Crise na Bolívia em 2019?
Estimulado pelo excelente vídeo do canal Em Dupla com Consulta, fui dar uma olhada nos dados macroeconômicos da Bolívia. Os números impressionam. Alguns, de maneira positiva, já outros...
O país vem experimentando taxas robustas de crescimento econômico, com média de 4,3% ao ano 2000 e 2018 (a média aumenta para perto de 4,8% se considerarmos o período de 2004 a 2018):
Gráfico 1 – Taxa de crescimento do PIB (% ao ano)
Fonte: WEO FMI; Elaboração do autor
O crescimento vem sido acompanhado com taxas de investimento que superaram os 20% do PIB desde 2014:
Gráfico 2 – Taxa de Investimento (% PIB)
Fonte: WEO FMI; Elaboração do autor
Esse crescimento econômico, salvo em 2007 e 2011, foi acompanhado por uma inflação em torno de 6%, na média anual, que caiu, recentemente, para o patamar de 3%.
Gráfico 3 – Inflação (média do ano)
Fonte: WEO FMI; Elaboração do autor
Se os números apresentados até o momento mostram uma Bolívia com excelentes indicadores macroeconômicos, o que justifica o título deste texto? Resposta: as vulnerabilidades geradas no processo.
Para sustentar altas taxas de investimento, necessitamos de poupança. Do ponto de vista de domésticos, os recursos têm estado cada vez mais escassos...
Gráfico 4– Taxa de poupança (% do PIB)
Fonte: WEO FMI; Elaboração do autor
...drenados pelo alto déficit primário do governo:
Gráfico 5 – Resultado Primário do Governo (% do PIB)
Fonte: WEO FMI; Elaboração do autor
Portanto, para sustentar as taxas de crescimento (e, principalmente, o nível de investimentos), foi necessário trazer poupança externa. Ao longo dos últimos cinco anos, isso significou um déficit em conta corrente que está acima de 6% do PIB.
Gráfico 6 – Resultado da Conta Corrente (% do PIB)
Fonte: WEO FMI; Elaboração do autor
Uma vulnerabilidade externa dessa natureza em um momento de normalização da política monetária nos EUA, redução da liquidez no ambiente monetário internacional (cujos desdobramentos ainda não entendemos completamente) e escalada de políticas protecionistas e guerra comercial, não é uma boa notícia. Adicione a desaceleração de economias importantes ao redor do globo (cujos impactos acredito que ainda estão subestimados, mas isso é assunto para um outro texto) e o cenário não parece ser muito róseo para a Bolívia. Será necessário um colchão de liquidez advindo das reservas internacionais para acomodar possíveis choques. O problema é que..
Gráfico 7 – Reservas Internacionais (USD)
Fonte: Trading Economics
Acertar se um país vai sofrer uma crise é uma tarefa difícil. Quando, então, torna-se hercúlea. Mas a vulnerabilidade externa da Bolívia me preocupa. Acompanhemos.