Conselho Consultivo norteador e liderança transformadora.

Conselho Consultivo norteador e liderança transformadora.

“A única certeza é a mudança.” É com essa frase de Heráclito (cerca de 540-470 a.C) que inicio esse artigo, pois concordo absolutamente, haja vista que o mundo está em constante mudança e o universo corporativo também reflete essa realidade. É sabido que as regras do jogo mudam constantemente e que a pandemia acentuou isso, fazendo com que as organizações refletissem sobre as suas práticas de gestão, sobretudo sobre a gestão de pessoas, e como uma boa governança corporativa impacta no seu valor de mercado. E, é nesse contexto, que o presente artigo pretende reafirmar que as organizações que desejam conquistar vantagem competitiva no mercado e assegurar o sucesso da sua estratégia devem adotar um sistema de gestão de talentos eficaz.

José Helio Contador Filho (2022) em sua aula sobre Liderança e Estrutura Organizacional, ministrada para o Programa de Formação e Certificação de Conselheiros, da Board Academy, nos fez refleti sobre o quanto a crescente demanda por Conselhos Consultivos e as mudanças geradas pelo contexto da pandemia, exigem que o conselheiro entenda claramente seu papel nesta nova realidade, não só atuando nas áreas estratégicas e de negócios, mas também nas relações sociais, gestão de pessoas e no comportamento humano dos times de lideranças. Desta forma, é fundamental que o conselho consultivo, pautado nos princípios de governança corporativa, aconselhe o posicionamento do líder ou dono da empresa na gestão de pessoas, atração, desenvolvimento e retenção de talentos.

Cada vez mais é relevante que o conselho consultivo, enquanto catalizador de boas práticas, seja formado por conselheiros complementares. Seus conselheiros precisam, dentre os diversos assuntos, conhecer também sobre o comportamento humano para que este seja aliado às proposições para vencer os desafios dos times de liderança, à tomada de decisão, às estratégias para o uso do foco e inteligência emocional e ao posicionamento do líder e a gestão de pessoas.

Vivemos um paradoxo da excessiva informação e da baixa qualificação que fica evidenciado naquilo que, por vezes, tira o sono dos conselhos consultivos e dos líderes: a lacuna das competências na contratação de talentos. Corroborando com isso, em 2013 a Fundação Dom Cabral criou o Movimento CEOs’ Legacy e realizou uma pesquisa para compreender os desafios que os líderes de grandes organizações enfrentavam no Brasil ou teriam de enfrentar, a qual identificou:

•     Lidar com a complexidade e a incerteza

•     Atrair e reter talentos qualificados

•     Conviver com gerações muito diferentes

•     Compreender como o crescimento exponencial da tecnologia irá afetar os negócios e a humanidade

•     Saber como prosperar de forma duradoura em tempos de profundas mudanças e entender a sustentabilidade no contexto das organizações e da sociedade

•     Deixar uma contribuição positiva e significativa para o futuro

•     Compreender as tendências no contexto do macroambiente econômico mundial e suas implicações

•     Relacionar-se com o governo e com o legislativo

•     Lidar com a sensação de solidão do poder e a frustração com o trabalho.

É imperioso observar que muitas das mudanças acentuadas ou “antecipadas” pela pandemia já foram indicadas em 2013, ou seja, todas as questões tão faladas sobre a atração ou retenção de talentos qualificados, os conflitos geracionais, as complexidades e incertezas, o impacto tecnológico nos negócios e humanidades, entre outros, já estavam em voga lá atrás e, quem está começando a pensar nisso somente agora, está atrasado!

Para José Helio Contador Filho (2022), as práticas de gestão mais críticas são:

•  Posicionamento do dono/líder

•  Planejamento estratégico e sua implementação

•  Gestão de pessoas, atração, treinamento e retenção

•  Trabalho em equipe

•  Gestão de mudanças

•  Condução de reuniões

•  Comunicação

•  Meritocracia e remuneração

•  Aplicação racional dos recursos financeiros

Focando na gestão de mudanças, José Helio Contador Filho (2022), considera:

•  A dinâmica de incertezas do mundo atual exige grande agilidade e rapidez na implementação de mudanças de qualquer espécie no desempenho da organização.

