Desafios da Liderança Contemporânea (6)

Desafios da Liderança Contemporânea (6)

4o. Desafio: Proteger a Liderança de quem?

2 – Do ídolo e do fanático

No tópico anterior, postado no LinkedIn e no Facebook em 13.07.2017, onde tratei do 4o. Desafio – Proteger a liderança de quem? 1. Do gerente (chefe) ilegítimo, buscamos diferenciar a liderança legítima, construída pela influência interpessoal aceita e requerida pelos seguidores, do mero uso do poder administrativo formal exercido por um gerente ou chefe nomeado por algum superior hierárquico ou pelo proprietário da empresa.

Agora iremos mergulhar em uma questão mais profunda, pela natureza não-racional, mítica e até mágica que caracteriza o fenômeno conhecido por idolatria, que muitos ainda confundem com liderança.


O que viabiliza a liderança é a legitimação dos líderes por seus seguidores, enquanto o que instala a idolatria é o endeusamento dos ídolos por seus fanáticos.

Portanto, líderes têm seguidores e ídolos têm fanáticos.

Liderança e idolatria são dois tipos diferentes de relações de poder e, a diferença não é de grau ou intensidade, mas de características inerentes às próprias relações.  

Nesse sentido, vamos analisar o fenômeno bifacial idolatria/fanatismo, pois não há ídolos sem a participação de seus agentes complementares, os fanáticos.

Para melhor compreender este fenômeno precisamos entender a natureza dramática da idolatria/fanatismo. Ela sai da realidade para se instalar em grandes e imaginários palcos suspensos, iluminados ou sombrios, alguns trágicos e outros tragicômicos.

A teatralidade da Idolatria e do fanatismo

O poder idolatrado e fanatizado não é criado e mantido ao rés do chão, no espaço onde se encontram todas as pessoas, interligadas por interesses comuns, convivendo, produzindo, consumindo e desfrutando de suas relações afetivas.

Neste espaço comum encontramos o poder funcional, que é utilizado como fator catalizador de ações coletivas orientadas a determinados propósitos e, ao alcança-los, se desfaz, até surgir a próxima necessidade ou desejo coletivo de realização.

Exemplos disso são as ações de defesa da comunidade contra agressores externos, as obras e serviços coletivos, onde cada um desempenha seu papel de real colaborador, tais como os mutirões de construção de casas, de preparo de terrenos a serem cultivados, de realização de quermesses religiosas em benefício de alguma obra social. Também encontramos, nesta categoria, as cooperativas de trabalho, de produção e de crédito, as pescarias de alto mar, a realização de eventos esportivos e culturais.

A característica deste poder coletivo, que se expressa em resposta a ameaças, problemas, necessidades ou desejos de uma determinada comunidade, é que ele é humanizador, limitando seu papel ao exercício de influências interpessoais legítimas e democráticas e construindo valores, atitudes e comportamentos de cidadania.

Por outro lado, o poder centralizado, idolatrado e fanatizado é, por natureza, um ritual dionisíaco, teatral, carente de palco para se manifestar, se manter e crescer, seja em forma de tragédias ou de tragicomédias.

Para entender melhor por que reis, ditadores, faraós e assemelhados encenam seus dramas políticos, Georges Balandier nos revela alguns destes motivos ao declarar que “o poder estabelecido unicamente sobre a força ou sobre a violência não controlada teria uma existência constantemente ameaçada; além disso, o poder exposto debaixo da iluminação exclusiva da razão teria pouca credibilidade. Portanto, acrescenta ele, o poder não consegue manter-se nem pelo domínio brutal e nem pela justificação racional. Ele só se realiza e se conserva pela transposição, pela produção de imagens, pela manipulação de símbolos e sua organização em um quadro cerimonial. (Balandier, Georges. O Poder em Cena. Ed. Universidade de Brasília. 1982. Pag. 7)

                 Neste jogo de poder teatral, o líder, em seu desejo de tornar-se ídolo, usa os instrumentos do imaginário para criar uma carga emocional poderosa em seus seguidores, que demandam por alguma mágica que lhes venham salvar dos problemas em que se encontram.

           Assim, como nos revelou Etienne de La Boetié, já em 1571, “os teatros, os jogos, as farsas, os espetáculos, as feras exóticas, as medalhas, os quadros e outras bugigangas eram para os povos antigos engodos da servidão, preço da liberdade, instrumentos da tirania. (Etienne de La Boetie. O Discurso da Servidão Voluntária. Publicado em 1571.)

           Infelizmente, precisamos corrigir de La Boetié, pois esta teatralidade não era usada apenas entre os povos antigos, como ele constatou, mas foram mantidas e atualizadas para os nossos dias atuais.

É nestes enormes teatros políticos, militares e religiosos, onde são representadas as tragédias e as tragicomédias promovidas pelos líderes transfigurados em ídolos, que seus seguidores, transformados em fanáticos, se desesperam na busca histérica por um salvador da pátria.

(Fanático, de acordo com o dicionário Aurélio (1999) refere-se a alguém que se considera inspirado por uma divindade, pelo espírito divino; iluminado. 2. Que tem zelo religioso cego, excessivo; intolerante. 3. Que adere cegamente a uma doutrina, a um partido; que é partidário exaltado; faccioso. 4.Que tem dedicação, admiração ou amor exaltado a alguém ou algo; entusiasmado, apaixonado.)

           Como já dissemos anteriormente, idolatria e fanatismo são faces complementares da mesma moeda. Um líder não se transforma em ídolo por vontade própria, nem mesmo com o uso da propaganda. Ele precisa que o terreno cultural esteja propício para que seus seguidores se transformem em fanáticos, viabilizando o surgimento do movimento de massa, que será manobrada para a realização de suas fantasias e sonhos, concretizados em forma de expansão de seu poder e de sua riqueza.

           Como nos alerta Eric Hoffer, “não importa quão vital achemos o papel da liderança na criação de um movimento de massa, não há dúvida que o líder não pode criar as condições que tornam possível o surgimento do movimento. Ele não pode conjurar um movimento partindo do nada.”( Hoffer, Eric.  Fanatismo e Movimentos de Massa –– Ed. LIDADOR. RJ. 1a. edição. 1968, p. 108).

O líder é impotente para criar, sozinho, o seu bando de fanáticos. Ele precisa ter sensibilidade para intuir a situação em que se encontra, captando os indícios de que será recebido e elevado aos braços de seus fanáticos quando se jogar na aventura da idolatria, do contrário seu plano fracassará.

É condição indispensável que haja “uma ansiedade de seguir e obedecer, e uma intensa insatisfação com as coisas existentes, antes que o movimento e o líder possam fazer a sua aparição. Quando as condições não estão maduras, o líder em potencial, por mais bem dotado que seja, e sua causa sagrada por mais poderosa que seja, permanecem sem seguidores. (Hoffer, Eric. In. Op. Cit. p.108).

Tipos de Idolatria

Precisamos distinguir a idolatria e o fanatismo derivados de lideranças políticas, militares, religiosas e organizacionais, que é o nosso foco neste trabalho, da idolatria e fanatismo oriundos de relações entre ídolos e fãs no cenário artístico e esportivo. Neste caso, “quando o fascínio diz respeito a uma pessoa ou personagem, o fã cria laços e constrói relações emocionais com o seu ídolo. Pode ser uma relação de amor, desejo, admiração ou mesmo de inveja. Para o fã, o ídolo existe na sua esfera de intimidade. (Vilhena da Cunha, Maria Inês. A Figura do Fã enquanto criador. Artigo publicado em www.bocc.ubi.pt)

Assim, podemos perceber que os fundamentos emocionais destas duas manifestações da idolatria e do fanatismo são diferentes, pois enquanto no primeiro caso há ênfase nas emoções agonistas, tais como o medo, a insegurança, o desprezo, a raiva, o ódio, a vingança e a conquista, no âmbito artístico as emoções basilares são, principalmente, de natureza hedonista, como o amor, o desejo, o fascínio, o deleite, a alegria, a euforia, entre outras. Numa leitura freudiana, poderíamos dizer que, enquanto a primeira categoria do fanatismo é movida por Thanatos, o princípio da morte, no segundo caso é impulsionado por Eros, o princípio da vida.

