Corpo e o Movimento. O que você precisa saber.

Corpo e o Movimento. O que você precisa saber.

É importante dissociar o movimento como uma mera atividade física ou um simples treinamento. O movimento em si é um estado, por isso é preciso de um sujeito ou algo que o antecede, possibilitando assim, a decorrência de tal fenômeno. Como um estado latente, ele nos rodeia, em ações, pensamentos e desejos, e se analisado através de uma dicotomia simples, relacionando com o tempo, ele assume a posição de aliado ou de inimigo, para nós, meros mortais. No livro 2 de Aristóteles, o filósofo conceitua o movimento, relacionando-o aos entes que em si e por si mesmos possuem a capacidade de se mover e repousar. Ainda, reafirma no mesmo livro que a natureza é princípio de movimento e mudança. A partir disso, podemos concluir que o movimento é algo natural, está fora e dentro do ser como expressão, seja na arte, no esporte, na cultura, atingindo afetos particulares, à racionalidade e sentimentos.

Dentro da arte, é possível aproximar-se desse conceito filosófico com mais clareza. O educador físico Jacques Lecoq, ficou conhecido por seus métodos de ensino baseado no Método Natural elaborado por Georges Hébert, onde reuniu a educação de corpos e arte no ambiente teatral. Entre diversos aspectos possíveis entre a pedagogia lecoquiana e a hebertiana, está a compreensão do gesto:

“O gesto natural é, em uma palavra, o mais econômico. A lei do menor esforço atua constantemente durante sua execução. Se atendida esta condição de economia de esforço ou de utilidade estrita, o gesto natural é ao mesmo tempo o mais estético. Todos os gestos dos principiantes, dos sujeitos inexperientes ou não completamente aperfeiçoados, são desajeitados, desordenados e deixam mesmo aos olhos uma impressão penosa por causa de sua sobrecarga ou complicação feita de contrações inúteis. Só os gestos nos quais nada parece supérfluo suscitam uma admiração instintiva. (HÉBERT, 1941, p.350)7.

Os profissionais que trabalham com o movimento, estando diretamente ou não ligados à saúde, precisam analisar minuciosamente quais as formas e protocolos de abordagem, antes de iniciarem qualquer intervenção sobre os corpos. Na cultura e filosofia ocidental, é muito comum o estilo de ensino diretivo, onde protocolos fechados e hierárquicos são empregados, deixando de lado todo o desenvolvimento intrínseco do ser e acabam excluindo qualquer possibilidade de exploração e capacitação do autoconhecimento do praticante, que só permitem assim, mudanças efetivas e duradouras através de um protocolo bem adotado. Antes mesmo de um ótimo resultado, é o caminho e o processo que foram permeados, protagonizando importantes elos que foram constituídos no trabalho realizado pelo profissional, em conjunto com o praticante. Trabalhar o movimento corporal na sua totalidade, é permitir de forma ampla a conexão entre corpo e mente em um âmbito monista, trazendo cada vez mais próximo os movimentos naturais, colocando em ascensão as potencialidades desse corpo.


REFERÊNCIAS

1- PUENTE, Fernando Rey. Por que o movimento é a essência da natureza?. Kriterion,  Belo Horizonte,  v. 51, n. 122, p. 505-519,  Dec.  2010.

2- SCHEFFLER, Ismael. Em busca de um gesto perdido: de Paul Bellugue a Jacques Lecoq. João Pessoa, V. 11 N. 1 jan-jun/2020

3- WYLIE, Laurence. A l‘école Lecoq j‘ai découvert mon propre clown. Revue Psychologie, Paris, n. 43, p. 17-27, ago. 1973.

Rodrigo Hisgail de Almeida Nogueira

Physical Education Teacher - primary and secondary years. São Paulo City Hall (CREF 163359)

4 a

Abordagem excelente para o movimento na vida.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Lucas Horugel

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos