Demissão Silenciosa

Demissão Silenciosa

Essa semana o assunto da semana foi a Desistência Silenciosa ou Quiet Quitting que objetivamente significa fazer apenas o mínimo do que é esperado de acordo com a sua função trabalho. Mas nada é tão objetivo assim e, na realidade, a desistência silenciosa vem sendo praticada por profissionais que defendem o estabelecimento de limites entre o trabalho e a vida pessoal, entregando o suficiente para ficarem empregados, mas não fazendo muito além do que foi combinado. E, por acaso, estabelecer limites está errado?

O que eles buscam é sair no horário, não trabalhar aos finais de semana, não adotar funções extras, flexibilidade, ter tempo para se dedicar a projetos pessoais, valorizar o descanso, manter a vida social ativa, tudo isso sem serem taxados como preguiçosos ou não engajados. O que de fato não são.

Essa tendência ganhou expressão junto aos jovens e por hoje ser mais fácil criar comunidade nas redes sociais, como no TikTok, o tema vem preocupando empresários com a repercussão e as consequencias deste comportamento. Vi alguns comentários sobre o tema e muitas pessoas dizem que isso é modinha e acomodação. Ouso discordar.

Analisando o cenário de uma forma ampla e pragmática, é possível constatar que o modelo de trabalho pré-pandemia é capaz de desenvolver significativamente o aumento da síndrome de Burnout, de crises de pânico, de depressão. Pessoas com transtornos de saúde mental relacionadas ao trabalho, dentro outras percepções, acabam se sentindo frustradas por não conseguirem atingir a um ritmo de trabalho intenso ou a expectativas desalinhadas com as suas.

Ocorre que nem todas as pessoas querem ser workaholics. Não querer manter o mesmo vício no trabalho, efetivamente seria um problema, mas muitas vezes se torna problema para aqueles que estão hierarquicamente acima e não aceitam que seus liderados tenham vida pessoal. Explico.

Nos anos anteriores à pandemia de covid 19, presenciamos uma cultura global de excesso de trabalho em detrimento à vida pessoal e qualidade de vida. As pessoas entendiam que funcionário bom era aquele que se dedicava 100% (cem por cento) às suas atividades e sempre entregava mais que o esperado, que não tinha horário para sair, que chegava antes que todo mundo e saía depois de todo mundo. O perfil atarefado!

Mais recentemente, acompanhamos de perto a precarização do trabalho, pessoas se submetendo a trabalhos aparentemente autônomos em razão do aumento do desemprego. Esses profissionais trabalham horas a fio para tentar receber o mínimo para a subsistência. Falo o mínimo colocando em perspectiva o que se recebe ao final do mês e o foi gasto para execução do trabalho, normalmente o saldo é negativo se acrescentarmos na conta o que é perdido em qualidade de vida.

E, para quem não sabe muito sobre mim, estou falando com propriedade já que em 2016 me aventurei em trabalhar como motorista de aplicativo em Brasília. Fiz isso porque precisava pagar umas contas que surgiram pela minha má administração financeira. Naquela época, trabalhava o dia inteiro como advogada em uma Fundação e depois saía para dirigir. Talvez se eu tivesse aberto mão dos meus finais de semana inteiros para dirigir tivesse valido a pena financeiramente, mas felizmente minha necessidade não era tão crítica assim.

Tirei algumas lições da experiência:

  • Não tenho vergonha de trabalhar;
  • Não me importo muito com o que os outros pensam sobre o meu trabalho;
  • Trabalhar sem ter qualidade de vida não vale a pena, porque não são necessariamente as experiências profisisonais que levaremos para todo o sempre. Essa perspectiva muda quando você faz o que ama e isto está direcionado a impactar positivamente a vida de outras pessoas;
  • Tire lições das suas experiências. Mesmo que elas tenham sido ruins, busque analisar as questões pelo lado positivo, do aprendizado.

Após esse breve relato, voltemos ao ponto central.

A evolução do mundo do trabalho até chegarmos a este ponto, está com os dias contatos! Especialmente quando constatamos que os millennials e a geração z estão percebendo que a abrir mão da vida pessoal para fazer horas extras diariamente não necessariamente os levarão a promoção, a bonificações ou a grande volume de dinheiro.

