Covid 19 - A hora de meter a carne toda no grelhador sem juntar os ovos todos no mesmo cesto
Depois de absorvido o impacto da pandemia, nomeadamente em matéria de abrandamento brutal do volume de transacções, urge ponderar the day after. E dessa ponderação urgente, ontem já era tarde, dependerá o futuro do ofício de consultor imobiliário. Para muitos, senão a maioria, esse futuro tem de acontecer a curto prazo e passa, se necessário, pela reinvenção do negócio, nomeadamente em matéria de estratégias alternativas de abordagem aos clientes.
Uma aposta imediata, instintiva, de qualquer pessoa ou empresa deste ramo é a que incide nos meios informáticos ao dispôr. Novas formas, mais eficazes, de manter ou criar um elo de ligação aos clientes já estão a ser equacionadas com base no que a tecnologia disponibiliza para o efeito. Contudo, se para profissionais com muitos anos de presença no mercado e uma carteira de clientes variada e consolidada a comunicação à distância poderá atenuar de alguma forma as perdas, para os que se viram apanhados pela crise no início da sua actividade o dia de amanhã é uma absoluta incógnita. A prospecção, fonte primordial de novos contactos, vive de iniciativas acima de tudo ligadas ao contacto pessoal.
Numa altura em que desconhecemos a duração do problema, mas já com uma noção do rasto que deixará ao nível das limitações no contacto pessoal, é fácil de prever uma (ainda) maior renitência por parte das pessoas em aceitarem flyers que lhes sejam entregues por mãos ou mesmo deixados nas caixas de correio. Da mesma forma, o bate-porta terá, pelo menos nos primeiros meses, menor receptividade e poderá até ser entendido de forma hostil. O próprio posicionamento padecerá das limitações impostas por razões de saúde pública, somadas à normal hesitação das pessoas em se aproximarem o bastante para ouvirem alguém que fala por detrás de uma máscara.
No fundo, as principais ferramentas de criação de proximidade física com potenciais clientes estão extremamente condicionadas ou mesmo fora da equação. A aposta na informática, tal como se verifica com o investimento em publicidade convencional, não tem como compensar estes factores, bastando olhar para o peso da mesma no período pré-Covid 19. Por outro lado, o risco da aposta massiva nas soluções informáticas não afasta apenas a maioria dos novatos de hipóteses reais de sucesso. Pode, no futuro, tornar dispensável a própria intervenção de consultores no negócio.
Receio, por tudo isto, a concentração generalizada de esforços na busca de soluções para remediar à distância, porquanto seja legítimo e compreensível recorrer às mesmas com maior afinco, quando se afigura razoável aplicá-los na busca de alternativas inteligentes e sensatas e na criação/adaptação de meios para privilegiar o contacto pessoal que, em última análise, nos justifica a função.