Desafio da Maternidade em Ambientes Corporativos

Desafio da Maternidade em Ambientes Corporativos

Sempre comemorei com minhas amigas e colegas de trabalho os novos momentos de vida delas, com a vida de um anjinho em suas vidas! Conheci mães incríveis, que se desdobravam em muitos momentos e encararam muitos desafios desde a gestação à maternidade, mas neste ano de 2024, tendo a minha experiência enquanto gestante e, agora, mãe, sinto o dever de relatar pontos de destaque nos “Desafios da Maternidade em Ambientes Corporativos”.

Esta ação provém até de forma a expressar empatia ao que muitas viveram ou viverão, pois em 33 anos achei que tinha o feeling para entender o que alguém vive nesta experiência, todavia estava equivocada, são muitos os aprendizados e, compartilhar isso com a rede IN e a quem tiver interesse pode gerar ganhos como:

  • Criação de “Rede De Apoio Corporativa”;
  • Maior compreensão das vulnerabilidades  das colaboradoras, de forma a aprimorar o processo de gestão para acolhida das profissionais;
  • Fomentar a discussão sobre temas difíceis, para amadurecimento do mercado neste tipo de tema, tão relevante e pouco tratado.

Iniciando a abordagem dos “Desafios da Maternidade”, elenquei-os em uma lista para que consigamos tratar vários pontos relevantes e facilitar a quem se sentir à vontade para comentar quaisquer deles! Vamos lá?

1. Descobrindo a gravidez e compartilhando com a empresa: poderia gastar alguns parágrafos relatando minha história com relação à gravidez, terapia, tentativas, etc., mas resumiria que apenas aos 33 anos consegui engravidar, tendo minha baby com 34. Antes disso, trabalhei em diversas organizações que, como tudo na vida, tem seus pontos altos e à desenvolver e, em meio a tudo isso, presenciei inúmeras vezes frases e atos de assédio para com as gestantes. Tinha muitos traumas com relação ao que outras pessoas passaram e, na época, fiz a acolhida delas (ninguém merece escutar: “Time, usem camisinha, pois mais ninguém pode engravidar!”, “Só temos mulheres no time, se todas engravidarem, melhor fecharmos a área” ou “Por isso não contrato mulheres”, dentre outras…). Quando chegou a minha vez, entrei em pânico! 4 meses na cia. (fiquei 4 anos tentando na antiga empresa e nada) e engravidei! E agora?! Como falar?! Expliquei para a diretora da minha área, Vic, com o coração na mão e qual foi a reação dela? Deu um imenso pulo e parabenizou-me! Disse se era isso o que eu queria, porque eu estava parecendo aflita e expliquei-a “Temia a sua reação!” Foi acolhida também por outras mulheres sensacionais produteiras que super me acolheram, Kelly e Carla, que esta tríplice sempre estará em meu coração com um carinho especial!! Um momento de medo (sim! Medo!), pois quantas vezes não sofremos represália pela escolha de ser mãe em um mercado machista (ainda temos esta para lidar!), em que as mulheres recebem menos, são menos ouvidas, têm oportunidades minimizadas muitas vezes e ser tão bem acolhida, quando sabia de tão recente boa notícia fez TODA A DIFERENÇA!! E o time STONE como um todo me acolheu com muito amor quando soube!! Elad, Gabi, Mari e Tha (que tanto me ensinaram como mães) e toda a turma que seria injusto começar a listar todos os nomes, com risco de esquecer alguém, já que todos foram extremamente atenciosos comigo!

