Cultura digital, relações de mercado e tempo...

Nos últimos anos escrevi vários artigos com foco em ajudar os profissionais e organizações que estão iniciando a jornada de desenvolvimento de uma solução de IoT (Internet das Coisas) ou IIoT (Internet das Coisas Industrial ou também conhecido por Industria 4.0),

O artigo: “Internet das Coisas ou Internet das Soluções” ajuda o leitor a entender que o real valor de uma solução de Internet das Coisas, está em qual problema ela resolve e não a tecnologia simplesmente por tecnologia.

 No caso do artigo: “Do dado para o valor!” o foco está na importância da coleta de dados e principalmente como partindo deste pequeno grão se gera valor consistente.

Já para o artigo: “Caro líder de estratégia, chegou a hora de sair da zona de conforto!” temos uma provocação e reflexão para os líderes das organizações e profissionais, comentando a importância de pensar estrategicamente sobre o tema e de forma muito realista indicando caminhos para começar o movimento em direção a adoção de soluções digitais.

E por último o artigo: “O que falta para a Internet das Coisas realmente impactar os negócios das empresas no Brasil?” tem como foco comentar da importância das organizações entenderem a demanda de converterem seus modelos de negócios e/ou processos industriais de “não digital” para “digital” e por consequência como essa transformação digital influência nesta jornada.

Este rastro de artigos começou a ser construído em outubro de 2015, se espalhando até o presente momento. De lá para cá, é possível notar que o ambiente de discussão sobre os temas IoT, IIoT (Industria 4.0) e Transformação digital teve avanços no Brasil, em especial destaco a criação da Associação Brasileira de Internet Industrial – ABII, a qual vem cada vez mais fomentando ações sobre o tema e reúne um grupo de empresas que estão antenadas com a importância do assunto para seus negócios.

Neste período pude ter contato com vários projetos de startups com foco em soluções de IoT para modelos de negócios disruptivos, perceber editais de inovação fomentando o tema, palestras, instituições de ensino alinhando seus grupos de trabalho / grade curricular para falar sobre o tema Internet das Coisas e principalmente um avanço do interesse das organizações em pensar mais sobre o tema.

E aqui faço uma pausa, se você é um profissional da área industrial, varejo, bens de consumo; tanto das áreas de vendas, operações, desenvolvimento ou estratégia, e até esse ponto do artigo encontrou algo novo para você? Sugiro que rapidamente busque entender mais sobre as oportunidades e desafios que o mundo digital irá trazer para sua carreira e organização, corra, por que você está atrasado.

Mas o que realmente está faltando para termos grandes resultados com a aplicação de IoT e IIoT, no Brasil?

No meu ponto de vista, são três coisas: Desenvolvimento de uma cultura digital, criar novas relações de mercado e tempo.

a) Desenvolvimento de uma cultura digital:

As organizações que tem interesse em avançar nesta jornada digital, precisam estar abertas para repensar suas culturas organizacionais e processos, tanto para efeitos internos como externos. 

Por exemplo: algumas decisões de investimento que antes eram tomadas com base em taxa de retorno de investimento, na era digital começam a ter um passo anterior: prototipar em menor escala. Não existe receita de bolo indicando onde está o valor na aplicação de ferramentas digitais, a jornada ainda tem uma etapa exploratória a qual as organizações precisam dar espaço para que ela seja realizada de forma a minimizar impactos e investimentos, porém ao mesmo tempo sendo amostralmente relevante para o entendimento se existe geração de valor ou não. Após este passo, o cálculo do retorno do investimento fica muito mais assertivo, pois o risco da decisão é reduzido pela experiência do protótipo.

O mundo passa a ser colaborativo, organizações que tentarem avançar de forma solitária irão falhar. O conceito de desenvolver uma solução dentro de um laboratório por anos está fadado a desaparecer. A inovação aberta passa a ser a ferramenta do dia a dia, interação com clientes em potencial, comunidade, fornecedores e até mesmo outras empresas, aceleram e reduzem riscos na tomada de decisão.

Pessoas voltam a fazer a diferença nas organizações. Partindo de um mundo padronizado, pautado por procedimentos e de trabalhos conhecidos, a transformação digital demanda forte peso em conhecimento, talento, habilidade e atitude por parte dos profissionais das organizações. Por esta razão, cuide bem deles (se você já os tem) ou corra para encontrar as pessoas certas antes que o mercado desapareça com elas.

b) Criar novas relações de mercado:

Conforme comentei anteriormente, o mundo passa a ser mais colaborativo. Por esta razão novas formas de parcerias precisam ser criadas. As dinâmicas de mercados conhecidas por anos serão transformadas. Por exemplo, empresas de base mecânica já formam parcerias com empresas de desenvolvimento de softwares atualmente (reforçando, não estou falando em comprar softwares e sim desenvolver em conjunto). 

Se você está pensando em IoT e/ou IIoT na ótica de melhorar a eficiência do seu processo, procure parceiros em outros segmentos não convencionais ao o atual da sua organização, tenho certeza que eles vão estar prontos para conectar com suas necessidades.

Por outro lado, se você está pensando em IoT e/ou IIoT com forma de criar novas frentes de negócio para sua organização, os seus clientes em potencial precisam conhecer você e principalmente confiar. Por isso a jornada é um pouco mais longa, tem uma parcela grande de formação de imagem de mercado, pilotos são essenciais, relacionamento constante, trocas de experiência e principalmente transparência.

O grande boom deste mercado irá depender destas novas conexões e na confiança criada!

c) Tempo:

A mudança cultural, por parte da sua organização e do mercado (potenciais clientes, parceiros e/ou fornecedores), bem como a reconexão das dinâmicas de relação entre as empresas dos diversos segmentos, leva um tempo considerável.

Aqui existe um alerta importante: a organização que decidir avançar nesta jornada precisa ter muita maturidade, transparência e paciência para conseguir alinhar todos os pontos necessários. Ajuda muito uma boa gestão de expectativas e o conceito de avançar de entregáveis em entregáveis, pois desta forma a organização consegue perceber que a estratégia está funcionando e também gerenciar todas as pressões internas por resultado de curto prazo.

Com toda a certeza essa sequência de artigos não irá terminar por aqui, outro ponto novo desse mundo digital é o de que o aprendizado nunca termina!