Custo do Risco Social

A recessão econômica brasileira tem provocado severas consequências na sociedade nestes últimos dois anos com o fechamento de muitas empresas, queda nas atividades econômicas, piora nas contas públicas, queda no investimento público, dificuldade financeira em grande parte dos governos estaduais e municipais, e um devastador aumento no desemprego.

Os reflexos sociais da crise estão afetando as classes menos favorecidas economicamente, que recebem salários baixos e dependem dos serviços de assistências públicas, como os serviços da área de saúde, assistência social e educação com a falta de investimento nas infraestruturas das escolas gerando uma precariedade no ensino.

No âmbito do Governo Federal, o Ministério da Economia tem feito sua parte, através do encaminhamento de alguns projetos de reformas e readequação do orçamento público, embora tenha sido vencido pelos políticos. Entretanto, os demais Ministérios, principalmente os da área social, demonstram paralisias e falta de ações que atendam as classes menos favorecidas da sociedade.

Nos últimos anos assistimos, com mais intensidade nas grandes cidades, o aumento de pedintes, mendigos e famílias desamparadas, pessoas circulando e morando nas ruas, reflexos da falta de desamparo pelo setor público. O reflexo da falta de dignidade pode ser demonstrado pela condição que estas pessoas em sua maioria não possuírem documentos de identificação.

Muitas dessas pessoas não têm o mínimo de grau educacional e estão incapacitadas para uma oportunidade de trabalho, porque não tiveram a condições de estudar e concluir o ensino primário e assim não se enquadrarem para o trabalho, com isto viram ambulantes, pedintes e moradores de ruas, caracterizando-se numa situação de vulnerabilidade social.

Para quem circula pelas ruas é fácil identificar estas condições, o problema maior é que os governos, em seus três níveis, federal, estadual e municipal, não visualizam esta questão, seja por capacidade técnica ou prioridade em atender a coletividade, sendo que até o momento os governos e políticos demonstraram apenas interesse em suas próprias necessidades em detrimento do pensamento coletivo, a prova disso são os escândalos de corrupção que envolvem “todos” os partidos e políticos, e os volumosos e inacreditáveis numerários relacionados aos escândalos da corrupção.

Primeira consequência do reflexo desta situação é, uma falta da visão do coletivo e do social no Brasil, que até então se encontravam de forma encoberta no dia a dia das comunidades e dos grandes centros pelos escândalos de corrupção. E, como segunda consequência, a recessão econômica provocou um agravamento das condições das classes menos favorecidas, passando a vulnerabilidade social do anonimato a uma situação a olhos vistos na sociedade. 

O exemplo destas consequências se refle no desabamento do Edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu, centro de São Paulo e nas causas que levam a estas pessoas a procurarem atender suas necessidades de sobrevivência, moradia e trabalho através da ocupação de prédios públicos sem condições, se submetendo a subempregos e em atividades de informalidade na economia.

O que está for trás de toda estas consequências é o “custo social” causado pela inoperância, omissão, descaso e falta de comprometimento com o coletivo e social que os governos não estão avaliando.

O chamado “custo social’ em economia, representa os custos que são associados a alguma atividade resultante de outra atividade que não tem relação direta.

Para exemplificar, estes efeitos estão diretamente ligados a uma visão dos últimos governos, reforço os três níveis, que não vem: a educação como uma necessidade de investimento e ações que foquem o bem-estar social de forma geral.

Além do serviço de saúde ser vexatório, o resultado é este, uma parte da população excluída e outra incapacitada para buscar trabalho em função da evolução do mercado de trabalho, resultando no aumento do empobrecimento das classes menos favorecidas, da informalidade na economia e principalmente no reflexo social visível em nossas ruas.

No caso da tragédia em São Paulo, por ironia, ocorreu no feriado do dia dos trabalhadores. Pergunto aos atuais governantes: porque esta visão capitalista, de vender o imóvel que não é mais útil em detrimento de uma visão social?

Numa outra visão, o imóvel poderia passar por uma reforma das suas instalações e transformá-lo em moradias dignas para estas famílias que estão excluídas da sociedade.

Não vejo esta sugestão de ação como uma equação que favoreça “a” ou “b” e sim uma necessidade para atender a um passivo social que os governos brasileiros vem promovendo ao longo dos anos, independentemente das suas correntes ideológica.

Se qualquer um, com um pouquinho de consciência tiver uma conversa com um secretário municipal, secretário de estado ou ministro, como tive a oportunidade de fazer, é visível a falta de visão e preparo de uma ótica coletiva para a sociedade. O que se percebe é o contrário, falta de ideias e uma visão só para os grandes projetos que não vão atender uma coletividade social e os despreparados.

O reflexo são as decadências das cidades em termos de infraestrutura, como a falta de saneamento básico.

Outro exemplo da insensibilidade pública é com a mecanização do recolhimento do lixo, atividade que quando não era mecanizada, servia para dar trabalho a estas pessoas, uma oportunidade de inclusão social e assim receberem um salário, integrando as pessoas com poucas condições a estarem incluídas na economia. Sem contar que o segmento do lixo, como reciclagem e reaproveitamento, pode gerar muitas atividades que façam a inclusão destas pessoas de baixa qualificação no mercado de trabalho.

Há uma necessidade de os governos avaliarem os reflexos quanto aos “custos sociais” intrínsecos na economia referente as ações, políticas ou falta delas, algo que não se faz no país a algum tempo. Em ano de importantes eleições, os candidatos e suas equipes econômicas devem incluir esta variável, que julgo importante, em seus projetos de governança quanto aos efeitos das respectivas políticas.

Acredito muito que se a variável “custo social” não fizer parte dos programas e ações no médio e longo prazo, não vejo como o país possa recuperar sua economia e reverter a dramática situação da vulnerabilidade social. O número destas pessoas nas grandes cidades é expressivo e a melhora deste segmento de desassistidos como consequência também favorecerá as classes mais baixas em geral. Em um pais rico e desenvolvido a dignidade é para todos.

Esta é uma reflexão para contribuir com os movimentos sociais que estão surgindo para contribuir com o desenvolvimento de um Brasil melhor, e que seja para todos.

Daniel Menezes Gil

Economista


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