A macroeconomia financeira de um capitalismo para o povo
O encontro anual do FMI e do Banco Mundial tem se mostrado uma experiência incrível, especialmente para um professor de finanças internacionais. Participei de três painéis e o que mais chamou a atenção foi que, seja para discutir inclusão financeira, os prognósticos para a economia asiática ou o impacto no mercado de trabalho, um ponto apareceu, às vezes timidamente, em todas as discussões: a importância do mercado financeiro e da política econômica que acomode não apenas as transformações, mas também as oscilações de uma economia de mercado.
No que tange a inclusão financeira, Filiz D Unsal apresentou um trabalho interessante sobre os impactos no crescimento econômico do acesso ao crédito, seja por meio de políticas que reduzam os spreads bancários, ou por meio dos requisitos no colateral de empréstimos, muitas vezes uma barreira mais difícil de transpor do que as taxas de juros. O aumento da inclusão financeira pode possibilitar incremento na produtividade das empresas, o que representa uma oportunidade para as economias no longo prazo, especialmente naquelas que estão em estágio de desenvolvimento.
Outra discussão que presenciei foi sobre os prognósticos para o crescimento no continente asiático. Obviamente, as perguntas orbitaram a guerra comercial, mas foi interessante o ponto de um dos palestrantes em que analisou alterações nos padrões de crescimento da China e que a possibilidade de se voltar ao mercado interno passa pelo preparo proporcionado por mais de uma década incentivando a inclusão financeira e o desenvolvimento do seu mercado financeiro. Em que pesem as possíveis complicações que podem emergir da complicada dinâmica do sistema de crédito fora da rede de proteção tradicional, a China parece ter semeado a mudança no modelo de crescimento também por meio da preocupação com as finanças.
Finalmente, no painel sobre os impactos disruptivos da tecnologia sobre o fator trabalho, há algum tempo que o crescimento econômico tem sido enviesado pela busca de maior qualificação em função dos prêmios ainda existentes no acúmulo de capital humano. A preocupação é que, para acomodar essas mudanças, seria importante que aqueles afetados negativamente não sejam deixados para trás e isso passa, de alguma forma, por desenhar produtos financeiros alinhados com as expectativas e necessidades de qualificação que, naturalmente, vão surgir.
Três painéis diferentes, um sentimento: o mercado financeiro nunca esteve tão presente nas possibilidades de crescimento econômico, em especial em economias que ainda precisam se desenvolver. A macroeconomia financeira deve, cada vez mais, ser alinhada para políticas que levem o capitalismo para mais perto do povo.
Mestra em Economia Empresarial -UCAM/ MBA Gestão de Negócios - IBMEC
6 a👌👏👏