse quesito.
Você, com certeza, já passou por uma experiência assim - e talvez não tenha entendido muito bem porque encontrar a grandiosidade da natureza faz tanta diferença para nós, que somos seres sociais, mas nascidos dela. A conclusão que cheguei até agora é a questão da perspectiva:
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A natureza é tão grande e majestosa que precisamos encarar nossa própria insignificância
Os problemas ficam bem menores, as vaidades, os orgulhos, os rancores, tudo que inunda nossas vidas cotidianas parece uma poça d’água perto da imensidão da Vida, com V maiúsculo.
Os heróis que precisamos
O dramaturgo e escritor alemão Bertolt Brecht (1898-1956) imortalizou a frase “Infeliz a nação que precisa de heróis” em uma de suas obras. Dentro do texto original, sobre autoritarismo e como surgem as ditaduras, a frase pode ter seu impacto positivo. A verdade é que os heróis não são salvadores da pátria, são fonte de inspiração.
Ayrton Senna e Roger Federer são dois dos meus maiores ídolos no esporte. Senna, com sua agressividade calculada, ousadia e sensibilidade, é uma bela referência para quem quer perseguir sonhos com determinação e paixão. Sua conexão com o carro, o público e o esporte me impressionavam. Já Federer me encanta com sua elegância dentro e fora das quadras, além da ética de trabalho e da longevidade em sua carreira de sucesso. Sua capacidade de transcender nacionalidades, e o próprio esporte, o torna um modelo de inspiração para mim.
Talvez o que precisamos é saber diferenciar os ídolos dos heróis. Heróis são fictícios, são sobre-humanos: não erram, colocam os outros acima de si e dedicam suas vidas guiados pela certeza da diferença entre o que é certo e o que é errado.
Ídolos são seres humanos, com defeitos, com atribulações e contradições, mas que são capazes de inspirar milhares de pessoas ao redor do mundo, não pelas suas certezas, mas pelas suas conquistas e apesar das dúvidas.
Obviamente, existem os benefícios físicos - que, com certeza, seu médico já te disse, seu terapeuta reforçou, seu geriatra vai reclamar, daqui um tempo, que você os deixou de lado: a atividade física é importante para a saúde, para a qualidade da memória, funcionamento do organismo, controle do peso e da obesidade, ajuda no equilíbrio das taxas de gordura na corrente sanguínea, auxilia no controle da hipertensão arterial, reduz em até 80% o risco de doenças cardiovasculares - e pode ser a lanterna dos afogados para quem está no ringue com sua própria saúde mental.
O esporte é capaz de mudar, de fato, a vida das pessoas, principalmente em lugares onde existe carência de recursos financeiros, de atenção e de oportunidades. As histórias sobre isso são inúmeras - uma mais emocionante do que a outra. Juntas, elas mostram que o esporte, talvez, seja a verdadeira passagem para a mobilidade social. Nem falo aqui de atletas de alta performance, nesse ponto a conversa seria outra - falo de como transformar o esporte em uma ferramenta para ter uma vida equilibrada e mais leve, onde seu desafio é a sua própria superação.
Você acompanha seus batimentos cardíacos - que podem ser a saída de um beco escuro para um campo aberto de possibilidades.
O esporte é um presente que trago comigo em cada passo da jornada, me impulsionando a ser a melhor versão de mim mesmo - mesmo que, em alguns dias, essa versão seja apenas ser capaz de ir até a quadra, assistir a outras pessoas jogarem.
Halftime Show
A playlist da vez é autoexplicativa: para exercer sua liberdade de se envolver com os esportes de forma que te faça bem, te traga de volta para o presente e para si mesmo, te incentive a suar a camisa, concentrar em fazer melhor e, depois de muita entrega, te leve ao vestiário com a sensação incomparável daquele cansaço gostoso. Da dor muscular recompensadora, do machucado ou hematoma que “faz parte”, da comemoração de uma partida entre amigos que até parece final de Copa do Mundo.
Ou de Rolland Garros. Ou de GP de Mônaco. Ou de Olimpíadas. Ou no Super Bowl…
“Para que as trevas não levem seu brilho. Para que as coisas não saiam do trilho”.
Mês que voltamos, para mais clássico em casa. Vou correr para o abraço!
Mau.
Business Executive at Google
6 mO texto é incrível, Mau - e pra mim fica ainda mais contextual por já te te visto passar por diversas das situações que você citou. Btw, sinto falta de ver em campo "o outro Mau", mais conhecido como Edmundo! Brincadeiras à parte, encontrei na corrida um mix das sensações que citou sobre o tênis com as do surf. A transe da concentração nos movimentos com o reconhecimento de que somos pequenos, e o contato com a natureza dando voltas e voltas entre árvores, em prais, avenidas e pistas. Parabéns, meu querido 👊🏼👊🏼
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6 mBoa Mau, texto show, a conexão da prática esportiva com a dimensão espiritual que citou, fez muito sentido compartilhando aqui com as minhas meninas que estão descobrindo o esporte em suas vidas, valeu abração !
Google Cloud - LATAM Partner Marketing Manager
6 mPuta texto em Mau! Amei. Vc conseguiu resumir Tudo o que penso sobre esporte
Gerente de contas na FLIX Media Brasil
6 mMuito bom o texto ! Parabéns Mau! “Fez bem” em largar o futebol…
Business Executive no Google | Especialista em Growth, Performance & Digital Marketing | Pai do Gabriel
6 mSempre pontual, Mau. Obrigado por compartilhar!