Curiosamente, no âmbito esportivo e, em especial, no futebol profissional, os ídolos e suas fanáticas e aguerridas torcidas, situam-se em um espaço intermediário entre as guerras e as artes, haja vista a ocorrência de violentos e tristes embates entre torcidas organizadas, como se estivessem em guerra declarada, resultando inclusive em ferimentos e mortes de fãs.

Patricia Coralis, pesquisadora do fenômeno da idolatria no âmbito artístico, e que dedicou sua tese de doutorado ao estudo da fama da cantora americana Madonna, sugere que um ídolo é a projeção dos anseios coletivos, a figura que representa os valores de uma sociedade, a ele imputados através do trabalho que desenvolve e pelas narrativas construídas pela indústria cultural, que o singularizam através da atribuição de características especiais.” (Coralis, Patricia. Um rosto tão conhecido quanto o nosso próprio: a construção da imagem pública e da idolatria a Madonna. Comunicação & Cultura, no. 12, 2011, pp. 99-115. p.101).

No contexto da cultura de consumo de massa, a idolatria artística é essencial ao processo de produção e disseminação de artefatos de consumo e de fruição de experiências, expressando-se e fortalecendo-se “primordialmente através de imagens, capazes de criar fãs devotos dos ídolos em todas as partes do mundo, bem como promover a valorização e a venda de uma enorme variedade de mercadorias que veiculem seus nomes. (Coralis, P. In Op. Cit. p.99)

Os dois tipos de idolatria têm em comum o processo de divinização do ídolo, que tenta retirá-lo do convívio entre os humanos para alça-lo a uma espécie de Olimpo, de onde irá emanar seu pretenso poder mágico, denominado por Max Weber de carisma, que significa em grego graça ou presente divino.

Mas o próprio Weber assinala que o carisma só se manifesta quando é reconhecido pelos seguidores do líder, ou no caso do ídolo, por seus fãs, indivíduos de massa que “necessitam da ilusão de que são amados pelo líder da mesma e justa maneira, mas o próprio líder não precisa amar ninguém; ele pode ser de natureza senhoril, absolutamente narcísico, porém seguro de si e independente. (Freud, Sigmund. Psicologia das Massas e Análise do EU. Editora L & PM Pocket. 2013. Porto Alegre, RS. p. 132)

O que faz cidadãos livres se transformar em fanáticos

           A idolatria encontra seu terreno ideal para manifestar-se nas massas de fanáticos que se formam e se põem a seu serviço, como um todo indivisível, uniformizado, automático e moldável aos desejos e objetivos do ídolo que serão concretizados por meio da propaganda maciça e constante.

Aparentemente a massa é a soma, a aglutinação de centenas ou de milhares de indivíduos em enormes conjuntos coletivos. Porém, ela esconde uma realidade atroz, do ponto de vista da psicologia individual, pois “unificação na massa é mais um processo de subtração do que de adição. Para ser assimilada num meio coletivo, a pessoa precisa perder a sua distinção individual. Tem de ser privada da livre escolha e do julgamento independente. Muitas de suas inclinações e impulsos naturais têm de ser suprimidos ou sufocados. ” (Hoffer, Eric. In Op. Cit. p. 121).

Que fatores são responsáveis pela construção desta força coletiva que, desenfreada e manipulada por um ídolo vingativo e sanguinário, pode ser capaz de cometer atrocidades inimagináveis até mesmo pelas próprias pessoas que a compõem, quando algum tempo depois se deparam, estupefatas, com os resultados destrutivos da loucura coletiva da qual participaram?

O que faz com que pessoas comuns e normais se tornem tão intransigentes e preconceituosas, a ponto de usar seus preconceitos como verdadeiras bandeiras e guias para justificar seus atos de selvageria, transformando-se em criminosos cruéis, assassinando seus opositores, por serem diferentes deles, física ou ideologicamente?

O que leva profissionais a se deixar robotizar em operações de trabalho repetitivas, monótonas e fragmentadas, negando sua criatividade e sua motivação para executar tarefas automáticas, rotineiras e estressantes em enormes linhas de produção e em apinhados escritórios burocráticos?

Todas estas indagações revelam o espanto diante de transformações que vêm ocorrendo secularmente com as pessoas, que negam suas individualidades para moldar-se em enormes massas fanáticas guerreiras, religiosas ou trabalhadoras.

O resultado disso, segundo Sigmund Freud, é que o indivíduo, compactado na massa, “experimenta uma modificação muitas vezes profunda de sua atividade psíquica. Sua afetividade se intensifica extraordinariamente e sua capacidade intelectual se limita de maneira notável, e é evidente que ambos os processos estão orientados para uma adaptação aos demais indivíduos da massa; um resultado que só pode ser atingido mediante a supressão das inibições dos impulsos próprias a cada individuo e mediante a renuncia às conformações especiais de suas inclinações. (Freud, Sigmund. Psicologia das Massas e Análise do EU. Editora L & PM Pocket. 2013. Porto Alegre, RS, p. 69)

           Diante desta constatação, fica patente o processo embrutecedor que a pessoa sofre ao filiar-se e, mais tarde, confundir-se em um movimento de massa, ou de manada, não importando a motivação ideológica deste engajamento. Sua razão crítica é obliterada pela exacerbação das emoções, especialmente as mais primitivas, tornando-a presa fácil de manobras e manipulações de ídolos iludidos por sua megalomania narcisista.

Apesar da complexidade deste comportamento de manada, já foram identificados diversos fatores responsáveis por esta distorção comportamental individual e coletiva que transforma cidadãos livres em fanáticos.

1. Edgar Morin aponta o quanto as pessoas podem aprisionar-se em suas próprias ilusões, ao ponto de negar a realidade, substituindo-a por fantasias, como se declarassem para si mesmas, resignadas: “não somos apenas possuidores de ideias, mas somos também possuídos por elas, capazes de morrer ou matar por uma ideia.” (Morin, Edgar. A Cabeça bem-feita. Ed. Bertrand Brasil Ltda. RJ. 2015. p. 53).

Um exemplo tornado clássico por Hanna Arendt, e que retrata em cores fortes o efeito deletério que uma ideia pode produzir, degradando uma pessoa considerada aparentemente normal, foi protagonizado por Adolf Eichmann, o oficial nazista chefe da Seção de Assuntos Judeus do Departamento de Segurança de Hitler, julgado por seus crimes contra os judeus e condenado à morte, no Tribunal de Jerusalém.

Eichmann se considerava inocente pois apenas organizava e despachava os comboios de trens lotados de judeus, rumo às câmaras de gás, e alegava em sua defesa que era apenas um idealista a serviço de um sistema. Para ele “um ‘idealista’ era um homem que vivia para a sua ideia e que por essa ideia estaria disposto a sacrificar tudo e, principalmente, todos (...) Além disso, um “idealista” jamais permitiria que sentimentos e emoções pessoais interferissem em suas ações, se entrassem em conflito com sua “ideia”. Foi neste contexto que Eichmann fez a triste colocação de que seria capaz de matar seu próprio pai, caso lhe fosse exigido. (ARENDT, Hanna. 1989. Apud Pereira Andrade, Daniel. O perigo da “normalidade”: o caso Eichmann. Cronos, Natal-RN, v. 8, n. 1, p. 251-274, jan./jun. 2007. p.257- 258)

Eric Hoffer nos revela o segredo desta transformação de ideias em ilusões sob a influência hipnótica das promessas de um ídolo, que levam o fanático a negar a realidade, substituindo-a por um mundo de fantasia.

