Resultados da primeira pesquisa de Mestrado (UTFPR) com consultor organizacional e sua saúde mental.
Ana Silvia Alves Borgo - Psicóloga Organizacional e do Trabalho CRP 08/03162

Resultados da primeira pesquisa de Mestrado (UTFPR) com consultor organizacional e sua saúde mental.

Após 13 anos no mundo corporativo como gestora de RH, em 2001 escolhi iniciar minha carreira como consultora organizacional, com ênfase em Desenvolvimento Humano e Organizacional, em 2016 a partir do Mestrado tenho me dedicado aos estudos, pesquisas, docência e intervenções em Saúde Mental no Trabalho com diagnóstico organizacional dos riscos psicossociais, capacitação de lideranças, clínica psicodinâmica do trabalho (grupos e individual) e outras intervenções.

No Mestrado em Administração, na linha de pesquisa: tecnologia de gestão, trabalho e organizações (UTFPR- Campus Curitiba), um dos meus objetivos, além de me atualizar, era refletir sobre questões relacionadas a minha atividade profissional como consultora.

A Dissertação e as Referências, citadas neste texto, poderão ser acessadas no link, abaixo:

Na minha Dissertação Os efeitos da interação com a organização-cliente, na subjetividade do consultor organizacional, defendida em agosto de 2018, pesquisei como a relação com a organização-cliente afeta a subjetividade do consultor organizacional.

A definição deste tema foi motivada, principalmente, pela leitura do ensaio teórico Consultores de Mercado, sua Lógica Perversa de Gestão e Normopatia dos autores Mendes e Saraiva (2014), que chamam a atenção para a ausência de pesquisas, que possibilitem o estudo e aprofundamento da relação entre organização-cliente e consultor, e as consequências para a saúde mental deste.

A minha pesquisa teve como objetivo: investigar quais os possíveis efeitos da interação com a organização-cliente na subjetividade do consultor organizacional em seu trabalho, em que pese os aspectos relacionados ao prazer e sofrimento.

O objeto de estudo foi o consultor organizacional da área de treinamento e desenvolvimento de pessoas. As consultoras pesquisadas trabalhavam como autônoma ou eram microempresárias, atuando em consultoria organizacional com ênfase em Treinamento e Desenvolvimento de Pessoas, sendo 90% psicólogas.

A fundamentação teórica da pesquisa foi a Psicodinâmica do Trabalho, que entende o trabalho como um lugar que pode ser tanto da saúde quanto da patologia, tanto do sofrimento quanto do prazer, sendo apresentado sempre com duplo papel: o trabalho pode ser estruturante como também pode adoecer, pode promover dignidade como também pode deteriorar e ser alienante (DEJOURS, 2011). Abaixo, o vídeo com um entrevista com o médico e psicanalista francês Christophe Dejours, que elaborou a teoria da Psicodinâmica do Trabalho.

Na minha pesquisa, as técnicas de entrevista individual e Grupo Focal foram utilizadas para a coleta de dados, que foram analisados por meio da Análise de Conteúdo segundo Bauer (2002). As falas das pesquisadas definiram as seguintes categorias de análise: organização do trabalho, condições de trabalho, relações sociais de trabalho com cliente e com parceiros, vivências de prazer e sofrimento no trabalho e estratégias defensivas.

Segundo as entrevistadas, a principal motivação para escolherem a consultoria foi a busca pela autonomia. No entanto, no real do trabalho, a maioria depara-se com controles na relação com a organização-cliente, que tenta estabelecer uma relação de subordinação com a consultora, desde querer conferir os slides das apresentações de um treinamento, até solicitar que “dêem um recado do RH”, nos grupos de treinamentos.

Sofrimento no Trabalho

Esta realidade gera sofrimento psíquico nas profissionais e por meio de estratégias defensivas individuais como a negação e a racionalização, procuram distorcer a percepção da realidade, evitando assim contato com o sofrimento. No entanto, estas estratégias podem se esgotar e levar ao adoecimento.

As profissionais vivenciam o sentido e o prazer no trabalho quando recebem o reconhecimento (utilitário) da organização-cliente e/ou reconhecimento (estético) dos parceiros ou colegas de profissão. Que contribuem para a construção da identidade social e dá sentido ao trabalho das consultoras. Entretanto, verificou-se, que a necessidade de reconhecimento, leva algumas consultoras a estabelecerem um jogo de sedução com a organização-cliente, estabelecendo uma relação de servidão ou de quem está “sempre em débito” com o cliente.

A inconstância do trabalho e da remuneração, que por vezes as colocam numa condição próxima a do desempregado, também são vivências, que geram sofrimento psíquico nas pesquisadas. Verificando estratégias de enfrentamento por meio do sofrimento criativo (por exemplo: na criação de novos projetos, parcerias e/ou busca de novos clientes, de alternativas para divulgação do seu trabalho, entre outros); ou, no uso de estratégia defensiva de racionalização, que levam as consultoras à sujeição, com a anulação de seu poder e de sua subjetividade para ter a garantia da sobrevivência e da segurança.

Nesta pesquisa, foi possível verificar e apresentar alguns dos efeitos que a interação com a empresa cliente, no trabalho, produz na subjetividade do consultor organizacional. Havendo o risco das consultoras se alienarem, com o agravamento do sofrimento, podendo chegar a descompensação e a uma crise de identidade, caso as estratégias defensivas se tornem ineficazes. Alguns sinais já estão sendo percebidos por algumas entrevistadas, quando relatam a necessidade de retornar ao processo analítico ou psicoterápico, bem como alguns relatos de somatizações (adoecimento).

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Nas Considerações Finais, destaco a fala de uma das participantes, durante o Grupo Focal, que expressa um dos grandes desafios dessas profissionais. A busca pela autonomia foi um dos principais motivos pela escolha de ser consultora, mas diante dos constrangimentos da organização do trabalho a possibilidade de manter sua integridade e saúde mental será: “sem abrir mão tanto de si”(P5). Ou seja, preservar sua identidade! Uma vez que, segundo Lancman e Sznelwar (2004, p.14) “o trabalho é um elemento central na promoção do desenvolvimento psíquico e da constituição da identidade”, e o adoecimento mental resulta da crise de identidade!

Além do desafio de não se despersonalizar, há um outro constatado na pesquisa, que a autonomia é uma ilusão, a denominação “profissional autônomo” não condiz com a realidade.

Para ajudar estes profissionais a se desenvolverem, atingirem seus objetivos e cuidar de sua saúde mental no trabalho, tenho me dedicado, também, a mentoria para Psicólogos Organizacionais e do Trabalho e para Consultores.

O vídeo, abaixo, foi gravado durante a primeira parte do workshop, que realizei para Psicólogos Organizacionais e do Trabalho.

Ao finalizar este artigo, espero que contribua para que a organização-cliente e o consultor organizacional estabeleçam um relacionamento que promova a saúde mental no trabalho de todos os envolvidos.

Ah! E não esqueça de registrar sua reação a este artigo e se possível deixar os seus comentários, ficarei grata!

Um abraço e até mais!

Ana Silvia Alves Borgo

anasilvia@faktorconsult.com.br

(41)99671-6135


          

 

 

Liliane F F Dias Cadamuro

Consultora na Cadamuro & Cadamuro Desenvolvimento Ltda.

3 a

Parabéns! Muito Sucesso!

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