Consumo consciente e transformação
Se o que vestimos é a expressão de quem somos ou quem queremos demonstrar ser, por que não transformar aquele momento em alegria e satisfação? No meu caso, a satisfação estava em encontrar uma forma de usar o que eu já tinha ao invés de comprar coisas novas. Senti que precisava resolver o impasse do “com que roupa eu vou” de uma vez por todas e a maneira mais óbvia era parar de consumir e fazer escolhas conscientes. Porém, isso não seria uma mudança fácil.
Ao longo da minha vida de compradora compulsiva acumulei muito, sempre por impulso ou pela sensação de oportunidade imperdível, do tipo “compre 2 e leve 3”. Quem nunca? Senti que precisava mudar essa realidade.
A primeira coisa que me chamou a atenção foi que eu tinha uma imensidão de roupas e apenas um corpo para usar aquilo tudo. Mesmo assim, na minha cabeça, sempre parecia que eu não tinha nada para vestir. Olhar para meu guarda-roupa lotado e perceber que usava efetivamente menos de 50% dele foi muito impactante. Foi aí que tomei a iniciativa de mudar a minha vida e a forma como eu consumia. Aquele guarda-roupa lotado de roupas e sapatos me incomodava, queria aprender a viver com menos e a reaproveitar as peças que eu mais gostava. Mas por onde começar?
Então, lembrei que alguns anos atrás havia feito um brechó com as peças que eu não usava mais e tinha sido um sucesso. Além de liberar espaço para roupas novas eu ganhei um dinheirinho extra. Era isso!
O desapego inicial, confesso, foi bem difícil e sofrido, mas eu precisava disso porque a minha forma de pensar já não combinava mais com aquele estilo de compradora compulsiva. Estava disposta a ser mais consciente nas minhas escolhas e nos meus gastos, aprender a viver com menos.
O primeiro passo foi olhar cada peça e avaliar a quanto tempo eu não utilizava mais. Separei todas que eu já não usava há mais de dois anos, algumas ainda com a etiqueta, e também uns 95 pares de sapatos. Um pacote destinei para doação e outro para comercializar no meu brechó. E assim, criei o “Brechó Foi Meu”, com um perfil no Instagram e uma página no Facebook, onde eu comercializo as peças que eu não uso mais, seja porque não servem ou porque realmente enjoei daquele look.
Em janeiro de 2018, me lancei um desafio de ficar seis meses sem comprar nenhuma peça de roupa nova e aprender a viver com o que eu já tinha, que não era pouco. Fiz um inventário das minhas roupas e uma planilha financeira, queria economizar e zerar qualquer tipo de gasto desnecessário. Esse desafio também está me ajudando a adquirir novos hábitos como utilizar a bike como meio de transporte, voltar a ter a cor natural do meu cabelo, frequentar a academia diariamente e também buscar uma alimentação mais saudável. Acredito que uma transformação levou à outra de forma natural e isso me deixa muito animada para novas mudanças de vida.
Toda essa transformação também revolucionou a minha vida profissional. Pude perceber que a atitude que me fez repensar e ser uma consumidora mais consciente poderia ser aplicada no dia a dia dentro da empresa. Me ajudou a ser mais organizada, mais assertiva, a jogar fora o que não servia e a reciclar o que podia ser reaproveitado. Além de implantar ferramentas tecnológicas que facilitam o meu dia e de toda a equipe da Vocali e nos ajudam a ter uma produtividade melhor. E isso pode ser aplicado a rotina de qualquer empresa.
Ainda estou em processo de transformação, mas já posso dizer que isso é muito libertador e quando por acaso eu passo em frente a uma vitrine em promoção, lembro que se eu desistir vou ter que começar do zero. Também penso em tudo que já me arrependi de ter comprado e como aquele desapego foi dolorido. Penso também no dinheiro jogado fora com compras por impulso e percebi que vale a pena analisar estrategicamente o que adquirir, quando se tem uma meta a ser cumprida. Todos esses pensamentos, junto a um grande “preciso mesmo disso? ”, ficam ecoando na minha cabeça e logo a vontade de comprar passa a ser cada dia menor. O desejo consumista foi substituído pela vontade de realizar um sonho que é conhecer Londres.
Priscila Borges - Gestora Financeira