Para que ocorra esta transformação ele precisa se ver como atore de um grandioso drama capaz, até mesmo, de anular o próprio instinto de sobrevivência, o último estágio do fanatismo, quando o suicídio se transforma em orgulho, em honra.

São exemplos históricos deste extremismo ideológico: os samurais e os pilotos kamikazes que se orgulhavam de morrer pelo imperador japonês; os terroristas suicidas da Al-Qaeda e do Estado Islâmico; os discípulos da seita de Jin Jones, os seguidores de Antônio Conselheiro, entre tantos outros.

Em todos estes casos “a morte perde seu horror e caráter final e torna-se um ato de ilusionismo, um gesto teatral. Uma das principais tarefas de um verdadeiro líder (na verdade, de um ídolo) é mascarar a amarga realidade de morrer e matar, provocando em seus seguidores (fanáticos) a ilusão de que estão participando de um espetáculo glorioso, de um leve ou solene desempenho dramático. (Hoffer, Eric. In Op. Cit. p. 69).

Esta metamorfose, que torna o imaginário mais forte do que o real, baseia-se na negação do presente em nome de um futuro inexistente, porém glorioso e paradisíaco.

Os ídolos que conduzem os movimentos de massa fazem de tudo para que as pessoas acreditem que sua existência é monótona, opressiva e cruel. Para isso são condenados “os prazeres e o conforto e pregam uma vida rigorosa. Consideram o divertimento uma coisa trivial ou mesmo desacreditada, e apresentam a busca da felicidade pessoal como algo imoral. (Hoffer, Eric. In Op. Cit.  p. 71).

A expressão da alegria é controlada de modo a ser utilizada apenas para reforçar a disciplina e comemorar as conquistas promovidas pela raiva e pela vingança coletiva, contra inimigos. Os erros são punidos, quando decorrem de iniciativas tomadas individualmente, mesmo que tenham sido feitas em prol da massa.

Os movimentos de massa mantêm um sistema de fiscalização e vigilância, combinado ao incentivo às delações, criando um clima de desconfiança permanente entre os seus elementos.

2. Outro fator responsável pela fanatização é a fragmentação social, operada pela destruição dos laços sociais afetivos, o que desconecta as pessoas de suas comunidades e de suas famílias tornando-as indivíduos isolados, alvos fáceis de serem cooptados pelo sistema de recrutamento dos movimentos de massa, seja de natureza militar, religioso, de trabalho ou até mesmo de consumo. Isto por que a lealdade total é a base psicológica do domínio total. Ela só pode ser esperada de “seres humanos completamente isolados que, desprovidos de outros laços sociais – de família, amizade, camaradagem – só adquirem sentido de terem lugar neste mundo quando participam de um movimento, pertencem ao partido” (ARENDT, Hanna. 1989, p. 373. Apud Pereira Andrade, Daniel. In Op. Cit. p. 258)

Esta lealdade obtida do indivíduo massificado foi a base para a formação das massas militares imperialistas de Alexandre, Gengis Khan, Cesar e Napoleão; dos fanáticos da santa inquisição do Papa Gregório XI, Torquemada na Espanha e Catarina de Médicis na França; das massas nazistas de Hitler e fascistas de Mussolini; dos fanáticos soldados do imperador japonês Hiroito; das massas comunistas de Stalin, Mao Tse-tung, Fidel e Kim Jong-un.

Porém, além destes exemplos de fanatismo que ficaram gravados na história, acrescentamos dois outros fenômenos contemporâneos: as massas operárias, resultantes da chamada revolução industrial inglesa, que criou a produção em massa e a sua complementar massa de consumidores, sistema global criado pelo capitalismo americano e que estamos vivendo na atualidade.

Consideramos que as massas de consumo, mesmo desprovidas de um ídolo central, possuem características similares aos demais exemplos militares, políticos e religiosos citados.

É notório que o consumismo, criado e mantido pelo sistema capitalista de produção em massa, tornou-se o mais recente movimento de massas, constituindo uma verdadeira marca de nossa sociedade atual.

Ele é potencializado e globalizado pelas tecnologias virtuais e manipulado pelo marketing para que se consuma avidamente, compulsivamente, mesmo sem necessidade. Para tanto foram criadas as inúmeras datas comemorativas que, justificadas por algum apelo religioso ou afetivo, geralmente posto em segundo plano, tornaram-se verdadeiras celebrações ao deus do consumo. São exemplos disso as corridas às lojas e aos restaurantes nos dias dedicados ao Natal, Ano Novo, dia dos namorados, das mães, dos pais, entre tantos outros.

As mensagens explícitas dos meios de comunicação, combinadas aos desejos e exigências subliminares de nossa cultura da ostentação, induzem as pessoas a consumir, mesmo sem ter dinheiro, por encontrar fácil ressonância nas massas nas quais se aglutinam, devido ao enfraquecimento de sua capacidade crítica, da redução de sua atitude de moderação e da dificuldade de adiamento de seus impulsos de compra.

Como resultado dessa ação de manada consumista, as dívidas pessoais e familiares aumentaram descontroladamente, o que pode ser atestado pelo número assombroso de 60% das famílias brasileiras que estão endividadas, com a média de 7 meses de inadimplência (segundo a Confederação Nacional do Comércio), o que as tornou prisioneiras da violência dos juros bancários mais elevados do mundo.

Alguns poderão argumentar que esta crise financeira das famílias se deve aos reduzidos salários praticados em nosso país, mas esta é uma meia-verdade, pois a outra parte, certamente, é o comportamento de se gastar mais do que se ganha, para não sair do fluxo de consumo imposto pelo comportamento de manada.

Nesta grande massa de consumidores, há alguns pelotões de viciados e compulsivos, como os colecionadores, outros batalhões de ávidos e dependentes de novidades tecnológicas, outros grupamentos de curiosos das inovações, que se sentem incomodados em não seguirem o fluxo “natural” de consumo de produtos, de serviços e experiências, afinal não se sentiriam bem à margem desta corrente insaciável de consumo.

Portanto, tal comportamento coletivo também pode ser classificado como fanatismo, mesmo que não se consiga identificar fisicamente, um ídolo específico para ser adorado.

3. Outro fator que explica os fenômenos de massa, segundo Freud, é o comportamento de regressão a um estágio anterior de desenvolvimento humano, denominado de horda primordial, que era constituída, ainda na pré-história da humanidade, sob a autoridade agressiva e temida do pai ancestral.

Para ele o comportamento coletivo de massa “corresponde a um estado de regressão a uma atividade psíquica primitiva, tal como se poderia atribuir precisamente à horda primordial. (...). Assim como o homem primitivo esta virtualmente conservado em cada indivíduo, da mesma forma a horda primordial pode se restabelecer a partir de uma multidão qualquer; até o ponto em que a formação de massas domina habitualmente os seres humanos, reconhecemos nela a continuação da horda primordial. (Freud, Sigmund. In. Op. Cit. p.130-131)

Ao voltar, inconscientemente, a este estágio primitivo as pessoas sentem-se mais seguras, não com base em seus próprios recursos, nem em suas próprias ideias, porém no acolhimento de seus pares, que constituem a massa de iguais. É na massa sem rosto e sem vontade própria, porém tomada de emoções exacerbadas, que elas se escondem e se protegem dos diferentes, que representam ameaças a serem eliminadas.