Tenho certeza que este é um dos desafios corporativos da maternidade, que na minha experiência fui surpreendida de forma muito inesperada e feliz, mas para você mulher, profissional, sonhadora, poderá ter que lidar com pessoas que não são tão receptivas quanto meu time na Stone! E quero lhe dizer: não se sinta só e nem frustre seu sonho por isso! Ser mãe sempre requererá forças e o maior foco que devemos ter será no nosso objetivo! Apesar da lei nos amparar, sentir-se acolhida é difícil, mas existem centenas e centenas de mulheres que vivem esta dor e você pode compartilhar e conversar nesta rede de apoio! Por você escrevo aqui estas palavras e também me disponibilizo para o que precisar! Não podemos nos calar e fingir que estamos em um mundo corporativo acolhedor neste aspecto! Este é 1% que eu tive a felicidade de viver, mas que a maioria não tem. Precisamos falar para que a mudança venha!

Ps.: Inclusive, essa minha experiência me transformou para ter sempre mais atenção ao psicológico das nossas queridas gravidinhas!! =D

2. Rede de Apoio Corporativa: no tópico anterior, falei de acolhimento e o quanto fez a diferença para mim a equipe Stone durante todo o processo. Além da cultura corporativa que é um ponto relevante neste processo e pesa para a experiência da gestante (culturas corrosivas acabam influenciando negativamente, em aspecto de nível de estresse, etc.), o espírito de equipe, formação de time, empatia e fatores que são vinculados às softskills são relevantes para que a sua parte profissional se mantenha ativa e de forma leve emocionalmente, já que todo o seu corpo, hormônios e ânimos estão sendo fortemente abalados pela vinda do seu filho (a). 

Na “comunidade de mães”, sempre ouvimos da chamada “Rede de Apoio” e acrescento aqui a necessidade da “Rede de Apoio Corporativa”, em que as pessoas fazem coisas básicas para a gestante, como:

  • Perguntar se está bem;
  • Ter flexibilidade de horários em que possa não estar 100% e depois retomar seu trabalho / repor em momento mais oportuno;
  • Não isolar a gestante de seus afazeres, para que continue se sentindo “ativa”;
  • Entendendo momentos, como “hora de comer” (faz todaaaa a diferença! Eu mesma pedia encarecidamente que NÃO fossem marcadas reuniões no almoço, pois só quem vive isso sabe o quanto passamos mal… eu ainda mais tive hiperemese gravídica e tudo era motivo para vômitos, inclusive comer fora do horário)
  • Permitir não abrir a câmera em dias que não estamos tão bem;
  • Dentre outras gentilezas que, como eu vivi apenas no ambiente home-office, foram as que me fizeram total diferença, mas fique a vontade para incluir as suas nos comentários!!

Enfim, recorro o pedido às organizações: fomentem a Rede de Apoio Corporativa!! Fiquei 9 meses sem necessidade da entrega de 1 atestado médico, com a certeza que este foi o ponto substancial para isso! Trabalhei, performou e criei cases com o time, com o mesmo furor de sempre!!! Aumente a motivação de suas gravidinhas!

3. Hormônios versus Produtividade: toquei neste assunto no tópico anterior e frisar com maior furor neste item… Hormônios são um grande problema para todas nós mulheres, em diferentes momentos da vida… Dizem que a menopausa é terrível também e ainda não vivi isso, mas a gestação é uma tempestade de hormônios e isso abala demais o psicológico e o emocional!! Terapias ajudam, atividades físicas durante a gravidez, tendo todo o acompanhamento de seu obstetra e, com o controle disso, sua produtividade se mantém ou até melhora! Não vi nada que pudesse minimizá-la por um aspecto físico (pelo menos no meu caso que não realizo um trabalho que requeira deslocamento ou esforços físicos de fato). Todavia, ressalto a importância do psicológico, sendo que os itens 1 e 2 deste artigo são fundamentais para a estabilidade mental da grávida, já que ninguém triste, chateado, menosprezado, ofendido ou qualquer ação negativa sobre ela, enquanto pessoa (independente da condição da gravidez), consegue ter uma alta produtividade. Sempre que somos humilhados ou sentimo-nos abalados, performaremos menos. Entendo que a produtividade da gestante não é impactada, se o ambiente em que ela está inserida é saudável. Claro que existem exceções que impactam a produtividade por questões mais restritivas (em caso de gravidez de risco, algo mais peculiar e físico), todavia ousaria dizer que, em geral: ambiente corporativo saudável, mamãe desenvolvendo-se físico, emocional e profissionalmente!

