Poder a qualquer preço ou o fim do maniqueísmo político no Brasil
Aos 39 anos, quase 40, sou fruto de uma geração que observou meio que sem entender o fim do regime autoritário. E, posteriormente, foi passando a entender o mundo político nacional a partir de lentes e olhares que deixavam mais ou menos evidente que existiam duas forças bem definidas: de um lado, os velhos donos do poder (sempre vale citar Faoro), arraigados a um velho jeito de fazer política e, de outro, forças progressistas dispostas ao último sacrifício em favor de uma melhoria da sociedade brasileira – vítima do pior dos atrasos, o atraso mental.
Pois bem, como jovem adulto, vi por diversas vezes, esse movimento posicionado contra a elite ser derrotado em pleitos diversos. De qualquer modo, em 2002, chegou o tão aguardado momento, a apoteótica vitória do certo sobre o errado, dos bons conta os maus.
Em determinado sentido, a vitória de Lula, ex-operário e sindicalista, consagrou em muitos dos olhares que me cercavam a ideia de que o país de fato caminhava rumo ao firmamento de uma democracia representativa consolidada e ao distanciamento das elites do atraso, sepultadas em seus próprios anacronismos. O problema, efetivamente, é que tais anacronismos não se faziam presentes apenas em quem perdeu, estavam fortíssimos também nos vencedores de ocasião que, em algum sentido, começaram ali a consolidar escolhas políticas que vieram a jogar por terra tudo aquilo que estava alicerçado na base de um discurso renovador.
Traçando uma cronologia da guinada pragmática do Partido dos Trabalhadores, é possível observar que ela se desenvolve em dois processos simultâneos. O primeiro se construiu a partir de expurgos partidários dados por desavenças políticas – neste caso, podem ser citadas as saídas de numerosos quadros políticos de peso em termos históricos que se colocaram contrariamente as escolhas do partido e do governo no poder. De outro lado, um segundo processo, este caracterizado, sobremaneira, pelo afastamento de indivíduos muito próximos ao núcleo de tomada de decisão por problemas com a Justiça nacional.
Ambos os processos foram tratados pelo núcleo duro do poder por meio de uma narrativa que considerava os discordantes ideológicos como possuindo olhares ultrapassados da realidade, enquanto que os afastados pela justiça eram vistos como mártires de opções políticas duras feitas em nome de um bem maior. Tais discursos serviram para aplacar a militância, pois, os cidadãos não engajados no dia a dia partidário, eram anestesiados pela avalanche creditícia e as facilidades de consumo daí derivadas.
A paisagem política se delineou sem grandes dificuldades para o governo, uma vez que Lula foi bem sucedido em facilitar a vitória de Dilma Rousseff nas urnas. Percebeu-se no governo Dilma, no entanto, que os azulejos começaram a cair da parede e as infiltrações se tornaram irreversivelmente aparentes. Nestes termos, é possível afirmar dois elementos, o primeiro é o fato de que os equívocos econômicos cobram a cada dia um preço mais alto e o segundo é o fato de que a administração Rousseff se mostra inequivocamente incapaz de compreender que seu olhar no que concerne à relação entre os poderes não encontra respaldo na realidade.
Tal autismo político joga, neste exato momento, o Partido dos Trabalhadores, o governo Rousseff e sua militância diante de um esforço hercúleo de se aproximar de toda a vanguarda do atraso político para que consigam manter o poder, mesmo que isso signifique a incapacidade de governar no day after do impeachment. A vitória pírrica que pode ser alcançada por Dilma e seu grupo político à custa de toda e qualquer coerência política, ideológica e moral, dará ao cidadão brasileiro uma lição inequívoca de que a política nacional deve mudar e que o maniqueísmo narrativo não possui mais razão de ser.
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8 aProfessor Creomar!! Saudade. Mas deixando o assunto aluna professor de lado, vejo agora uma verdadeira chance do Brasil e sua popul viver uma revolução política uma mudança de fato deixando certos limites e patriarquismos que nossa sociedade vem co existindo desde seu tempo de império. Toda vez que estudo a história constitucional deste país observo apenas uma coisa o pilar da política brasileira independente da época tem sempre brechas imensas para que haja benefício dos sujeitos nos poderes e a capacidade que geração pos geração tenha sido deixada levar pelos discursos inflamados ou apenas se calaram perante o poder do grande patriarca. Será esta a chance o zeigest para mudança?