A Democratização das relações na Educação.
Li em algum lugar que vivemos na era da inovação guiada pela tecnologia digital e todos os aspectos da sociedade serão transformados de maneira profunda nos próximos anos. Tem gente que espera que essas inovações aconteçam a partir de ações disruptivas (palavra da moda...) espetaculares, dignas das melhores produções de Hollywood. Mas na vida cotidiana as coisas não acontecem assim (Não espere que os vulcanos entrem em contato com o Dr. Zefram Cochrane em 2063. Star Trek é muito bom, mas isso não vai acontecer). Na Educação muito menos. Em trinta anos de carreira pude acompanhar muitos ensaios de revoluções pedagógicas que simplesmente deram em nada. Mas também o aparecimento de estratégias pedagógicas muito simples, porém revolucionárias. Educar não é apenas instruir para o ambiente de trabalho. Educar, para mim, é criar um contexto de aprendizagem que abra os caminhos para que as crianças e os adolescentes se tornem seres humanos melhores em qualquer ambiente. Nesse sentido, inovar é ensinar solidariedade, alteridade, tolerância, respeito às diferenças. E isso não se faz de forma espetacular, nem de cima para baixo. Requer muito trabalho, lento, paciente e, para ter sucesso, precisa ter o consentimento dos alunos, quando não vir deles próprios. O papel do professor? Ser o exemplo de tudo que se quer ensinar. Por isso é essencial a democratização do ambiente escolar, iniciando pela sala de aula. É fundamental que o professor abra mão do papel de autoridade máxima, que não mais lhe cabe no século XXI, e se coloque como mais um nesse espaço que não é dele, mas dos alunos, que por sua vez devem assumir sua parcela de responsabilidade pelo trabalho em classe. É preciso estabelecer relações de confiança entre os atores. Sem isso, não é possível qualquer experiência democrática. Nesse sentido, as novas abordagens das relações escolares e as metodologias ativas de ensino só têm a acrescentar. É claro que em muitas circunstâncias a democratização das relações não é possível. Crianças e adolescentes têm vontade própria, nem sempre são amistosos (sim, nosso trabalho depende da empatia) e nós professores não fazemos mágica. Mas onde é possível, a democratização das relações é necessária e, a meu ver, um enorme passo adiante para resolver alguns impasses que a Educação experimenta há tempos.