CURADORIA É A ALMA DO NEGÓCIO
Curadoria de conteúdo tem sido peça chave em tempos de enxurrada de informação, desinformação e informação de má qualidade. E é de olho nisso que nasceu o Informed, um novo app de agregação de notícias que, parece, está entrando em um mercado mais maduro, lhe dando maiores chances de vida.
Já foram lançados outros apps e sites com a mesma intenção, mas esse parece ter algo diferente. Se nunca ouviu falar nele, vale acompanhar a trajetória desse aplicativo lançado em novembro último por uma startup sediada na Alemanha. Digo porque grandes grupos de mídia que usam paypall como Economist, Financial Times, New York Times, Reuters, Telegraph, Der Spielgel, Wall Street Journal, Washington Post já embarcaram nessa ferramenta e estão liberando suas notícias para eles. Além de várias que não usam.
Seu grande diferencial, dizem os executivos do Informed, é a qualidade da curadoria de conteúdo que oferecem. Essa é a aposta. O público, dizem, são os consumidores que querem e precisam se informar, mas não pagariam por notícias de um só veículo/mídia e tão pouco têm tempo suficiente para buscar informações em muitos lugares. Nada de novo. Escolheriam a Informed por oferecer uma maior amplitude de fontes, com curadoria acurada, se me permitem a redundância.
Se é o momento de os consumidores toparem pagar pela curadoria, o Sr. tempo dirá. Sim, porque o modelo deles é pago. Você escapa do paypall mas não escapa da assinatura do Informed 😁. Se baixar e entrar no app, vai descobrir que custa R$ 254,00 por ano ou R$ 33,90 por mês aqui nas terras brasilis. Tem uma opção gratuita, com limitações. Assinatura, como vemos, segue sendo a menina dos olhos pela renda recorrente. Os veículos parceiros, pelo que deu para entender, vão receber parte dos recursos. Mas o pessoal da Informed ainda não abriu os detalhes do modelo de negócio.
Quem assina não tem acesso a tudo de todos os veículos. Acessa o que o app lhe entrega a partir da combinação de trabalho de ser humano-gente (como diria um amigo) e inteligência artificial (AI). Reforçando o valor da curadoria, o app especifica que um grupo de jornalistas experientes busca informações e, em caso de dúvida, podem lançar mão de artigos acadêmicos ou fontes científicas para a confirmação da notícia antes de repassá-la, além da promessa de oferecer várias perspectivas da notícia. Pode-se gerenciar na configuração do app assuntos de seu interesse e, claro, o robozinho retroalimenta seu aprendizado com nossos interesses.
Os criadores da startup dizem que dificilmente esse projeto daria certo há alguns anos porque o mercado de assinaturas digitais estava menos maduro. Agora, com vários canais de streaming angariando muitos assinantes (apesar dos tombos recentes), newsletters eletrônicas e algum interesse por sites/mídias alternativas, investidores se sentiram encorajados a colocar dinheiro em uma empresa desse tipo.
A mim, chamou a atenção algumas pessoas que se juntaram ao projeto: um dos diretores da empresa é Martin Kaelble. Jornalista, foi o head de digital da revista alemã Capital, com forte experiência em produtos e estratégia digital em mídia. Foi quem implantou o paypall da publicação. Ele passou pelo bônus do crescimento e a dureza para manter os leitores. Outro é Axel Bringéus, responsável pela área comercial. Foi um dos responsáveis pela expansão mundial do Spotify e é um especialista em licenciamento de conteúdo. E também se uniram ao grupo, mas como assessores/consultores, ninguém menos os ex poderosos editores chefes Lionel Barber, do Financial Times e Bill Emmott, da Economist. Some-se Katharine Weymouth, ex-plublisher do The Washington Post. Um trio nada desprezível e que deve ter visto algo interessante no projeto e na dinâmica desse novo negócio. Dois deles foram ferrenhos defensores de fechar as notícias quando no poder.
