DESAFIOS DA EDUCAÇÃO – ALGO MUITO ALÉM DOS NÚMEROS: 4 – PAÍS DE BACHARÉIS – AUSÊNCIA DE INVESTIMENTOS NO ENSINO PROFISSIONALIZANTE.
Hoje, no último artigo da nossa série de discussões sobre educação, vamos refletir possíveis rumos e investimentos diferentes dos tradicionais e focados em curto e médio prazo, visando debater possíveis respostas para a enorme onda de desempregados que se mantém estável nos últimos 5 anos.
Para quem não leu o último artigo:
Discutimos até aqui alguns motivos da educação formal estar perdendo prestígio e abordamos problemas estruturais do nosso país, sugerindo algumas mudanças e propondo novas abordagens sobre o tema, no entanto, tais mudanças tem efeitos em médio e longo prazo, pois são sugestões estruturais para praticamente todo o sistema educacional e criticas aos investimentos realizados na área.
O foco do último artigo dessa série é combater os problemas do sistema a curto e médio prazo, reconhecendo que temos um sistema educacional falho e um problema de real de desemprego.
Desde a crise política de 2016 que o desemprego no Brasil iniciou uma série de grandes altas, que em média 12 milhões de brasileiros encontram-se desempregados, enquanto mais de 11 milhões estão desalentados[1]. Além desses dados alarmantes, mais de 40% de toda a população com idade trabalhadora está alocada na informalidade (trabalhos sem qualquer registro formal), o que mostra que temos mais da metade de toda a população brasileira vivendo em empregos desqualificados e com baixos salários.
Muitas são as causas econômicas e estruturais para esse fenômeno, mas nosso enfoque aqui é investigar se há mudança educacional que possa auxiliar a curto e médio prazo a mudança nesse patamar.
Desconsiderando toda a taxa de evasão escolar[2][3], já citamos que os jovens que terminam o ensino fundamental e médio não frequentam, em sua absoluta maioria, instituições de ensino superior.
Muito embora esse quadro esteja mudando (decorrente de ações como financiamento de cursos em instituições privadas a juros menores, maior oferta de instituições de ensino e cotas de caráter social nas universidades públicas) a massiva maioria ainda chega ao mercado de trabalho apenas com o diploma do ensino médio, o que quando muito garante um emprego de carteira assinada.
Temos então três problemas: O primeiro, a evasão; o segundo, o ingresso de poucos estudantes em universidades e o terceiro, a quase nula propaganda e fomento ao ensino profissionalizante.
Já nos atemos em explicitar as causas para a evasão escolar ser tão grande, portanto, agora busquemos explicar as duas outras causas para o desemprego altíssimo motivado pela ausência de qualificação dos nossos profissionais.
Nossos universitários serão em sua maioria, futuros bacharéis.
No ensino superior há três grandes modalidades de cursos:
Tecnólogo: Formação profissional de área determinada, a duração varia entre dois a três anos, são cursos: Gestão hospitalar, Recursos Humanos, Logística, Gestão de marketing em mídias digitais e talvez o mais famoso, Análise e desenvolvimento de sistemas.
Licenciatura: Preparam o estudante para lecionar na educação básica e especializada, a duração varia entre 4 e 6 anos, são cursos: História, Matemática, Física, Letras, Biologia, Sociologia, dentre outros.
Bacharelado: É formação mais comum entre os estudantes de ensino superior no Brasil, estima-se que cerca de 60% de todos os cursos oferecidos aos estudantes são dessa modalidade, trata-se de formação generalista que costuma apresentar inúmeras matérias sobre determinada área, mas geralmente vistas de forma mais superficial, visando deixar o estudante preparado para diversos segmentos do mercado escolhido. Tem duração média de 4 a 6 anos e são cursos: Jornalismo, Direito, Medicina, Engenharia Civil e Arquitetura.
O grande problema em termos um país que forma a esmagadora maioria de seus estudantes em cursos de bacharelado? Poucos recorrem a cursos de especialização futuros como pós graduações latu sensu, e Mestrados, muitos acabam desempregados por terem adquirido ao longo de sua formação, conhecimento ainda raso para o mercado de trabalho da área selecionada, além da alta concorrência que o setor acaba enfrentando.
Apenas na área jurídica, já são mais de 3 milhões de bacharéis de direito no Brasil, dos quais mais de 1 milhão são advogados, o que significa um advogado a cada 190 habitantes e um bacharel de direito a cada 65 habitantes!
Além da qualidade dos serviços dos bacharéis das mais diversas áreas diminuir, muitos desses acabam na informalidade ou em empregos diversos dos da sua formação, o que não contribui para a derrubada nos índices de desemprego e crescimento da qualidade dos empregos na sociedade.
Isso desconsiderando que a baixa oferta de cursos de licenciatura contribui para a diminuição de professores no mercado enquanto que a baixíssima oferta dos cursos profissionalizantes e do ensino técnico em geral, afasta os brasileiros de camadas inferiores a conseguirem especializar-se em áreas técnicas de prestação de serviço.
Embora o MEC atue de forma direta no fomento a instituições profissionalizantes e inclusive haja proposta do atual governo em investir mais no setor, nada de muito significativo vem sendo feito na educação profissionalizante, que certamente aliada a retomada das obras públicas e do crescimento pode, e deve, baixar os níveis de desemprego e melhorar a qualidade de vida dos brasileiros, a curto e médio prazo.
Certamente a educação brasileira é muito maior que o abordado ao longo desses quatro artigos, mas espero ter levantado questionamentos pertinentes na área.
Até mais!
[1] Desalentado é o termo utilizado para trabalhadores que não estão mais procurando emprego e continuam sem ocupação.
[2] Atualmente em 11,8%.
[3] Agravada pela necessidade dos jovens inserirem-se no mercado de trabalho com rapidez, além dos já conhecidos déficits de aprendizagem, pobreza estrema, violência, atividades ilegais, necessidades especiais e acesso limitado a escolas.