Regredindo a esta horda primordial as pessoas tornam-se números de um conjunto, simples elementos de uma composição coletiva. Nesse estágio elas se libertam da responsabilidade de assumir decisões e de arriscar-se a errar. Todo o poder decisório é projetado no superior, idolatrado, em relação ao qual se posicionam como subservientes e dependentes, abdicando da direção de suas vidas, como nos revela Hoffer, ao afirmar que, para as pessoas massificadas “a libertação da responsabilidade é mais atraente do que a liberdade da repressão. Anseiam por trocar a sua independência pelo alivio das pesadas cargas de querer, decidir e ser responsáveis pelo inevitável fracasso. Mais ainda, a submissão de todos a um líder supremo é uma aproximação do seu ideal de igualdade. (Hoffer, Eric. In Op. Cit. p. 114)

Notem a incrível distorção, patrocinada pelos movimentos de massa, nos três valores revolucionários de liberdade, igualdade e fraternidade, imortalizado na Declaração dos Direitos do Homem. Nas massas, os indivíduos almejam a liberdade do descompromisso, a igualdade que resulta da abdicação do poder e da ignorância, e a fraternidade que advém da cumplicidade entre pares desesperados e vitimizados pelo mesmo opressor ou salvador.

Alguns exemplos históricos de ídolos

São muitos os exemplos históricos de dramas teatrais tragicômicos encenados por guerreiros e políticos idolatrados por fanáticos:

. Alexandre da Macedônia que, após derrotar o império Persa, a Síria e o Egito, inebriado pelo poder, num delírio megalomaníaco, se autoproclama filho do deus Amon e descendente dos faraós, antes de entrar na Índia e morrer aos 33 anos de idade.

. Nero, o violento e histérico imperador, que, além de assassinar a própria mãe e irmão, assistia ao incêndio de Roma, que ele mesmo provocara para, insanamente, tentar renovar a cidade, enquanto cantava e tocava sua lira.

. Luis XIV, com seu narcisismo exacerbado, simbolizado por suas perucas, roupas extravagantes, ricos ornamentos e, claro, o palácio de Versailles, que se pretendia um descendente de Apolo, o deus-Sol (por isso se autodenominava o Rei-Sol), tinha um comportamento despótico e perdulário, que o levou a erigir um império às custas de milhares de mortes e de um enorme déficit, quase falindo a França.

. Robespierre, um dos idealistas da Revolução Francesa, que embriagado pelo poder, ao proclamar o Dia Nacional de Adoração ao Ser Superior - a Razão, no ápice da festa, ele próprio desce da montanha construída com papel marche, fantasiado de deus. Após esta representação teatral ele foi julgado, condenado e sentenciado à guilhotina, tornando-se vítima do regime de terror que ele mesmo criou.

. Napoleão, o narcisista, hiperativo e audacioso oficial do exército francês, que, após comandar um golpe de estado (o 18 de Brumário) contra o Diretório (colegiado de 5 Diretores eleitos) que governava a Nova França, traindo os ideais republicanos da Revolução Francesa, tornou-se Consul, usurpou o poder do próprio Consulado (formado por ele, Jean Jacques R. de Cambacérès e Charles-François Lebrun) e, algum tempo depois, se auto coroou imperador da França (em seu delírio seria da Europa). Para manter-se no poder e expandi-lo para além das fronteiras francesas, promoveu incontáveis guerras às custas da morte de 5 milhões de franceses transformados em soldados em suas carnificinas compulsivas, até ser derrotado e exilado pelos ingleses (por suas vezes) para as ilhas de Elba e depois de Santa Helena onde morreu, deprimido e desiludido, aos 51 anos.

. Stalin, o trôpego e sanguinário bolchevista que, para construir o pretenso novo mundo comunista de igualdade humana, criou mais um império do terror, fundamentado na vingança e em seu delírio persecutório, matando mais de 20 milhões de pessoas.

. Hitler, o frustrado pintor austríaco e fanático cabo do exército alemão (durante a primeira guerra mundial) que, após filiar-se ao Partido dos Trabalhadores Alemães, liderar um fracassado golpe de estado, ir parar na prisão (onde escreve seu manual de luta revolucionária), ao ser liberado,  transforma-se no notório ídolo da Alemanha Nazista, ao encontrar ressonância no fanatismo do povo, intensificado e sistematizado pela máquina de propaganda do governo, que o transforma numa caricatura dos antigos Césares romanos, inclusive com suas insígnias, fantasias, intermináveis marchas e apoteóticos desfiles militares. Sua personalidade perversa e, provavelmente, psicopata, o transforma em assassino de massa, responsável por um dos maiores crimes contra a humanidade, o  Holocausto, que dizimou cerca de 11 milhões de pessoas, principalmente judeus, mas também ciganos, padres, portadores de deficiências, gays, comunistas, entre muitas outras vítimas do genocídio.

. Mao Tsé-Tung, um camponês e militar revolucionário chinês, que liderou a grande fuga de 9.650 Km, à frente de 30 mil soldados e 70 mil camponeses comunistas, perseguidos pelo exército do Kuomintang, consolidando, nesta longa marcha, a ideologia comunista chinesa e a sua liderança como presidente do partido comunista e depois da República Popular da China. Mais tarde, em sua fase de idolatria e fanatismo, construiu, um culto divinatório à sua personalidade, responsável por décadas de terror, perseguição e morte aos não-comunistas, perpetradas pela Guarda Vermelha. Tal idolatria resultou na inacreditável soma de 70 milhões de pessoas mortas, no período de 1949 a 1975, em decorrência da encenação dos dramas coletivos conhecidos como o Grande Salto para a Frente e a Revolução Cultural, que produziram, ao lado de avanços econômicos compulsórios, também a fome endêmica, os suicídios em massa e as execuções sumárias.

. Muammar al-Gadaffi, mais um tenente do exército que, após comandar um golpe de estado, assume o governo da Líbia e, enlouquecido pelo poder conquistado, mais tarde, num surto delirante, se auto proclama Rei dos reis da África e passa a se comportar como um verdadeiro Napoleão de hospício, até ser morto por seus adversários.

. Idi Amim Dada, um déspota sanguinário, responsável pela morte estimada de 500 mil pessoas, que se auto denominava Sua Excelência Presidente Vitalício Marechal de Campo de Uganda, além de se julgar também conquistador do Império Britânico, numa reação infantil ao rompimento das relações diplomáticas que o governo britânico fez com seu governo. Seu governo megalomaníaco foi marcado pela violência combinada à corrupção.


Saindo dos palcos internacionais onde foram encenados estes dramas militares de guerras de conquista, e que deram origem a imperadores, reis e outros déspotas, podemos presenciar o mesmo fenômeno da idolatria e fanatismo manifestando-se em nosso país, mesmo que em pequena escala. Em meu livro Liderança Cidadã, um novo modelo de liderança nas organizações, publicado na Amazon.com.br em 2015, pag. 116 – (link: http://migre.me/sliu4), enumero alguns casos notórios:

Como compreender um fenômeno do tipo Antônio Conselheiro, a liderar de 25 a 30 mil sertanejos na chamada Revolta de Canudos? A descrição de Euclides da Cunha retrata muito bem o significado da influência baseada no fanatismo: “Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até o esgotamento completo. Expugnado, palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao anoitecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados”. (CUNHA, E., 1996:476)

Além desse eloquente exemplo de fanatização, como entender a Revolta do Contestado, ocorrida entre 1912 e 1916, envolvendo cerca de 50 mil camponeses do Sul, comandados pelo monge José Maria, a quem seguiam cegamente e sob cuja liderança perderam suas vidas? (ALENCAR, Francisco Carpi; RIBEIRO, Lúcia e VENICIO, Marcus. História da Sociedade Brasileira. Rio de Janeiro: Ed. do Livro Técnico S/A, 1980, p. 221.)

Alguns fatores que degeneram a liderança em idolatria

O que há em comum em todos estes casos de ídolos que fizeram parte da história e que ainda povoam nossas mentes, considerados exemplos de grandes líderes da humanidade?

1. A deificação do líder, que enfeitiçado pelo poder, tenta superar a condição humana, para se transformar em deus, dramatizando, de forma delirante, o mito de Ícaro, que tentou voar tão alto até alcançar o sol, sem perceber que ao aproximar-se de seu objetivo, a cera, que colava suas asas, seria derretida e ele cairia, desolado, rumo à morte.

O poder, que conquistaram inicialmente, (alguns por hereditariedade, outros como resultado da liderança efetiva junto aos seus seguidores), transforma-se, depois de algum tempo, em movimento de massas, e os ídolos, respaldados por seus fanáticos seguidores, passam a acreditar que são onipotentes e omniscientes, e que receberam, magicamente, o poder de Deus, com o qual se identificam, psicoticamente, ao ponto de se verem como deuses.

2. Contribui também para esta degeneração, o narcisismo exacerbado do líder, que ao ver sua imagem amplificada do outro lado do espelho, pelo poder que detém em suas mãos, torna-se prisioneiro desta ilusão e anestesiado aos apelos de seus interlocutores que tentam despertá-lo do estado de narcose, (palavra grega que dá origem a narciso). Ele imita Narciso, que, de tão viciado em si mesmo, não via os encantos e nem ouvia as palavras da linda ninfa Eco, apaixonada por ele.

Neste processo de mudança desencadeado pelo poder fanático, a liderança se transforma em idolatria, como vinho que se deteriora em vinagre, como remédio que se degrada em veneno.

3. O charlatanismo do líder que, na ânsia de conquistar adeptos usa a enganação, a manipulação e a mentira para iludir e confundir seus fanáticos seguidores. Esta tem sido uma prática comum usada por reis e ditadores, em forma de censura à imprensa, cujas notícias tornam-se pautadas de acordo com os interesses do poder autocrático. A propaganda oficial cria versões dos fatos sempre na tentativa de esconder verdades incômodas ao ídolo, que precisa ser preservado a todo custo, afinal, como diz Eric Hoffer, “não pode haver movimento de massa sem alguma distorção deliberada dos fatos.”  (Hoffer, Eric. In Op. Cit. p. 112)

4. A Magia do Palco, que transforma uma pessoa comum, quando sobe ao palco, ou palanque, elevando-se sobre as massas, em alguém especial, para ser invejado e imitado por aqueles que tomam parte no jogo teatral, inicialmente como espectadores e depois como fãs.

Este encantamento mágico, que na Idade Média era devotado aos monges que sabiam ler e escrever, com a revolução de Gutemberg, migrou para os escritores, e mais adiante, com a invenção do rádio, para os locutores, e mais tarde, com a gravação de imagens em vídeos, para os apresentadores e artistas de TV e de Cinema.

Este fenômeno é fundamentado e impulsionado pelo voyeurismo do fã, que situa o prazer na ad-miração, isto é, no olhar à distância para o objeto do desejo, ou na tele-visão, pois é preciso que se mantenha um certo distanciamento entre o protagonista e a plateia para que se instale a magia do olhar hipnótico no fanático, ativando as emoções mais primitivas de devoção e dependência ao ídolo.

O fã que, de inicio, era apenas um espectador, transforma-se em co-autor do jogo dramático, interferindo no próprio desempenho do papel exercido pelo ídolo, como se manipulasse a imagem da cena que é sempre incompleta. A este respeito, McLuhan nos alerta que “a meia de seda de malha larga é muito mais sensual do que o nylon macio, porque o olho manipula, preenchendo-a e completando a imagem, tal como no mosaico da imagem da TV.” (McLuhan, Marshall. Os Meios de Comunicação como Extensão do Homem. Ed. Cultrix. SP. 1968. p. 33).

Porém, além deste ato fisiológico de complementação gestáltica do objeto incompleto, os fanáticos interferem de modo muito mais ativo e criativo do que se julga comumente, pois, como nos diz a Mestre em Comunicação e Gestão Cultural, Maria Inês Cunha, eles “buscam outros semelhantes e tendem a agrupar-se de modo a dar continuidade à sua condição de fãs, adiando o fim dessa experiência. O caso extremo de um fã ativo será o fanático que desenvolve uma obsessão e encara toda a sua vida à luz do seu objeto de desejo.” (Vilhena da Cunha, Maria Inês. Universidade Católica Portuguesa - A Figura do Fã enquanto criador. (Artigo publicado no site www.bocc.ubi.pt)

Todos estes fatores, responsáveis pela degeneração do líder, ocorrem não apenas no âmbito político e militar, mas também no ambiente empresarial e nas organizações públicas, por que, como afirma Charles Handy, "empresas, afinal, de contas, são comunidades como outras quaisquer. Podem e devem ter um objetivo comum que as una, mas estão sujeitas às mesmas pressões, aos mesmos imprevistos, à mesmas idiossincrasias do espírito humano de seus companheiros maiores, os Estados. Cometemos um grave erro ao pensarmos em empresas compostas por máquinas com peças humanas e empregarmos a linguagem da engenharia para nos referirmos a elas, em lugar da linguagem de comitês e teoria política."(Handy, Charles. A era da transformação. ED. MAKRON BOOKS, 1997, p. 80)

Concordamos plenamente com Handy, principalmente por vivermos em uma época povoada por empresas cujo patrimônio suplanta facilmente o PIB de inúmeros países e seus presidentes e diretores, acumulam em suas mãos muito mais poder econômico e político do que os mandatários supremos daqueles países.

As empresas transnacionais da atualidade imitam os antigos impérios ultramarinos, espalhando seus tentáculos tecnológicos, econômicos e políticos ao redor de nosso pequeno planeta.

Portanto é perfeitamente aceitável que as análises feitas neste livro, inspiradas em ídolos políticos e militares de diversas nacionalidades, possam ser transferidas e utilizadas para a melhor compreensão de fenômenos de liderança, idolatria e fanatismo presentes nos ambientes empresariais.

Desarmando o teatro da idolatria e do fanatismo para reconstruir a liderança cidadã

Sem o delírio de querer imitar Deus, sem o distanciamento narcísico do líder em busca de sua idolatria, e sem o encantamento voyerista de seus fãs, estimulados pela magia do palco, ocorre o que poderíamos chamar de desencantamento ou despertar da alienação mágica.

Os ídolos têm seus pés de barro revelados e voltam a ser líderes, os fanáticos, acordando do torpor de suas ilusões voltam a ser liderados, e ambos, reestabelecendo o processo relacional e situacional da liderança, redescobrem que todos podem alternar-se em suas posições de líderes e de liderados.

Assim, todos se transformam em atores e plateia, criando uma igualdade de exposição e de recepção de mensagens e de atuações, criando maior equidade na distribuição de responsabilidades e maior comprometimento de todos, que, desse modo, se tornam protagonistas de suas vidas, portanto cidadãos.

Este é o paraíso dos filósofos utópicos, dos religiosos igualitaristas, dos revolucionários socialistas, dos democratas liberais e, até mesmo dos anarquistas convictos. Portanto é o sonho acalentado por todos os homens de boa vontade.

O que dificulta que este estado de comunhão e de igualdade entre os homens seja alcançado?

Nos exemplos de ídolos históricos citados anteriormente, pudemos observar que, no começo de suas vidas, havia esta condição ou, pelo menos, a expectativa de maior Igualdade, Liberdade e Fraternidade. Mas ela ficou, na maioria das vezes, no discurso revolucionário, logo se transformando em intolerância ao diferente, seja pelo regime de terror aniquilante, pelo regime monárquico concentrador de privilégios e extravagâncias na nobreza ou, até mesmo, pelas tecno-burocracias poderosas e gabinetes de comando centralizado, criados pelos chamados regimes socialistas.

Esta discrepância paradoxal é o fenômeno denominado por Festinger, de dissonância afetivo-cognitiva, que se manifesta quando se fala uma coisa e se faz outra bem diferente.

Quando em dissonância, as pessoas perdem sua integridade biopsicossocial, tornando-se desequilibradas, estressadas e, em situações extremas, ao alcançar o ponto de ruptura mental, em neuróticos ou psicóticos. Foi o que observamos na maioria dos exemplos de ídolos citados.

Pois bem, este é um dos fatores psicológicos dificultadores da construção de relações de liderança mais transparentes, igualitárias e democráticas entre as pessoas.

Como este fator se encontra no recôndito de nosso inconsciente, onde residem forças antagônicas em constante conflito, sua solução passa necessariamente pelo desenvolvimento pessoal, viabilizado pelo autoconhecimento e pela competência em lidar com os diversos fatores de nossa inteligência emocional.

Mas isto não basta, pois há outro fator, de natureza política, que atua sorrateiramente, dificultando a ruptura do sistema autocrático. É a alienação do poder pessoal e profissional, que produz um efeito devastador, pois "um profissional alienado é um ser inautêntico. Seu pensar não está comprometido consigo mesmo, não é responsável. O ser alienado não olha para a realidade com critério pessoal, mas com olhos alheios. Por isso vive uma realidade imaginária e não a sua própria realidade objetiva." (FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Ed. Paz e Terra, SP. 1999, p.35).

Uma pessoa que não se conhece e nem tem consciência de seu estado de alienação, terá muita dificuldade de identificar-se como alguém capaz de assumir posições de liderança, restando-lhe, conformar-se à autoimagem que aceitou de si, como eterno desempoderado, portanto, condenado a ser, para sempre, um servil seguidor de outras pessoas.

Este é o tipo de pessoa que os sistemas totalitários produzem, de modo explícito ou sub-repticiamente pois, “fomentando e estimulando paixões violentas no coração de seus seguidores, os movimentos de massa impedem o estabelecimento de um equilíbrio interior. Empregam também meios diretos para efetuar o afastamento do Eu. Descrevem a existência autônoma e autossuficiente como algo estéril e sem significado, e também depravado e mau. O homem que existe por si mesmo é uma criatura desamparada, miserável e pecadora. Sua salvação é rejeitar o seu ego e encontrar uma nova vida no seio de um sagrado corpo coletivo. ” (Hoffer, Eric. In Op. Cit. p. 84)

Este sagrado corpo coletivo é a materialização do Leviatã, de Thomas Hobbes, que além de alienante é destrutivo, pois devora a liberdade individual, bloqueando os talentos, a iniciativa e a capacidade criadora, além de tornar a igualdade e a fraternidade entre os homens, caricaturas desenhadas pelas carências e pelo embrutecimento emocional.

Outro fator, já apontado exaustivamente por filósofos e teóricos é a estrutura econômica e política que construímos em nossas sociedades, segundo a lógica perversa da concentração de renda combinada à distribuição da miséria, da elitização do saber associada à disseminação da ignorância, do consumismo desenfreado de bens em detrimento da conservação dos recursos naturais.

Porém, mesmo diante destes e de outros fatores responsáveis pelo autoritarismo, há soluções para reconstruir a liderança em lugar da idolatria e do fanatismo.

Vejamos a seguir algumas recomendações nesse sentido.


1. A LIDERANÇA AUTO-INTEGRATIVA - Conhecer-se e desenvolver-se como antídoto à idolatria e ao fanatismo

Esta foi a recomendação milenar de Sócrates, o primeiro grande filósofo a dedicar sua vida à educação dos homens. Ele imortalizou o aforismo inscrito no Oráculo de Delfos, considerado pelos gregos o centro do mundo: “Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo.”

Mais de dois mil e quinhentos anos se passaram, desde então, e ainda estamos tentando responder a este apelo dramático, sem muito sucesso.

Outro filósofo, o general chinês Sun Tzu, em seu manual A Arte da Guerra, também nos orientava, há 500 anos antes de Cristo, que:

Aquele que conhece a si mesmo e ao inimigo, deverá vencer todas as batalhas.

Aquele que se conhece, mas não ao inimigo, terá metade da chance de vencer.

Aquele que não se conhece, nem ao inimigo, perderá todas as batalhas.

Portanto, conhecer-se e desenvolver-se constituem competências essenciais para o exercício da liderança. O objetivo final deste processo de autoconhecimento é a difícil arte de recuperação do estado de integridade biopsicossocial, de modo que ocorra o alinhamento entre o pensar, o sentir, o querer, o falar e o fazer, resultando no estado de coerência entre estas funções do Ser.

A psicologia e as demais ciências humanas, foram criadas com o objetivo de ajudar as pessoas a construir este nível integrativo de sua personalidade. Nesse sentido, as psicoterapias constituem recursos indispensáveis, além do amplo repertório de técnicas de meditação e de autoconhecimento. Afinal, como também nos alerta o educador Edgar Morin, o aprendizado da auto-observação faz parte do aprendizado da lucidez. A aptidão reflexiva do espírito humano, que o torna capaz de considerar-se a si mesmo, ao se desdobrar, deveria ser encorajada e estimulada em todos. (Morin, Edgar. A Cabeça bem-feita. Ed. Bertrand Brasil Ltda. RJ. 2015. p. 53).

Conhecer-se, além de ser um alicerce para a construção de um estado mental saudável e feliz, é também um antídoto indispensável para combater a tendência à regressão aos comportamentos primitivos, exageradamente emocionais, típicos das chamadas hordas primordiais, que constituem a base do fanatismo, no entendimento de Freud. Como diz Eric Hoffer, reforçando esta diretriz, apenas o indivíduo que alcançou a harmonia com o seu próprio ego pode ter uma atitude desapaixonada para com o mundo. ” (Hoffer, Eric. In Op. Cit. p. 84)

Ter esta atitude desapaixonada, não significa isolar-se do mundo, mas compreendê-lo criticamente e integrar-se a ele, de modo construtivo, criando oportunidades para a descoberta de si e dos outros seres humanos, e encontrando tempo para a fruição e a celebração da vida.

A atitude crítica e integrativa precisa ser aprendida na família, na escola, no trabalho e na sociedade, como requisito para a constituição da identidade cidadã, que se fundamenta na responsabilidade social e se projeta tanto na dimensão pessoal, quanto nas esferas profissional, social e política.

Portanto, para fortalecer a liderança, protegendo-a da idolatria, é preciso investir no autoconhecimento, no autodesenvolvimento e no fortalecimento da consciência crítica, pois "o homem de consciência não se dobra diante do totalitarismo nem aceita passivamente o conformismo. E é a sua consciência - somente a sua consciência - que lhe permite dizer não". (Frankl, Viktor E. Sede de Sentido Ed. Quadrante, SP, 3a. edição, 2003, p. 31)

O próprio Viktor Frankl, um médico judeu sobrevivente do campo de concentração nazista de Auschwitz, tornou-se um exemplo vivo da importância da consciência e do sentido da vida, mesmo em condições extremamente precárias e desesperadoras. Ao ser libertado pelos aliados, ao final da segunda guerra, ele estruturou a sua teoria e técnica psicológica conhecida como Logoterapia, com o objetivo de orientar as pessoas a descobrir ou construir o seu próprio sentido de vida, como fator essencial para o seu desenvolvimento.


2. A LIDERANÇA ACOLHEDORA E SINERGIZADORA - Fortalecer o sentimento de pertencimento e o comportamento de parceria.

           Uma constatação comum a diversos estudos sobre os movimentos de massa de fanáticos é que eles encontram terreno fértil nos indivíduos desgarrados de seus laços familiares e de outros grupos de referência afetiva.

           As pessoas desprotegidas, portanto, desorientadas, são facilmente cooptadas por promessas grandiloquentes e ilusórias de um futuro perfeito. Eles se portam como se estivessem hipnotizados, deixando-se enganar, como o boneco Pinócchio, quando foi levado para a Ilha da Diversão, um paraíso infantil onde ele poderia brincar, comer e beber o que quisesse, sem ninguém o perturbar. Só quando estava virando burro, por ter bebido demais, é que se deu conta de que fora ludibriado pelos espertos agenciadores. Porém, Pinócchio não era de todo ingênuo, pois gostava de mentir e fazia ouvidos moucos para os alertas de sua consciência, o Grilo Falante.

           Esta fábula é uma pequena metáfora do que ocorre com pessoas comuns, desiludidas com a sua situação presente, que são tocadas pela ambição de ganhar um futuro de abundância e se deixam levar pela fantasia, propaganda ou oratória de algum ídolo espertalhão.

           No estado de carência material, cognitiva e afetiva em que se encontram, as pessoas desgarradas tornam-se o alvo preferido dos líderes manipuladores, aspirantes a ídolos. Foi assim com inúmeros líderes de seitas religiosas, com Napoleão, Mussolini e Hitler, entre diversos outros.

           De fato, "a regra geral, ao que parece, é que quando um padrão de coesão coletiva enfraquece, as condições se tornam maduras para surgimento de um movimento de massa e para o eventual estabelecimento de uma forma nova e mais vigorosa de unidade compacta.” (Hoffer, Eric. In Op. Cit. p.43).

           Referindo-se ao fenômeno de massa produzido na Alemanha nazista, Daniel Pereira Andrade, exemplifica seus efeitos perversos, a partir de observações coletadas no julgamento de Adolf Eichmann, por Hanna Arendt, revelando que "em um mundo de pessoas atomizadas e sem relações, a voz de seus semelhantes não era falada. E, quando falada, o que se escutava era a voz de um outro homem da massa, que compartilhava uma opinião em tudo semelhante à dele, ou melhor, à opinião oficial. Portanto, não se configurava a alteridade. Quer dizer, a única alteridade que se configurava, a de Hitler, era idêntica à dele e, deste modo, já não era uma alteridade, mas uma identidade. Com isto, o próprio “eu mesmo” de Eichmann, que só podia se revelar e ser confirmado na relação com e na presença de outros, se perdeu.” (Pereira Andrade, Daniel. In Op. Cit. p. 266).

           Em oposição a esta triste realidade produzida pelos movimentos de massa, e visando criar condições para que ela não mais se repita, é necessário que nações, comunidades, empresas, escolas e famílias construam sua identidade social, respaldada na cultura democrática, de modo que as pessoas se sintam protagonistas de suas vidas e fortaleçam suas relações, visando a desenvolverem o sentimento de pertencimento em suas relações afetivas e o comportamento de parceria em suas relações de trabalho.

           O fortalecimento do senso de pertencimento, resultante da identidade coletiva de um grupo ou comunidade específica, torna seus valores mais consistentes e seus objetivos mais claros, fazendo com que dificilmente os valores desagregadores de sistemas invasores consigam se sobrepor à força de coesão do sistema relacional, resultado da comunhão obtida pela liderança legitima e orientada por princípios sólidos e objetivos compartilhados. Assim, concordamos com Castells quando diz que a identidade social dá origem a formas de resistência coletiva diante de uma opressão que, do contrário, não seria suportável. ” (Castells, Manuel. O Poder da Identidade. Ed. Paz e Terra.SP2008.  p. 25)

           Esta realidade foi demonstrada pelos heroicos 300 cidadãos militares de Esparta que,  liderados por Leônidas, combateram o formidável exército de 300.000 mercenários de Xerxes, e com sua bravura conseguiram, na Batalha de Termópilas, frustrar a invasão da Grécia pelos Persas, garantindo a preservação dos valores fundamentais da cultura grega, que serviram de base na formação de nossa civilização ocidental.  

           Outro exemplo histórico da força da identidade social de uma pequena comunidade nacional nos foi brindado pela Dinamarca, que durante os anos de dominação das forças nazistas de ocupação, conseguiu a proeza de impedir que judeus daquela nacionalidade fossem enviados aos campos de concentração para serem exterminados. Em consequência, “na Dinamarca, os comandos nazistas se negaram a massacrar massas inocentes. E isto ocorreu porque os soldados e policiais foram influenciados pela resistência política aberta desta população, que se recusava a entregar qualquer ser humano ao extermínio, exatamente porque eram homens cujos direitos deveriam ser respeitados. De fato, onde houve resistência declarada e baseada em princípios, os nazistas não foram capazes de perpetrar seus crimes. Eles deixavam de ver o massacre dos povos com naturalidade e o mito da “dureza impiedosa” revelava-se um autoengano.“ (Pereira Andrade, Daniel. In Op. Cit. p. 273).

           Estes dois exemplos clássicos da força da identidade social, enquanto agente de preservação de um povo ou de uma cultura, quando diante de ameaças de inimigos poderosos, também podem inspirar coletivos humanos mais restritos, tais como as organizações sociais.

           Nesse sentido, as lideranças organizacionais, além de sua função tradicional de cuidar da produção de bens, serviços e experiências, orientadas pela missão e objetivos organizacionais, também precisam dedicar-se ao desafio de fortalecer a cultura organizacional, consolidando seus valores, princípios e critérios em todas as pessoas que trabalham na organização, de seu presidente ou proprietário até o trabalhador responsável pela função mais simples.

Todos precisam sentir-se, não apenas funcionários ou servidores, mas donos. No caso das instituições públicas por terem conquistado legitimamente o seu cargo, por meio de concurso público. E nas empresas privadas, com a implantação da gestão participativa, da cogestão (representantes do capital e do trabalho assumindo as deliberações empresariais, como é comum na Alemanha), com a distribuição de lucros e dividendos, com a constituição de cooperativas de trabalho e até mesmo com a participação acionária dos trabalhadores, como já é prática na empresa brasileira Promon, desde a década de 70 (você poderá conhecer este e outros exemplos, ao ler o tópico anterior publicado em 13.07.2017 aqui no LinkedIn – Desafios da Liderança Contemporânea (5): Proteger a liderança de quem? Dos gerentes (chefes) ilegítimos).

Fechando um pouco mais o foco de nossa análise, podemos recomendar o fortalecimento das pequenas comunidades de trabalho que constituem as Equipes, que são as Unidades coletivas componentes das instituições e empresas mais modernas.

Infelizmente muitos gestores ainda não despertaram para esta realidade dos times de trabalho, pois ainda estão presos ao velho modelo de gestão “um a um”, reproduzindo o jeito de chefiar dos supervisores da revolução industrial, que ao longo das intermináveis linhas de produção, se posicionavam atrás dos operários corrigindo seus movimentos individualmente. Assim, estes gestores só vêm indivíduos isolados executando, solitariamente, suas funções.

Este é um dos motivos que, ainda hoje, faz com que muitos gestores evitem, ao máximo, realizar reuniões com seus subordinados (sim, não são colaboradores), pois não saberiam o que fazer diante da diversidade de ideias, opiniões e críticas e dos conflitos decorrentes disso.

Não sabem eles que os conflitos de ideias constituem o motor das mudanças, que podem resultar em melhorias constantes dos processos de trabalho e da empresa, como um todo. E que ao aprender a gerenciar conflitos eles estarão criando a tão sonhada sinergia, que constitui um verdadeiro talento coletivo, sempre disponível no âmbito dos coletivos de trabalho, quando estes se transformam em equipes.