Ainda hoje temos empresas que buscam profissionais que constantemente precisam abrir mão de suas vidas pessoais em prol da organização. Nestes locais, não há flexibilidade, remuneração compatível ao serviço prestado. Elas não estão interessadas em entender as necessidades dos funcionários e, pasmem, tentam convencer que a dedicação full time trará senso de pertencimento e realização sem limites.

Em contrapartida, temos profissionais extremamente estressados, que não conseguem visualizar sentido neste tipo de contratração, que estão sofrendo grande pressão por não conseguirem atingir o padrão de vida dos pais, que se sentem cada vez mais pressionados a serem o que não querem ser.

O grande problema gira em torno do equilíbrio, da análise de perfil dos profissionais, da visão positiva e do autoconhecimento.

Sugiro que antes de contratar as organizações fazem reflexões importantes para definirem os perfis de suas vagas. Elenco umas aqui em baixo, mas o rol é longo:

  • Estamos sendo honestos nas entrevistas ao falar sobre o trabalho que será executado e a carga horária necessária para a realização das demandas?
  • Estou buscando profissionais com o perfil correto para a vaga ou etamos olhando apenas as qualificações técnicas?
  • Entendemos que profissional bom é somente aquele que entrega a vida para empresa ou acreditamos que uma pessoa organizada, com método e que prioriza a vida pessoal pode nos ensinar um pouco mais sobre viver?
  • Buscamos máquinas ou pessoas que tem fragilidades, sazonalidades e nunca conseguirão executar as tarefas com a mesma precisão que um robô?

Já os profissionais deveriam estudar contextos antes de se candidatarem a uma vaga de emprego refletindo sobre as questões abaixo:

  • Quais são a missão, a visão e os valores da empresa?
  • Como são os seus profissionais e a vida que eles levam? (O LinkedIn está aí para isso!)
  • Essa empresa valoriza ações que me interessam?
  • Meu perfil agregará a esta empresa?
  • Na entrevista alinhar as expectativas do que esperam de você e, em contrapartida, colocar de forma clara os seus limites de atuação.
  • Já dentro da organização, manter uma conversa franca com a liderança sobre seus anseios e possibilidades.

Fato é que como tudo na vida, a desistência silenciosa tem vantagens e desvantagens para ambos os lados, vejamos algumas delas:

1. Trabalhar com equilíbrio é bom para todo mundo.

Todos os dias saem na mídia notícias sobre a Síndrome de Burnout, Síndrome do Pânico, depressão, ansiedade, os números vem aumento assustadoramente.

A revista VEJA publicou matéria recente apresentando pesquisa que mostra que 20% (vinte por cento) dos funcionários ativos estão trabalhando sobre intensa pressão emocional e 32% (trinta e dois por cento) sofrem com os efeitos do stress segundo a International Stress Management Association (Isma-BR).

Ao passo que a demissão silenciosa visa restabelecer o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, conceder a estes profissionais meios para viverem em estado de saúde proporcionará um ambiente mais leve, reduzirá os afastamentos profissionais e, consequentemente, possíveis ações judiciais.

De outro lado, trabalhar dentro das expectativas e de seu horário, possibilitará maior produtividade, criatividade e engajamento aos profissionais.

2. Relações de trabalho mais significativas

Ao se sentirem respeitados em sua vida pessoal, os funcionários se sentirão mais felizes, realizados, amigáveis, abertos ao compartilhamento de ideias e às relações dentro do ambiente de trabalho. Não há qualquer dúvida de que isto é positivo para as empresas e para os funcionários.

3. Definição de perfis

Definir perfis e objetivos junto com os funcionários é uma forma clara de alinhamento de expectativas. Esta prática deve ser constante dentro das organizações já que nem todas as pessoas querem exercer as funções que são sonhadas para elas.

Estabelecer metas, objetivos e conversar sobre sonhos poupará tanto o profissional quanto à empresa de custos desnecessários, sejam eles de saúde ou financeiros.

É imprescindível entendermos de uma vez por todas que somos seres únicos, dotados de desejos específicos e, portanto, nem sempre as pessoas irão querer o mesmo que nós. Falar francamente sobre os ônus e os bônus de cada cargo é essencial.

Respeito é bom e todo mundo gosta, seja na vida pessoal ou na profissional!

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Boa semana, nos vemos na próxima quinzena!

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