4. Home Office na Gestação: tive um dos maiores sonhos de todas as mães, que é o benefício de trabalhar todos os dias de casa!! E para mim que, fui uma das 1 entre 1000 gestantes com hiperemese gravídica, fez toda a diferença trabalhar de casa, já que vomitei até os 5 meses da gestação. Se você tiver a oportunidade de ter um trabalho full home office ou ter esta opção na empresa de ficar em casa quando não está bem, abrace esta cia. como se fosse seu parceiro (a), pois esta “é para casar” rsrs!! 

Tive amigas com descolamento da placenta e gravidez de risco que eram obrigadas a pegar metro lotado, trânsito, etc., para trabalhar e isso impactava no ponto de produtividade, pela falta de flexibilidade. A pergunta que não quer calar: Precisa mesmo ir? Em 2024, a Artificial Intelligence em alta e nós discutindo para uma gestante, que está criando pulmões, coração, ossos, etc. e que pode entregar intelectualmente seu produto, para que se desloque e faça reuniões online de uma sala da sede da empresa? 

Com amor e carinho, direciono a minha área do coração das organizações, Times de Pessoas, que reflitam: por que não pensar neste ponto como um dos pacotes de benefícios para as gravidinhas de sua corporação? Já imaginou a diminuição de atestados e a maximização do E-NPS?

5. Oportunidades de Crescimento na Gestação e Licença-Maternidade: Este é um ponto que pouquíssimas pessoas têm experiências diferentes e relatarei o meu sentimento, já que este artigo trata diretamente de vulnerabilidades… Que difícil ser uma gestante no ambiente corporativo!! Por mais que tenhamos todos os pontos anteriores à favor, com várias entregas, etc., é inegável ter o sentimento de que nossa carreira estagnou / parou. Poucas mulheres conseguem ser promovidas, ter evoluções ou feedbacks que considerem-as “parte do jogo” do que está ocorrendo na vida corporativa, até porque a primeira coisa na cabeça de um gestor é que daqui a pouco “não poderá contar com x pessoa”. Sabemos que esta é uma dura realidade e verdade em ambos os lados. Não podemos dizer que a pessoa contará conosco na licença maternidade (que dependendo da empresa pode ir de 4 a 7 meses, contando com períodos de férias), mas também é triste que não nos considerem antes… mas e se algo ocorre antes? Não sabemos, é imprevisível. 

Por mais que outros profissionais possam ter algo que os afastem, acredito que o sentimento de “parar” na carreira é inegável, mas ele vem como a reflexão de nossa escolha e opção por querer ser mãe e, apesar de não nos minimizar, é difícil aceitar. Se você já teve este sentimento, também não se sinta sozinha! Estou no meu 1 mês enquanto mãe e decidi fazer este artigo para dizer que é horrível sentir isso, porém conseguimos ser mães e lutar pelo que queremos, talvez com passos mais curtos, adiando alguns sonhos, mas por outro muito maior! E aproveite os momentos com seu baby e, nas horas livres, caso se sinta à vontade, estude ou faça algo que lhe dê prazer! Não se cobre como algo obrigatório (escutei isso de muitos amigos, inclusive um em especial, que é um professor e mentor para mim, mestre Vidal), pois este será um momento único na sua vida e 6 ou 7 meses em relação à toda sua carreira é um sopro! O mais importante é você se sentir bem, entender os seus momentos e respeitá-los! Cada qual tem um timing, um plano e uma vivência e está tudo bem em como encarar as coisas da melhor forma possível!

