A crise da geração Z

A crise da geração Z

Escrevo como uma mãe preocupada porque tenho filhos que estão em vias de entrar no mercado de trabalho.

Como profissional do desenvolvimento humano, participo de fóruns com profissionais de RH e percebo que a geração Z está completamente estigmatizada como sendo uma geração difícil, sem ambição, sem comprometimento.  

O maior equívoco na minha opinião, é julgar os valores da nova geração à partir das lentes das gerações anteriores que estão decidindo as contratações.

Não podemos declarar que os novos valores emergentes tais como saúde mental, flexibilidade, bem-estar, equilíbrio vida pessoal e profissional levem necessariamente à falta de compromisso e ambição. Aliás, esse não é um desejo exclusivo dessa geração.

Esses jovens não compreendem por que devem sacrificar a saúde física e mental para dar conta do seu trabalho.

Eles veem em seus pais o futuro que os espera: pessoas que nunca tem tempo, que precisam de remédios para dormir, que lidam com assédio no trabalho e que estão sempre reclamando da empresa.

Precisamos encarar o fato de que não vamos mais encontrar jovens que reproduzam o modelo mental vigente nas organizações. E isso, não significa que eles não possam ser eficientes e produtivos.

Por outro lado, não podemos negar que essa geração traz alguns desafios que precisam ser entendidos.

Sim, existem competências importantes para o ambiente corporativo que não sendo desenvolvidas dentro do contexto em que esses crianças e jovens estão crescendo.

Ambiente mais virtual que real, alta disponibilidade de conteúdo, cultura do descarte – se não gosto, bloqueio, cancelo. Estes são alguns dos fatores que não favorecem o desenvolvimento das habilidades de relacionamento interpessoal, inteligência emocional, planejamento e controle.

Se considerarmos que boa parte dessa população terminou o ensino médio ou a faculdade em plena pandemia de forma remota, podemos acrescentar ainda mais prejuízos a essa lista.

Reclamar dos jovens da geração Z e não querer contratá-los é um caminho que leva a muitas limitações.

Eu vejo muitas vantagens em contratar jovens para compor o quadro de uma equipe. A primeira delas, é a oportunidade de trazer uma perspectiva nova, sem vieses. Uma página em branco a ser preenchida. Isso é muito bom para o gestor se desenvolver e aprimorar suas habilidades no desenvolvimento de pessoas.

Outro ponto que vejo, é a oportunidade de desenvolver habilidades de liderança nos membros mais experientes da equipe, que podem atuar como mentores desses jovens.

Para os jovens, sem dúvida, a oportunidade de ingressar no mercado de trabalho e fazer parte da população economicamente ativa.

Se reconhecermos esse GAP de competências nessa geração e, como sociedade nos empenharmos, podemos superar esse cenário e minimizar o descasamento entre o que eles tem a oferecer e o que as empresas precisam.

Vejo alguns caminhos:

Pais: melhorar a visão dos filhos sobre a relação com o trabalho, incentivar que os filhos participem de movimentos que ajudem no desenvolvimento dessas habilidades: ter responsabilidades dentro de casa, participar de agremiações na escola, fazer esporte coletivo, mais interações sociais, organizar eventos ou projetos domésticos que reproduzam minimamente a dinâmica corporativa.

Escolas: nunca foi tão importante incluir a formação de competências socioemocionais na grade curricular. O ambiente escolar é perfeito para estimular o fortalecimento da inteligência emocional, colaboração e gestão de conflitos.

Empresas: acolher a diferença intergeracional e promover o desenvolvimento dessas competências através de mentoria e treinamentos não só para os jovens, mas também para os gestores que não estão preparados para lidar com eles.

Jovens: buscar o autoconhecimento e autodesenvolvimento entendendo que o ambiente corporativo tem uma dinâmica própria e que algumas competências são fundamentais para que os negócios e a sociedade prosperem.

Vivenciamos um descasamento entre o que a empresa espera do jovem e que o jovem espera da empresa, mas um precisa do outro.

Vejo que o tema já está em pauta e com boa vontade de todos os envolvidos, vamos encontrar um caminho.

É o que espero como mãe que sempre sonhou para seus filhos uma vida adulta com propósito, autonomia e independência financeira.


Débora Feriozzi

Recursos Humanos - RH| Talent Management| Desenvolvimento de Liderança| RH Estratégico| Business Partner - BP| Universidade Corporativa | Desenvolvimento Organizacional - DHO | People Analytics

9 m

Leila Santos excelente artigo. Tenho um grande incômodo também de como os jovens tem sido retratados. Toda geração, ou seja, todos nós temos pontos positivos e o que evoluir e isso faz parte. Vejo que assim como as empresas estão trabalhando fortemente ações de inclusão, também podem e devem considerar os jovens. Como você comentou, eles não terão o mesmo pensamento de outras gerações. É preciso um entendimento maior sobre o contexto, características, e a valorização dos pontos fortes e, orientação para as oportunidades. Tem um grande potencial sendo “desmerecido”.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos