Criando sobre o criativo
Essa semana recebi um dos desafios mais interessantes nos últimos tempos, uma empresa júnior da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), sendo mais específica a Ayra, me convidou para dar um treinamento de processo criativo. O grande “point taken” era que ao final desse treinamento os participantes, mesmo não sendo publicitários, especialistas em criação, conseguissem preparar uma comunicação eficiente e pensar em materiais gráficos interessantes para os clientes do Plano de Marketing Digital.
No cenário em questão me vi com dois grandes desafios; O primeiro fazer alunos de economia, administração e contabilidade, trabalharem o lado da criatividade, como alguns kwnoledges do assunto falam: O lado direito do cérebro. E o segundo falar sobre algo novo, que eu particularmente havia negligenciado durante a minha carreira profissional inteira, o processo criativo.
Agora eu precisava montar a estrutura do treinamento, coletar referências, levantar dinâmicas e outros recursos que me ajudassem a transmitir o conhecimento para eles de forma fluída e natural. Assim, pesquisei durante uma semana inteira sobre o assunto, coletei bons insumos, esbocei alguns modelos de treinamento, conversei com diversas pessoas ao meu redor e acredito ter encontrado pessoas segmentadas em três grandes perfis: pessoas analíticas, criativas ou apegadas ao seu.
Obs: batizei esse último grupo assim, pois me deparei com um perfil de pessoa que apresenta um grande potencial para desenvolver a criatividade e trabalhar boas ideia, mas que ao mesmo tempo são muito apegadas às suas próprias ideias e muito reativas a feedbacks.
De qualquer forma, acabei navegando muito, mas sem chegar a nenhum lugar. Por exemplo, não consegui chegar à conclusão de que algumas das ineficiências vêm, de fato, da divisão entre lado direito e esquerdo do cérebro.
E aí me questionei: será que realmente existe essa divisão de perfil ou seria apenas mais uma convenção na qual escutamos desde cedo e acreditamos ser a mais absoluta verdade?
Mas a convenção social faz com que engenheiros achem que “isso é criativo demais para mim” e que os publicitários encarem números como ˜monstros˜. Esquecemos em algum momento da nossa vida que no jardim de infância toda criança, independente da carreira que ela vai seguir adora imaginar algo e desenhar, fazer esculturas de massinha, mas a criatividade dela não está nessas habilidades técnicas, se não eu estaria falando o mesmo do mesmo.
A criatividade da criança está na capacidade de inventividade e olhar algo vazio com potencial de transformar em algo novo. Por exemplo, um economista ao olhar uma análise financeira pode ligar variáveis, que não dizem nada e ter um insight de relacionar duas e ter um resultado muito mais eficiente do que o anterior, essa é a criatividade! Ou até mesmo um profissional de RH, que está tendo um conflito entre dois funcionários e pensa em uma dinâmica nova para unir essas pessoas e funciona, isso é criatividade!
A criatividade por definição é: Originalidade, qualidade da pessoa criativa, de quem tem capacidade, inteligência e talento para criar, inventar ou fazer inovações na área em que atua. Muito do que falamos acima né?
Mas voltando para o treinamento de processo criativo, depois de uma pesquisa sem sucesso vi que teria que criar sobre o processo criativo e nada mais irônico do que ter um bloqueio criativo, enquanto criava a capacitação. Os bloqueios criativos, são aqueles clássicos momentos em que nada se cria, uma hora passa a ter 90 minutos, uma mensagem no WhatsApp do grupo da família já é o suficiente para te tirar todo o foco e fazer você decidir PROCRASTINAR o seu trabalho, quem nunca né? Alguns devem ter se identificado, porque é uma situação 100% normal as vezes até necessária, a ideia já está saturada e quando você volta para o ponto onde estava provavelmente virá com uma visão diferente, ou uma ideia melhor, como a destruição criadora de Schumpeter (para quem não lembra, vou colocar uma colinha aqui em baixo).
O ponto é que 80% das pessoas param de criar quando vem um bloqueio criativo e abandonam ideias com um potencial incrível, imagine quantos produtos, soluções e outras funcionalidades já teríamos se as pessoas voltassem para onde pararam. Mas o mais crítico é que uma parcela, em torno de 10% das pessoas que tiveram um bloqueio criativo acham que isto é sinônimo delas não serem feitas para criar, não pertencerem a área e se desmotivam para a criação e inovação.
No meu caso, o tempo foi o catalisador para TER QUE criar um treinamento sobre o processo criativo, já que mesmo sendo solicitada com 20 dias de antecedência fiz o conteúdo na véspera e montei a apresentação 4 horas antes, procrastinei né? Mas tudo deu certo, e no final do dia, os 24 empresários juniores saíram com sorriso de criança no rosto. Então, o meu primeiro pedido com esse texto é que tratem suas ideias como filhos e não as abandonem, quem sabe elas podem ser o seu maior orgulho no futuro. E mais que tudo uma ideia abandonada pode ser uma porta que você fechou para os seus sonhos. Vamos juntos vencer o bloqueio criativo e colocar em prática tudo o que criamos.