6. Mães no Mercado de Trabalho - Forças e Fragilidades: este é um tópico que poderia ser um capítulo, ou ainda, um livro sozinho. Como mães são fortes! Eu mesma não imagina o quanto e todos os dias peço perdão à Deus (licença para lhes dizer sobre minha fé) por não ter esta real noção pela minha própria mãe, o quanto ela se empenhou criando 2 filhas com meus avós e o quão difícil é criar um filho. Eu apenas comecei minha jornada com a Livya, mas eu sou uma grande fã da minha mãe, ainda mais agora nesta minha nova fase, em que ela foi quem me manteve “sã” nas primeiras dificuldades da vida materna (icterícia, engasgos, etc.). Tenho certeza que na rede IN milhares de mães têm histórias magníficas e, sintam-se à vontade para compartilhar a sua! Minha percepção da palavra “MÃE” mudou da água para o vinho neste 1 mês… Também considerem as avós que são mães, as mães que não gestaram, mas ganharam seu “pacotinho” por filas imensas de adoção, por pais que são mães, dentre outros cenários existentes.

A FORÇA das MÃES no Mercado de Trabalho vem do PROPÓSITO: ter um filho (a) aumenta seu propósito de uma forma inenarrável. É lindo de sentir!

Quanto às FRAGILIDADES, resumiria em uma frase típica das entrevistas: “Tem filhos?”. E os amigos recruiters não se acanhem, pois é claro que também há os que vão perguntar para aprofundar e criar conexões com os candidatos, mas sabemos que isso desde 1900 e bolinha ocorre, desde a época do “Curriculum Vitae” impresso, em que você entregava nas agências em busca de um emprego e anotavam o estado civil, qtde de filhos, salário atual e pretensão. E desculpem-me: estou velha e vivi isso!! E ainda vivo! Há muitas pessoas que não optam por mães, pois dizem que deixarão a empresa quando suas crianças estiverem doentes, como se todo pai “delargasse” a responsabilidade de seus filhos.

Em suma, destes 6 pontos que entreguei meu coração, no espírito de que precisamos SIM ter CONVERSAS DIFÍCEIS, tocando em tópicos vulneráveis como este para crescimento das culturas e transformações organizacionais (EU ACREDITO em um MUNDO CORPORATIVO MELHOR, always), espero que sirva de inspiração para as mamães que sentem medo, angústia ou qualquer outro sentimento, para convertê-lo em um abraço fraternal, de que estamos juntas e podemos mudar a história e as dificuldades vividas. De fora para dentro será mais difícil, todavia de dentro para fora, com certeza te deixará uma experiência mais leve e poderá ser um impulsionador disruptivo para profissionais de Pessoas repensarem a atuação com suas gestantes, aprimorando as experiências das mulheres neste momento tão especial.

E dizer a todos que, SIM, vale a pena a cada segundo!


Tamirys Agatha - Dedicado ao meu coraçãozinho, Livya

Thaís Fiori

Software Engineer | Elixir

1 m

Tami, amei!!! Me senti honrada em ser citada neste texto. É inegável que este ponto deve, e muito, ser melhorado no mundo corporativo, eu não tive uma experiência muito boa ao retornar da minha primeira licença. Parabéns por ser essa mãe maravilhosa ❤️

Aline Azevedo

Inovação |Tendências | Pesquisa

2 m

Excelentes pontos, Tamis!!! Super válido compartilhar mesmo para evoluirmos esses espaços e acolhermos todas nós, criadoras de vidas 💪🏻🥰

Carla Marelli

Group Product Manager Riscos

2 m

Tamis que honra ser citada em assunto que considero tão relevante! Conte comigo sempre!

Priscila Blandino de Paula Dos Santos

Analista de Negócios PL/ Customer Success/ Atendimento ao Cliente/ Pós Vendas/ Relacionamento/ Analista de Telecom/ Team

2 m

Ameiii amiga !!! Trouxe a realidade das mamães ❤️

Carolina Bonametti

SR Transformation Agent at @Vivo (Telefônica Brasil)

2 m

Incrível, Tamis! Parabéns! Admiração gigantesca por você! ❤️

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