A crise política: entre a  apatia dos representantes e o silêncio das ruas

A crise política: entre a apatia dos representantes e o silêncio das ruas

O Brasil vive uma crise política sem precedentes. Tal frase que não resguarda nenhum tipo de genialidade, traz em si uma questão de fundo importantíssimo, que é causa e consequência da crise que vivemos. Observada pela assunção por parte considerável do establishment político de um autismo relacional sem paralelo, deixará sérios vestígios na história política brasileira.

No curso do tempo, o Brasil tal como unidade política, foi marcado por situações bastante peculiares em termos de formação político-social. Da independência construída via contrato de pai para filho, passando pelo golpe republicano que bestializa a sociedade civil do Rio de Janeiro (sempre gosto de fazer honra ao grande José Murilo de Carvalho) e seguindo pelas revoluções sem povo em 1930 e em 1964, o país sempre foi laureado por um axioma muito simples, no qual política e povo não se misturam.

Porém, a partir de 1988, a Constituição cidadã (lembrando Ulysses Guimarães), criou a percepção e alimentou a narrativa de que o povo era parte importante do processo político. E nesses termos, consolidou-se, por exemplo, toda a lógica que moveu partidos de esquerda, sendo que o Partido dos Trabalhadores (PT) se tornou o mais célebre deles. Em algum sentido, essa narrativa atingiu seu ápice nos anos 2000 - anos Lula - e seu declínio a partir do governo Dilma.

Em termos de gestão administrativa e marco legal, fica bastante fácil compreender as causas do declínio da esquerda como alternativa política no Brasil recente. De outro lado, torna-se assustador o fato de que o establishment político tem atuado no sentido de proteger a si mesmo independentemente de quaisquer categorias ideológicas a que estejam filiados. Desse modo, as proposições que ora se constroem na Comissão Especial, que trata da reforma política, são sintomáticas devido à narrativa de unidade que faz parte do processo decisório, mas são deixadas de lado diante do imperativo de sobrevivência de toda uma geração política.

A emenda Lula, as ilações sobre o voto distrital, as eventuais mudanças e flexibilizações nas regras de fidelidade partidária, como outros elementos derivados das discussões da Comissão Especial, têm como objetivo primeiro dar sobrevida para uma geração política que não compreende mais as necessidades do país e uma sociedade que anseia por ser parte efetiva de um mundo globalizado.

A insensibilidade dos representantes, materializada na sua total incapacidade de entender o seu papel na história, é o maior elemento de risco para a democracia brasileira. Nossos representantes vivem um dilema de Poliana às avessas, no qual a distorção da realidade para a defesa de interesses próprios nos condenará a um período enorme de atraso em todas as agendas possíveis.

Henry Uliano Quaresma

CEO na Brasil Business Partners | Fundador e CEO | Conselheiro | Desenvolvimento de Negócios | Diretor Executivo da Federação das Indústrias do Estado de SC - FIESC (1998-2014)

7 a

Muito bom . Claro e objetivo!

Faltou densidade e apontar os atores responsáveis, dar nomes aos bois.

Carlos Gustavo Poggio

International Politics expert with focus on US Foreign Policy and Latin America

7 a

Extremamente lúcido, como sempre meu amigo

Theo van der Loo

Former CEO Bayer Brasil | Advisory Board Member C-Resource | Advisory Board Healthcare Area

7 a

Excelente!

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