Como fiz de última hora o treinamento, tem uma coisa que sempre acontece nessas situações: Bateu a insegurança de achar que não dominava todo o assunto. Nessa situação, apelei para o uso de dois recursos: quatro doses de café do Starbucks, obrigada por existir e o mais eficiente: me comuniquei na língua dos meus alunos e comecei falando de coisas que realmente interessam a eles. No cenário em questão eram empresários juniores, assim no quarto slide eu apresentei empresas grandes, como Google, Nubank, Stone, Netflix e muitas outras FinTechs que são o sonho de estágio de muitos ali. Comentei que essas são empresas extremamente criativas e buscam independente da área de atuação do seu funcionário, que este seja capaz de inovar, por isso se na entrevista você falar sobre Design Thinking terá um diferencial tão importante quanto saber usar Excel, talvez até mais.
Conforme tinha deduzido 100% das pessoas da sala queriam estagiar nessas empresas e os olhos brilharam ao longo de todo o treinamento, nenhum celular foi pego para olhar no WhatsApp por um bom tempo. Primeira vitória, ganhei atenção e vendi o peixe que estava querendo apresentar para eles.
Bom, ficamos em torno de 40 minutos falando de teoria, pensando em cases criativos do mercado e do mundo das empresas juniores, fazendo Hubs entre a teoria e a prática passamos por todos os pontos, alguns que inclusive já falei acima.
Aí chegou a hora da dinâmica! Para esse momento, criei alguns cases de possíveis clientes, escrevi um Briefing sobre eles e inventei uma situação problema. A grande ideia por trás disso era que eles usassem processos criativos para resolver problemas de clientes, no caso relacionados a comunicação e marketing digital. Busquei quatro processos criativos, que eu considerei mais adaptáveis a realidade da empresa júnior e eles tinham que utiliza-los para pensar em soluções para o cliente.
Resumindo, sem querer ser redundante, tentei criar um processo para o processo criativo deles sobre um determinado cenário. Alguns criativos, irão ir contra, com a prerrogativa que não se criam processos e formatos pré-definidos de como será feita a criação. Mas felizmente eu não ligo muito para enraizamento, nem convenções, optei pelo mais prático e eficiente.
Naquela situação, como era o primeiro contato com um treinamento de processo criativo, escolhi o que com certeza funcionaria, mas no meio do caminho os participantes iam adaptando para que ficasse mais de acordo com a necessidade de cada grupo. Exatamente o que acaba acontecendo na prática das empresas.
Os quatro processos criativos escolhidos foram o Brainstorming, que busca trazer varias ideias criativas e leva a reflexões inovadoras sobre o tema, enfim novas analises. Depois usamos o 6 thinking hats, eu particularmente não conhecia, mas achei bem legal porque cada um assume uma visão sobre o projeto de acordo com a cor do chapéu que está usando. Por exemplo, quem estava com o chapéu preto tinha que apresentar pontos negativos sobre a ideia, já quem usava o chapéu vermelho correspondia a alguém emocionalmente apegado com aqueles insights. A grande ideia por trás dessa dinâmica era fazer com que eles analisassem o cenário revisitando-o com diferentes posicionamentos e assim conseguissem abrir mais a cabeça, seja adicionando ou tirando coisas no projeto final. A terceira dinâmica foi o Mind Map, que fez com que eles pudessem organizar as ideias e ver as possíveis ramificações que elas abrem, trazendo novas ideias. A última dinâmica foi o SCAMPER, que é um processo bem completo de criação que trabalha com a ressignificação de algo antigo para que este assuma um novo significado criativo, a sigla significa na ordem: Substituir, Combinar, Adaptar, Modificar, Por em nova ordem, Eliminar e Reverter.
O pessoal curtiu bastante o treinamento e claramente, como vocês podem ver na foto abaixo, a dinâmica favorita deles foi a 6 thinking hats. Várias ideias foram geradas por eles nos cases propostos. Como exemplo, no case de uma Hamburgueria, no qual um grupo teve a ideia de fazer a quinta-feira do estagiário, para trazer esse público para conhecer o ambiente.
Foi super divertido e acredito que uso das dinâmicas e das ferramentas vão servir como uma aliada para vencer o bloqueio criativo em projetos de Plano de Marketing Digital. Até porque quando se tem clientes, o bloqueio criativo não pode durar muito tempo, pois tem prazo de entrega e tem que atender o que foi desejado pelo cliente, afinal isso é marketing. Criação com realização.
Para encerrar meu primeiro texto, que talvez eu tenha me empolgado no tamanho. Gostaria de agradecer a Ayra por me abrir essa porta para retribuir um pouco por tudo que o MEJ (Movimento Empresa Junior) acrescentou na minha vida e carreira profissional.
Dar um treinamento para uma EJ é sempre uma sensação incrível, que mistura gratidão com alegria, de poder ver cada vez mais gerações empenhadas e motivadas para construir um Brasil mais empreendedor.