Cuidar da Saúde Mental é papel do RH?
Saúde mental é um assunto que sempre circulou em diversos espaços do nosso cotidiano, mas que ganhou ainda mais evidência após a COVID 19. A pandemia que assolou o mundo deixou como rastro consequências avassaladoras no que tange a questões econômicas, políticas, sociais e, em particular, emocionais, afetando a todos nós direta ou indiretamente. Muitos de nós ainda estamos sob os efeitos colaterais desse período. Tivemos que aprender, quase como um parto a fórceps, a conviver com as nossas dores, perdas e mazelas. Possivelmente, levaremos ainda muito tempo para nos reestruturar em nossa plenitude, principalmente emocionalmente. A plenitude a que me refiro acima pode ser compreendida ao encararmos as pessoas em sua integralidade, ou seja, como indivíduos saudáveis em todas as dimensões biopsicossociais que abrangem a totalidade do ser humano. Neste sentido, a Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde mental como “um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade”. Para vivermos nesse estado de bem-estar, acredito que precisamos ampliar a nossa percepção individual, incluindo a concepção de bem-estar coletivo. Uma concepção na qual estamos todos interligados, construindo e sendo construídos em nossa multiplicidade (os fios de um rizoma¹, como Deleuze e Guattari nos convidam a pensar a vida). O convite que faço é nos percebermos como os fios desse grande rizoma, para construirmos uma sociedade na qual possamos nos reconhecer como pares e, ao mesmo tempo, únicos e singulares. Vamos exercitar esta construção e experimentar sua tecitura no mundo do trabalho. Renovo então esse convite, agora mais direcionado para os meus pares que atuam em uma das áreas mais estratégicas das empresas, a área de Relacionamento Humano - RH. Vamos usar os fios das nossas habilidades e competências para tecer e propositar um ambiente organizacional que valorize sempre as pessoas que lá trabalham. Empresas são feitas de pessoas e pensarmos em um ambiente de trabalho que valorize a saúde mental é pensarmos em um ambiente que valorize os profissionais que lá trabalham. Um ambiente mais cuidadoso no sentido mais amplo da palavra.
¹ A ideia-imagem de rizoma é oriunda da botânica e consiste em uma haste subterrânea com ramificações em todos os sentidos, como os bulbos e os tubérculos. De forma antitética tem-se a árvore, com o caule e ramificações que se desdobram desse eixo central (DELEUZE e GUATTARI, 1995).
Um convite ousado, talvez, mas que pode se traduzir em ações diretas, algumas bastante simples, que favoreçam um ambiente acolhedor, respeitoso, colaborativo, confiável e cooperativo. Um ambiente no qual a comunicação seja efetiva e afetiva, no qual o erro seja a oportunidade de mudança e crescimento e no qual haja reconhecimento e remuneração adequada ao mercado de trabalho. Ações simples, como a flexibilização dos horários de trabalho, quando possível, podem propiciar mais equilíbrio na vida pessoal e profissional. Cabe ao RH, porém, em parceria com profissionais qualificados, a tarefa de pensar de forma estratégica em programas abrangentes de qualidade de vida, que equalizem as necessidades dos empregados e da empresa. Programas que promovam a conscientização e o engajamento das lideranças e que contribuam diretamente para a saúde mental de todos e de cada um.
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