•  Implementar mudanças, ou seja, mudar a zona de conforto das pessoas é um grande desafio da liderança.

•  Fatores de sucesso para o processo de mudança: -clara visão da necessidade da mudança-abordagem simples e mudança gradual da cultura-envolvimento adequado das equipes-comunicação objetiva a todos os níveis da organização-tempo para amadurecimento e absorção da mudança-sistema de monitoração e acompanhamento.

Outrossim, não fugindo desse contexto de mudança, mas voltando a lupa para o volume de informações, é notório que muitos líderes estão com dificuldades para se compor frente a tantas informações e compromissos oriundos do trabalho “remoto” e da evolução tecnológica. Isso nos faz refletir sobre o quanto de tempo é gasto em atividades que não agregam valor profissional e/ou pessoal, muito menos para o negócio.

Nesse sentido, José Helio Contador Filho (2022), ao reforçar a importância do foco e que a sua falta faz com que muitos líderes não consigam definir prioridades, relata:

Vivemos bombardeados de informações a todo instante, gerando distrações e isolamento.  Esse excesso de informação nos deixa, ainda, com aquela estranha sensação de estarmos perdidos e sem saber por onde começar. Muitas pessoas têm dificuldade de concentração, com prejuízos enormes para a capacidade de prestar atenção no que realmente importa. Assim, ao invés de impulsionar a nossa criatividade e nos levar a agir, esse volume absurdo de informação, muitas vezes, nos paralisa.

           Claro que se soma a isso o desafio de realizar assertivamente a avaliação comportamental dos líderes da empresa. Nesse contexto, a gestão comportamental é uma forte aliada para superar os desafios do negócio, pois tem como reflexo o aumento da produtividade e dos resultados organizacionais. Cada vez mais, com o avanço da tecnologia e do uso de inteligência artificial, se torna importante a valorização do capital humano.

De acordo com José Helio Contador Filho (2022), o papel do líder envolve:

·               Acima das boas práticas de gestão, está a figura do líder, cujo comportamento, habilidades e competência ditam o ritmo da organização.

·               O comportamento do sócio, principalmente em empresa familiar, ou do líder é o que define os valores, a ética, os estilos de gestão que servem de base para o desempenho da organização. Os funcionários se modelam nos seus líderes.

·               Manter a equipe comprometida e motiva exige uma gestão de pessoas voltada para a consolidação das práticas de governança.

Ainda de acordo com José Helio Contador Filho (2022), os nove fatores de Harvard que movem um líder a ser o modelo e um educador na empresa são:

·               Integridade

·               Criatividade

·               Visão

·               Julgamento

·               Comunicação

·               Conhecimento

·               Honestidade (transparência)

·               Paixão

·               Carisma

Nessa perspectiva, ouso completar que, a liderança com vínculo social pressupõe a alteração da liderança transacional para a liderança transformacional, sendo necessário que o líder esteja preparado para motivar, inspirar, sensibilizar e comunicar. Alguns estudos constatam que os líderes transformacionais conseguiam muito melhores avaliações do que os líderes transacionais quando focalizados do ponto de vista da eficácia e Burns (1978) cita que “o resultado da liderança transformacional é um relacionamento de estímulo mútuo e elevação que converte os seguidores em líderes e pode convertê-los em agentes morais.”

Por fim, as regras do jogo mudaram nos últimos anos. A pandemia trouxe a necessidade de ressignificar a gestão, a cultura organizacional e, sobretudo, as conexões entre a liderança e os colaboradores e, para isso, o perfil dos executivos e conselheiros precisa se adaptar à nova realidade. Contudo, o conselho consultivo ter excelência em pessoas e a liderança ser transformadora são algumas das poucas regras que permanecem e permanecerão inalterada!

Referências Bibliográficas

INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. Código das melhores práticas de governança corporativa. Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. São Paulo, SP. IBGC, 2015.

Burns, James MacGregor; Format: Book; ix, 530 p. ; 24 cm. ... Description, New York : Harper & Row, c1978 ix, 530 p. ; 24 cm. ISBN, 0060105887

José Helio Contador Filho. Material da disciplina de Liderança e Estrutura Organizacional.  Programa de Formação e Certificação de Conselheiros, Board Academy, 2022.

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