Covardevirus

Covardevirus

Há 25 anos deixei de ser apenas jornalista para tornar-me um profissional de live marketing e brand content, termos em inglês que designam atividades promotoras de experiências com marcas, serviços e produtos.

Dessas atividades a mais frequente para mim é a de criar e realizar eventos corporativos, oportunidades nas quais as empresas reúnem, ou apoiam reuniões de pessoas, para de alguma forma proporcionar a elas experiências memoráveis que se relacionem com a personalidade e valores tanto delas quanto dos anunciantes.

E se há uma lei universal para esse tipo de atividade é o zelo pela segurança. Nenhuma experiência vale o risco de uma vida, nenhuma estratégia de comunicação pode pressupor margem a ocorrências que comprometam a saúde e a segurança do público.

Porém, se há irresponsabilidade na negligência, há igualmente acontecimentos fortuitos que nem o melhor planejamento pode prever. Impossível estarmos todos dentro de uma bolha inexpugnável.

No limite, diria que ninguém nunca está 100% a salvo e seguro, embora todos os esforços devam ser feitos para nos aproximarmos ao máximo desse número em nossas respectivas atividades pessoais e profissionais.

Daí a sair em manada cancelando eventos com a justificativa do coronavírus vai uma distância colossal. Nos últimos dias, reproduzindo atitudes que tem ocorrido em países fortemente afetados pela epidemia, como Itália, Israel e países asiáticos, empresas brasileiras (puxando a fila operações brasileiras de companhias transnacionais) tem cancelado convenções, seminários, participação em feiras de negócio e ativações de patrocínio.

Num país com 25 casos confirmados da doença, e nenhuma morte, no qual as autoridades tem agido com surpreendente equilíbrio (em se tratando do governo de turno), tomar atitudes como essas, causando imediato e praticamente irremediável prejuízo a hotéis, companhias aéreas, empresas de transporte, agências de live marketing e seu rol de fornecedores, é açodamento e, vá lá, certa demonstração de espírito colonizado.

Lógico que nenhum CEO, CMO, CFO, CIO, COO quer ser responsável por apoiar a realização de um "evento" no qual alguém "eventualmente" contraia o vírus. Porém se isso é uma hipótese remota, a chance dessa atitude provocar prejuízos a empresas e profissionais é de 100%.

Então eu salvo o meu lado aqui, faço pose de correto, cuidadoso e movido pelas pessoas, cancelo tudo (o CFO esfrega as mãos comemorando o "saving") e todo um segmento de alta performance, que emprega milhões de pessoas e movimenta dezenas de bilhões de dólares no país vai a bancarrota.

Como diz de maneira divertida uma amiga, "É isso, produção?"

O mundo, a começar pelos cidadãos quando no papel de eleitores, parece ter caminhado para uma gigantesca quinta série. Falta maturidade, responsabilidade, empatia, ousadia e certa dose de inteligência.

Por isso, caro C-Level com poder de decisão, não coloque nunca pessoas em risco. Se a situação mudar e as autoridades de saúde do país recomendarem, não hesite em cancelar (postergar seria menos pior) seus eventos. Antes disso, porém, jogue o jogo, pondere, reflita, mas não abra mão de uma ferramenta tão poderosa para os resultados de sua companhia, que no final do dia são importantes não apenas para os acionistas, mas também para os empregados, suas famílias, os fornecedores e toda a cadeia produtiva de alta energia e performance do live marketing.

O número de contaminados no Brasil certamente irá subir, talvez muito. Pessoas morrerão, e isso é devastador. Mas os índices de letalidade seguirão baixos, dizem os especialistas (os de verdade, não os doutores em todas as disciplinas que intoxicam a internet). Poderia bancar uma aposta que ao final desse ciclo da doença haverá menos brasileiros mortos por coronavírus do que motoboys acidentados na cidade de São Paulo no mesmo período.

Quer ajudar e ser legal mesmo? Lave bem as mãos, várias vezes ao dia, e estimule todos que vc influencia a fazerem o mesmo. Proteja os mais velhinhos. Os índices de letalidade do coronavírus em pessoas com mais de 70 anos são consideráveis. Aja sempre com equilíbrio e buscando informação qualificada, preferencialmente oficial. E nada de estoque de máscaras e álcool em gel.

Desejo a todos uma implacável contaminação por coragemvírus.




Andrea Duque

Especialista em Comunicação Corporativa e Autogestão & Palestrante | Facilitadora de Palestras e Treinamentos | Transformando Líderes Através de Estratégias Humanizadas

4 a

Muito bom Wilson, bom sendo é imprescindível neste momento... minha sensação é igual quando entramos no mar e uma onda nos pegou de surpresa e somos levados para aquela direção sem poder fazer nada até que ela diminua a intensidade ...  

Juliana Teixeira

Visual Communications | Visual Law na Chiquetto Comunica

4 a

Desculpe Wilson, mas esse também era o pensamento aqui na Itália quando estávamos com pouco menos de 40 casos. O mote foi de "Milano non si ferma" a "Tutti a casa" em poucos dias. Isso porque, obviamente, parar gera um prejuízo absurdo, em diversos setores. Claro que devemos nos informar, o problema não é só a letalidade do Corona. Mas com os hospitais cheios, o sistema de saúde em colapso, outros problemas de saúde pequenos acabam sendo muito mais problemáticos. Enfim, eu estou na Itália, vivendo de perto a gravidade da situação, cuidado e ponderação é tudo que pode ser feito nesse momento.

Libia Macedo, CEM

Professora, produtora & Consultora Eventos e Esportes/Teacher & Consultant Events and Sport Area | @DicaEvento

4 a

Adorei a pegada do texto e The show must go on. 

Adriana Giglio

Gestão Estratégica de Eventos | Fundadora Bold Eventos Estratégicos | Ex-Endeavor Brasil, Ex- Latitud

4 a

Nossa, ta bem difícil. Palestrante de área não afetada cancelando vir pro Brasil. Viagens inteiras canceladas para destinos não afetados.

Claudia Debes

Executiva de contas sênior - Muzik Pro

4 a

Perfeita reflexão!

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