Crônica: As atuais serenatas de amor

Acordo indignada com a fragilidade do homem. Todo dia. Vivo na era em que a tecnologia é quem comanda atos diários de todos os cidadãos e, por isso, e, com isso, escolho me deixar levar a gastar tempo com os olhos fixos à tela e, similar a uma sensação de jogo de sorte, sigo rodando meu feed na expectativa de, em algum momento, encontrar alguma informação de sorte. Falho todas as manhãs. Hoje, em específico, reparei num mísero detalhe desse cenário: o dia posterior à data comemorativa capitalista cujo nome dado foi: Dia dos namorados.  

De tantas vezes que atirei meu dedo à sorte do feed, só consegui enxergar uma competição (da qual, inclusive eu participei) entre casais: quem ama mais? Quem tem a fotografia mais bonita? (OBS.: nesta semana, um aluno me corrigiu ao dizer a palavra “fotografia” em aula; e a fala dele foi: “professora, as pessoas não falam mais ‘fotografia’; elas falam ‘foto’ só, tenta!”) Quem fez a declaração mais bonita? Quem casou? Quem é apenas namorado? Quem ganha no tempo de relacionamento?  

Consegui enxergar essa competição efêmera e tão superficial num local virtual. Confesso que participei dessa competição pela manhã de ontem, e também devo ressaltar que meu sentimento pelo meu marido é frágil mas não efêmero. Mas devo confessar que ontem fui outra pessoa. Hoje, me permiti amanhecer diferente do qual havia amanhecido. Acordei. Tomei meu café da mesma forma. Decidi começar a praticar yoga pela manhã (apesar de já ter tentado mais de 10 ou 12 vezes na vida). Pratiquei. Li algumas páginas do meu livro atual. Gastei 5 miseráveis minutos para compreender essa fragilidade.

E me questiono: qual necessidade desse ato? Será que encaram similarmente a uma serenata de amor? Valha-me! Prefiro serenatas…  

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