Dentro da porteira
Sempre que posso, busco resgatar percepções pretéritas da minha infância nos pampas gaúchos, mais especificamente em Dom Pedrito, nas fazendas de uns queridos primos.
Do passado, o pouco que resta é ainda a precariedade das estradas, a famosa infraestrutura básica, penalizando o produtor primário (em particular, o gaúcho distante do mercado consumidor). Lamentável o pouco comprometimento do poder público. Um exemplo clássico do Custo Brasil.
Em compensação, "dentro da porteira" temos uma realidade dinâmica, produtiva e competitiva. Tecnologia e inovação são condições básicas do sucesso, o produtor tem plena consciência desse diferencial para o seu crescimento e rentabilidade. O desempenho em 2021 foi bem acima da média dos anos anteriores graças aos preços das commodities e das condições climáticas, trazendo enormes benefícios para toda a cadeia da agroindústria, bem como aos municípios, principalmente nos comércios locais - embora ainda haja preocupação com a desigualdade social agravada com o atual crescimento da inflação.
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Mas nem tudo são flores. O mercado de commodities se caracteriza por ciclos tanto de custos como de preços, práticas presentes com os aumentos expressivos em quase todos os insumos. Esse fator deverá diminuir bastante a rentabilidade do setor do agronegócio, comprometendo seu futuro pela falta de investimentos, acentuado também pelo atual custo do dinheiro.
Não tenho a menor dúvida de que o capitalismo agrário vai buscar novos modos para se defender dessas oscilações normais do mercado. Vejo que um dos principais instrumentos será a tecnologia da informação chegando ao campo, exigindo novas demandas de infraestrutura, o que poderá ser prejudicada se o poder público não tiver uma postura protagonista. Aliás, uma das maneiras de amortecer as variações do mercado seria dar mais musculatura para o nosso mercado interno, tão exposto a políticas sociais deletérias.
As questões ambientais também preocupam pela exposição dos temas do desmatamento e do gás metano. Em ambos os casos, as tecnologias do solo, a rotatividade das culturas e as compensações pela fixação do carbono nas diversidades agrícolas deverão mitigar bastante as incertezas. Essa vocação da vida do campo é estimulante e desafiadora. Os conceitos do ESG (Ambiental, Social e de Governança) devem ser considerados nesse novo cenário em resposta às demandas da sociedade.