Conservadorismo e Bolsonarismo
Assim como Sócrates exigia que as pessoas se despissem de seu pré-conhecimento e pré-conceito para obter o verdadeiro saber sobre as coisas, o primeiro passo para compreender o que é conservadorismo é ignorar quase que totalmente o discurso político brasileiro sobre ser conservador. Ressalvados um ou dois políticos, a maior parte somente reproduz noções infantis sobre.
Se você já fez isso, soará natural dizer que o conservadorismo não é a coisa de tiozão com foto de óculos de sol dentro do carro. É muito mais relevante do que podemos imaginar para a noção de progresso e estabilidade. Arrisco dizer, em uma certa dimensão: todas as pessoas são um pouco conservadoras.
A melhor forma de compreender conservadorismo é compará-lo aos movimentos reacionários e revolucionários, tomando como termômetro um acontecimento novo, ainda que cotidiano. Vamos usar os carros elétricos como exemplo.
Os revolucionários recebem os carros elétricos como uma agenda positiva, a qual deve ser espalhada em substituição dos modelos anteriores. Os reacionários se comportam de forma inversa, desprezando a novidade e aspirando o antigo.
Os conservadores não tem uma decisão pronta: não descartam o novo do dia para a noite, mas não terão problema em recebê-lo ao longo do tempo, com naturalidade, sem provocar um choque de mudanças.
Essa anedota serve para explicar que o conservadorismo não é a ideia de que o passado era melhor e de que as noções primitivas de qualquer assunto, seja legalização de drogas, aborto e armas, devem ser afastadas de discussão. Muito pelo contrário, ser um conservador é pôr a discussão à mesa, mas sem o fervor de ver na novidade algo necessariamente bom.
Essa diferença é muito importante para distinguirmos quem é conservador de quem é reacionário: o conservadorismo não é amar o antes, mas ter cuidado com o depois; o reacionário ama o passado incondicionalmente. Nostalgia é o que os separa.
Dito isso, podemos afirmar categoricamente que Bolsonaro é um homem conservador? na acepção técnica, não. Quando demonstra certa nostalgia por aspectos centrais do período militar e questiona novidades com olhos de saudade para o passado, não para intercambiar as duas épocas, me parece que o Presidente da República é um reacionário. Ao menos em seus principais pontos de vista.
Um bom resto de semana para todos.