Convites para bocas-livres são algumas das vantagens da profissão de jornalista
Ilusões perdidas
O jornalista Emildo Coutinho, editor desta Folha Curitibana, conta fatos de sua experiência profissional desde os tempos da formação acadêmica. Os textos serão publicados na versão impressa e também na fanpage do jornal, no Facebook, e em sua página pessoal no LinkedIn.
Uma das vantagens em ser jornalista — vamos falar de algo mais alegre desta vez? — são os convites para as “bocas-livres”. Há, também, presentinhos, mimos e agrados como canetas, blocos de anotações, agendas e alguns produtos que, não raro, acompanham press kits que almejam conquistar espaços mais certeiros nas publicações. Já recebi despertadores, lentes para celulares, pendrivers, cargas extras para celulares, maionese e muitas, muitas canetas e blocos, afinal, estas são ferramentas de trabalho.
Ah, vez ou outra, há as viagens. Wow! Estas são os melhores agrados. Mas, aqui, vou focalizar nas bocas-livres mesmo. Creio que os outros mimos podem gerar futuros assuntos para esta famigerada coluna.
Alguns dizem que tais coisas não são éticas. Mas há ética em nossa imprensa? Ora, se não há ética no Congresso Nacional, no Senado e no Supremo Tribunal Federal por que haveria no chamado quarto poder? São todos “podres poderes”, como disse Caetano.
Se o cliente, através das assessorias de imprensa, não oferecer um almoço, jantar ou café da manhã bem reforçado não haverá os esfomeados e sedentos jornalistas e fotógrafos nos eventos para contar a história. Ninguém é hipócrita, todos sabem disso.
Jornalistas e fotógrafos ganham pouco. Estes menos ainda! Para muitos essas são as únicas oportunidades de se comer fora. Nos eventos em que tenho ido sempre vejo as mesmas figuras, ansiosas pela chegada do prato.
No último em que compareci — um jantar regado a muita cerveja oferecido pela Frente Parlamentar da Indústria Paranaense de Bebidas — levei comigo a digníssima, afinal o convite se estendia a um acompanhante e, além do mais, ela é colunista e revisora desta Folha Curitibana; como estudante de Letras, está no meio, já vive o drama de nossa vida profissional. E, claro, já estamos casados há quase duas décadas e, quando disse o sim, eu já era jornalista. Too late, baby!
Provei, praticamente, de todas as cervejas feitas no Estado do Paraná. Só não enchi a cara porque no dia seguinte teria que levantar muito cedo para dar aulas de inglês, para complementar os ganhos, além de ter que pegar meus pimpolhos na casa do sogro.
De quebra, conheci um enófilo — que sentou em nossa mesa — e, após “contar suas viagens e as vantagens que ele tinha” (Chico Buarque em Terezinha), dar um cartão do Indústria & Comércio e se oferecer para ser colunista desta Folha eu disse que já tinha trabalhado no referido jornal. Não deu muita atenção, afinal, estava lá para vender seu peixe. E usufruir da boca-livre, claro.
Emildo Coutinho é jornalista, fotógrafo, professor de inglês e editor da Folha Curitibana. Com 24 anos de profissão, formou-se em 1992 pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG); atuou em diversos jornais e outros meios de comunicação de massa de Curitiba e no jornal norte-americano Beltsville News, em Washington D.C., Estados Unidos, onde foi colunista. Atualmente também cursa Letras Inglês-Português; emildocoutinho@gmail.com