Decreto de sexta #3
Abro apenas um olho, o sol está entrando pela janela entreaberta.
Ele ocupa pouco espaço no quarto, mas o espaço que ocupa é suficiente para anunciar sua escandalosa presença. A luz tem essa propriedade, né?
Não precisa dispensar grandes esforços para ocupar o espaço do breu. Uma pequena fagulha contamina o preto da escuridão e ela já não é tão profunda. Uma nesga de clarão e a escuridão é rasa e boba. Diante da insignificância da sombra, que já não cumpre mais o seu papel porque se faz desnecessária, tomamos a decisão de levantar e escancarar a janela, que estava timidamente aberta. Pronto, a luz entrou. Agora eu posso seguir com meu dia.
E hoje é sexta. O mais luminoso dos dias. Tem sabor de sorriso. Tem cor de sambinha. Tem som de passos largos, ritmados, rumando à parte que realmente importa desde o dia que a gente saudou o mundo: a vida que se vive perto das pessoas que importam mais.
Que você coloque luz em cada gesto de hoje, porque é pra isso que a gente veio mesmo.
Pra simplificar o complicado.
Pra animar o desanimado.
Pra relevar o que não foi revelado.
Pra brigar com quem é folgado.
Pra pagar pro seu amigo um salgado (e é de quê?).
Pra elogiar quem fez um bom trabalho.
Pra amar um pouquinho quem ainda não se sentiu amado.
Pra deixar, por um breve momento (e por que não pra sempre?) a frustração de lado.
Pra descoisar o que está coisado.