Conselho de Mulher
Na última terça-feira ouvi de Eduardo Gomes[1] da Board Academy Br , que a primeira sugestão as empresas, quando da formação de conselhos, é buscar um equilíbrio na composição entre homens e mulheres. Neste instante soube que iria escrever sobre o tema. Como mulher executiva, tenho lugar de fala. Ao mesmo tempo que precisamos deste tipo de indicação, é triste saber que chegamos a este ponto para que empresários, teoricamente esclarecidos, nos observem com mais atenção. Tinha ciência que Gomes, além da igualdade de gênero, estava também se referindo sobre a importância da diversidade em Conselhos Corporativos. E, referente as mulheres, os números justificam o argumento.
A Forbes apresenta uma pesquisa realizada na América Latina e destaca que: “O Brasil está entre os países com menor representação feminina nos conselhos de empresas na América Latina. Apenas 25,3% dos boards no país são ocupados por mulheres.”[2] O artigo conta que já foi pior. Mas o crescimento é muito lento. As pesquisas ainda são poucas. Provavelmente a falta de pesquisas ou divulgação delas fazem parte do machismo estrutural velado contido no mercado de trabalho. Digo isso, não apenas por experiência própria, mas por observar outras pesquisas existentes.
Machismo Estrutural Velado
A CNN apresenta outra pesquisa, da Korn Ferry de 2024[3], indicando que networking é uma dificuldade para mulheres chegarem nos conselhos porque homens indicam homens. Não somos do clube do bolinha. Outra constatação é que mulheres não têm muito tempo para participar de eventos. Acreditam que temos mais ocupações com a vida doméstica e, por consequência, menos tempo para dedicar a conselhos. No caso de presidentes de conselhos ou executivos seniors, com mais idade, existe a resistência a mulheres em cargos de poder, old school. Quanto maior for a idade, maior o grau de conservadorismo. Até quando teremos que provar a capacidade de superação feminina? O que é um talento nato feminino, a capacidade de fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo com qualidade, acaba se voltando contra nós. Acredito que desenvolvemos esta capacidade justamente pela luta por melhores colocações. Buscamos sempre fazer mais e melhor. Mas não é só isso.
Segundo a jornalista Neivia Justa[4], no Brasil, as mulheres representam 52% da população; são maioria nas universidades, tanto na graduação quanto na pós-graduação; são responsáveis por 80% das decisões de consumo; são gestoras de 50,9% dos lares, com atuação em todos os setores da economia. No entanto, nossa participação em conselhos se restringe a 17%, conforme a pesquisa “Panorama Mulheres 2023” INSPER. Com tanta formação e experiência, é muito mais difícil para uma mulher chegar e cargos de poder ou alta liderança. E tem mais...
O “Retrato da Conselheira no Brasil”[5] aponta que “93% tem um ou mais diplomas além do ensino superior. Os mais recorrentes são especialização ou MBA (57%) e mestrado (27%). Sete por cento têm doutorado e 2% pós-doutorado. Dentro da amostra, 47% têm certificações para conselheiros e 46%, de governança corporativa.” Ou seja, as mulheres se preparam bem. Culturalmente aprenderam que sempre serão avaliadas. Conhecem o cenário e seu histórico. Mas existe outro aspecto na equação para comprovar a contradição.
O “Relatório Nacional de Transparência Salarial”, de março deste ano[6] confirma que, nos cargos de liderança, as mulheres ganham 19% a menos que os homens no Brasil. Sendo que esta diferença pode chegar a 25,2%. Mesmo sendo lei (Lei 14.611 de 2023)[7]. Contudo, leis não fiscalizadas não apresentam resultados, embora seja uma evolução. Os empresários têm consciência de que as organizações com igualdade de gênero rendem melhores lucros. Mas o machismo, estrutural ou não, ainda é muito mais forte.
A grande contradição é, se somos necessárias, lucrativas, mais baratas, mais preparadas e temos uma lei que nos defende, por que ainda somos a minoria? Como podemos chamar isso? Burrice? Ignorância? Machismo? Todas as opções estão corretas?
Mesmo sendo um investimento menor para resultados melhores no sistema capitalista, muito empresário não nos quer por perto. Certamente não concordo com sermos mais baratas. Se trata apenas de uma observação. E, refletindo sobre detalhes, nossas oportunidades e salários deveriam até ser maiores. Nosso investimento é maior. Tanto acadêmico quanto operacional. Investimos mais e recebemos menos. Mas nosso propósito é a igualdade de gênero. Não a superioridade.
Particularmente não tenho mais paciência com frases como “adoro trabalhar com mulheres” ou, “já tive chefe mulher e não tive problemas”. Seguem a mesma linha do “não sou racista, tenho até um amigo negro”. Ninguém nunca me perguntou se preferia ou se gostava de trabalhar com homens. Nunca tive esta opção.
Igualdade de gênero, não é guerra dos sexos. Não somos contra os homens e reconhecemos os talentosos. Somos a favor do reconhecimento da igualdade de talentos com os mesmos salários, benefícios e oportunidades.
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Se é melhor para as empresas, porque não experimentam? Algum receio?
Lembro de uma campanha do direito na qual muitos carros eram adesivados com a frase “consulte sempre um advogado”. Penso que precisamos de uma campanha “CONSULTE SEMPRE UMA MULHER”!
[1] Aula PFCC22 Board Academy Eduardo Gomes em 28/05/2024.
[2] Disponível em: Mulheres são 25,3% dos conselheiros no Brasil - Forbes Acesso em: 31/05/2024.
[3] Disponível em: Networking é obstáculo para mulheres ocuparem conselhos de administração, diz pesquisa | CNN Brasil Acesso em 31/05/2024.
[4] Disponível em: Revista RI • Nº 281 • MAI 24 • ONDE ESTÃO AS MULHERES CONSELHEIRAS DE ADMINISTRAÇÃO? Acesso em 31/05/2024.
[5] Disponível em: Quem são as mulheres que chegam aos conselhos no Brasil – WCD (wcdbrasil.com.br) Acesso em 31/05/2024.
[6] Disponível em: Mulheres ganham 19% a menos do que os homens no Brasil: machismo ainda existe nas empresas ou é só mimimi? - IstoÉ Mulher (istoe.com.br) Acesso em: 31/05/2024.
[7] Disponível em: Igualdade salarial entre homens e mulheres agora é lei e vai doer no bolso, diz Tebet | CNN Brasil Acesso em 31/05/2024.
Neuropsicopedagoga | Especialista em Aprendizagem | Reabilitação Cognitiva | Assessora de bem-estar | Terapeuta de Famílias e Casais
9 mMuito bom Denise!