E enquanto isso, Elon Musk desmonta a curadoria no Twitter....
PS. as coisas aqui na rede são dinâmicas. Para quem quer acompanhar os apps de agregação de notícias o colega e competente jornalista Diogo Rodriguez lembrou do Newsroom. Outro que vale a pena conhecer.
TIC TAC, TIK TOK, TIKTOK
Mudando um pouco de assunto, mas não muito, deixo aqui sugestão de matéria da @Digiday sobre como os líderes de grandes veículos estão vendo nas equipe de especialistas do em em TikTok o futuro de suas firmas. O crescimento do interesse do público por vídeos curtos tem se mostrado um caminho para as empresas de mídia ( esses vídeos vão, inclusive, entrar na curadoria de empresas como Informed, acima).
Até que se apresente a nova sensação público e crítica, o certo é que as equipes de TikTok estão ganhando espaço por compreenderem o desejo do consumidor. Como diz a matéria da Krystal Scanlon, a Vice é um exemplo: a publicação administra várias equipes do TikTok, cada uma com três a quatro pessoas que respondem a um portfólio da marca. E cada uma desses grupos responde a equipe editorial maior que se reporta a um editor-chefe. Algo semelhante com o que vimos que em algumas editoras quando evoluíram com as áreas digitais. Cada grupo inclui um produtor, um editor de social, um editor de vídeo e um editor multiplataforma sênior, com experiência em jornalismo (produção de notícias e storytelling) e mídias sociais.
O esforço é para seguir sendo relevante nas mídias sociais e para chamar a atenção de novos públicos. Novos em idade inclusive. Não vamos esquecer que a geração Facebook já não é tão jovem assim, se me permitem.
Recomendados pelo LinkedIn
Colocar vídeos sobre a matéria (e a matéria) no TikTok tornou-se um caminho para aumentar o alcance dessas notícias. Já são a terceira rede social mais acessada, como mostra o gráfico da Insider Intelligence.
CURTAS
Por falar em curadoria, TikTok e startup, nos EUA a The News Movement, uma startup de notícias, adquiriu outra startup, a The Recount, especializada em... vídeos curtos.
A notícia é da Semafor e é mais uma mostra do crescimente interesse por produção de notícias em vídeo na linguagem visual do TikTok. A ideia é traduzir hard news para uma linguagem informal, com matéria feita por jovens apresentadores que falam muito próximos da câmera.
E onde esses vídeos serão transmitidos? Nas plataformas das grandes mídias. Ou seja, eles usarão as plataformas dos outros para colocar seus produtos e coletar dados.
O público é a geração Z. Para um dos criadores da The News Movement, o veterano Will Lewis, que já foi repórter do FT e CEO da Dow Jones, as marcas precisam se identificar e serem aceitas pela geração Z. Por isso, colocar jornalistas profissionais dessa geração para fazer notícia e falar diretamente com os seus.
Gastos em mídia
Na última newsletter falamos da queda nos investimentos em mídia. A Insider Intelligence soltou a revisão para 2022 e a sua projeção até 2024. Veja aí:
Buzzfeed em alta
Parece que os investidores gostaram da decisão da Buzzfeed de automatizar a produção de notícias. As ações da empresa tiveram uma boa alta depois da empresa confirmar que o site de notícias usará a tecnologia do ChatGPT, OpenAI, para escrever conteúdo.
Num memorando, Jonah Peretti, executivo chefe da empresa, disse que querem “liderar o futuro do conteúdo com tecnologia de IA” e “maximizar a criatividade de nossos escritores, produtores e criadores e de nossos negócios”.
Aviso aos navegantes: a imagem de abertura dessa newsletter foi gerada por inteligência artificial. O texto, não 😎
Editor no Science Arena | Estrategista de conteúdo
1 aMuito legal, Carlos! Tem também o app Newsrooom, que resume as notícias usando IA e edição humana. E situa a cobertura num espectro ideológico.