Custo de vida na envelhescência

A longevidade exige planejamento financeiro precoce e apurado

Mario Prata diz que “a envelhescência é que uma preparação para entrar na velhice, assim com a adolescência é uma preparação para a maturidade. Engana-se quem acha que o homem maduro fica velho de repente, assim da noite para o dia. Não. Antes, a envelhescência”. 

Depois da envelhescência, a velhice. Quando cada fase começa e termina, não importa. Eu, envelhescente de carteirinha, não raramente encontro pessoas mais jovens, com idade inferior à minha, porém, mais velhos, de corpo, alma e espírito.

Com o passar do tempo, flexibilizamos o conceito de “idoso”. Aos 18, achava velho alguém de 30 anos. Aos 30, pensei que o problema era o tal dos 40. Aos 40, imaginei que os 60 seria um osso duro de roer. E assim fui completando décadas sem sentir o peso da idade.

Uma coisa é certa, estamos vivendo mais e, portanto, precisaremos de mais dinheiro para bancar essa longevidade. Qual será o seu custo de vida daqui a alguns anos, depois de aposentado?

Há quem afirme que o custo de vida na aposentadoria será inferior ao custo de vida na fase laboral, com redução de 30% nos custos. Na teoria defendida por especialistas, na envelhescência e na velhice viveremos com 70% do orçamento da maturidade.

Duvido e discordo dessa premissa. Acho arriscado contar com essa redução no custo de vida dessa que pode ser a fase mais longa de nossas vidas. Talvez a teoria seja aplicável a países mais desenvolvidos que proporcionam grande e eficiente estrutura aos idosos, na área da saúde, habitação, ocupação e lazer.

Infelizmente não é o caso no Brasil. Por aqui, muitas vezes acontece exatamente o contrário. Não raro, principalmente nas classes sócias menos favorecidas, filhos e netos dependem da parca renda do idoso aposentado para sobreviver.

Minha mãe é idosa, muito idosa, segundo algumas classificações. Aos 97 anos diz que a vida melhorou muito! Posso afirmar que o custo de vida dela aumentou bastante.

Para ter qualidade de vida nessa idade, tanto a pessoa idosa quanto os familiares que a cercam, é necessária uma boa infraestrutura de cuidadores e profissionais de saúde que o sistema público, e privado de saúde, não oferecem. Haja dinheiro! E ela é uma pessoa saudável, seu único mal é a idade avançada.

Sair de casa pelo menos duas vezes por semana é receita médica! Os três filhos se revezam nos finais de semana para desfrutar da companhia dela e substituir a folga dos cuidadores. Ao todo, são quatro passeios por semana, sem contar as consultas médicas.

Cuidadores diurnos e noturnos, além dos profissionais da saúde, demandam um orçamento generoso que, felizmente, eu e meus irmãos temos a condição de compartilhar e proporcionar para a mamãe. Além do aspecto financeiro, existe uma enorme demanda emocional, de paciência e gratidão, que se paga com amor e dedicação.

Seja previdente na projeção do seu fluxo de caixa na envelhescência e na velhice. Poupe o suficiente para assegurar uma boa qualidade de vida; que não falte dinheiro para muito lazer, viagens ou qualquer outra atividade que proporcione bem-estar a você e seus familiares.

Cuidando de nós mesmos, ao menos financeiramente, estaremos cuidando também dos entes queridos, reduzindo o custo final, emocional e financeiro, que a longevidade acarreta. Que a vida seja longa, se puder ser vivida na sua plenitude. Prepare-se para essa fase que, além de longa, pode ser a melhor da sua vida. 

Artigo publicado na Folha de S.Paulo em 30/04/2018

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