No contexto organizacional, é no âmbito das equipes que encontramos o primeiro nível de pertencimento e de parceria que as lideranças podem e devem desenvolver. As equipes constituem os alicerces da sinergia que irá estruturar organizações mais eficientes, eficazes e efetivas.

Hoje em dia os gestores podem contar com a ajuda de métodos e técnicas da Educação Corporativa, que oferece os denominados Programas de Desenvolvimento de Equipes, cujo objetivo é fortalecer o senso de pertencimento e as relações sinérgicas de trabalho, em consonância com a cultura participativa e a liderança legítima.

3. A LIDERANÇA EDUCADORA - A Educação libertadora como construtora de líderes cidadãos

A idolatria e o fanatismo brotam em terrenos da ignorância, do medo e da falta de consciência critica. Portanto, não há melhor antídoto para este mal do que a Educação, não no sentido escolar tradicional, que se processa entre quatro paredes e se limita ao ensino acumulador de conhecimentos inertes, mas Educação como uma função viva, interativa e transformadora da comunidade e da realidade, capaz de apreender o mundo e a vida humana cotidiana transformando-os em melhores condições materiais, sociais, culturais e políticas.

É o que os antigos gregos denominavam de Paidéia, uma educação para a cidadania, que moldava a cultura de aprendizagem coletiva e de transformação permanente da realidade social e política das cidades gregas.

Esta espécie de educação cidadã é conduzida por líderes educadores, comprometidos com o desenvolvimento de competências individuais e coletivas, capazes de tornar as pessoas mais livres, conscientes e interdependentes, contemporâneos da atual Era do Conhecimento.

Como confirma Paulo Freire, ao declarar que "a era do conhecimento é também a era da sociedade aprendente: todos tornaram-se aprendizes. A pedagogia da escola cidadã, a pedagogia para e pela cidadania, já não está centrada na didática, mas na ética e na filosofia. Ela se pergunta como devemos ser para aprender antes de perguntar o que devemos saber para aprender e ensinar."(Freire, Paulo. Educação e Mudança. Ed. Paz e Terra, SP. 1999 pag. 301).

Transformar nossas instituições e organizações em comunidades aprendentes é um desafio bem atual das lideranças atuais e mais ainda para nós brasileiros, tão acossados pela crise ética e de cidadania que estamos vivendo, produzida por nossos principais líderes políticos.

A educação deve ocorrer no dia-a-dia da organização, preparando as pessoas para enfrentar situações conhecidas de modo inovador e para lidar com situações desconhecidas, com maior tranquilidade e prontidão.

Nesta perspectiva da educação cidadã o líder está sempre educando aqueles a quem influencia, pois em toda relação interpessoal há sempre a transferência de conhecimentos tácitos, que constituem nossas atitudes, valores e habilidades, (que de tão impregnados em nossa personalidade já não nos damos conta de que os temos). São automáticos e espontâneos. Neste caso, os liderados aprendem, intuitiva e emocionalmente, com o exemplo de seus líderes, mesmo sem perceber.

O líder pode, entretanto, assumir o papel de educador, de modo consciente e deliberado. Para isto precisa gerenciar seu tempo destacando momentos para, sistematicamente, disseminar seus conhecimentos, seja em reuniões programadas com este objetivo, seja em contatos pessoais de orientação a seus colaboradores (prática do coaching).

Para assumir o papel de educador o líder deve inspirar-se no maestro, que junto à sua orquestra, mobiliza talentos, orientando o desempenho de cada músico, de modo a obter o melhor que cada um possa dar de si em benefício da qualidade do coletivo.

Ser educador é o papel mais relevante da liderança, pois além de garantir a implementação de ações mais competentes, ele estará preparando sua equipe e cada um de seus colaboradores para lidar com problemas e oportunidades que encontrarão no futuro.

Um aspecto da liderança educadora que precisamos destacar é a gestão do conhecimento coletivo, que se expressa na geração, no estoque e na disseminação de informações.

A disseminação de informações e a geração de conhecimentos é um processo que precisa ser liderado com muito empenho e persistência, de modo a superar a costumeira resistência que temos em revelar o que sabemos para os outros, por egoísmo ou por medo de perdermos vantagens que auferimos com a posse destes conhecimentos.

O mito que está por trás desta resistência vem de épocas remotas em que a posse de terras era nosso maior símbolo de poder e de status. Na atual era do conhecimento em que vivemos, ainda mantemos a imagem mental de que se disseminarmos nossos conhecimentos estaremos perdendo algo, como acontece quando doamos um pedaço de terra a alguém. Não percebemos que ocorre exatamente o contrário, pois quando temos a coragem e o altruísmo de ensinar algo a alguém estamos também criando um laço de reciprocidade com ele, que o estimula a passar o que sabe para nós. Além disso, quando passamos adiante o que sabemos, continuamos com este saber (informações e conhecimento) e o consolidamos mais ainda em nosso cérebro.

Outro mito que também dificulta a disseminação das informações encontra-se do lado do receptor quando ele não reconhece a relevância de conhecimentos vindos de colegas que já conhece há muito tempo. É a síndrome do “santo de casa que não faz milagres”. É muito comum as pessoas desqualificarem informações quando são passadas por colegas, apesar de valorizá-las quando transmitidas por desconhecidos. Esta falta de humildade para aprender com os pares é um problema muito sério que precisa ser enfrentado pela liderança educadora.

Cabe à liderança cidadã quebrar tais barreiras psicológicas e culturais, estimulando relações de aprendizagem entre seus colaboradores e construindo, assim, ambientes de aprendizagem coletiva no dia-a-dia de sua Instituição ou Organização.

Para concretizar estes ambientes de aprendizagem, as lideranças cidadãs contam com o método do diálogo, ao invés das exposições monologais ou das discussões que geram debates disfuncionais. Afinal, como nos orienta Paulo Freire:

"É no diálogo que nos opomos ao antidiálogo tão entranhado em nossa formação histórico-cultural, tão presente e, ao mesmo tempo, tão antagônico ao clima de transição. O antidiálogo, que implica uma relação de A sobre B, é o oposto a tudo isso. É desamoroso. Não é humilde. Não é esperançoso; arrogante; auto-suficiente. Quebra-se aquela relação de "empatia" entre seus pólos, que caracteriza o diálogo. Por tudo isso o antidiálogo não comunica. Faz comunicações.

Precisávamos de uma pedagogia da comunicação com a qual pudéssemos vencer o desamor do antidiálogo. Lamentavelmente, por uma série de razões, esta postura - a do antidiálogo - vem sendo a mais comum na América Latina. Educação que mata o poder criador não só do educando mas também do educador, na medida em que este se transforma em alguém que impõe ou, na melhor das hipóteses, num doador de "fórmulas" e "comunicados", recebidos passivamente pelos seus alunos.

Não cria aquele que impõe, nem aqueles que recebem; ambos se atrofiam e a educação já não é educação."(Freire, Paulo. Educação e Mudança. Ed. Paz e Terra, SP. 1999, p. 69)


4. A LIDERANÇA CONECTORA - A internet e as redes sociais como antídotos da idolatria e do fanatismo.

A ciência e a tecnologia, com seus avanços exponenciais e desconcertantes, vêm trazendo soluções até então inimagináveis há algumas décadas atrás. E seus impactos alcançam todas as dimensões da vida humana individual e coletiva.

Em decorrência da revolução tecnológica, hoje vivemos uma época de desencantamento mágico, de despertar, promovido pelo explosivo crescimento dos palcos, tanto em espaço quanto em tempo, de modo que todos agora podem subir e desempenhar seus papéis de protagonistas, quando o quiserem.

O que antes era restrito a um pequeno espaço territorial, ganhou dimensão planetária, oceânica, transbordando sobre barreiras econômicas, culturais e linguísticas.

O que antes era originado num determinado centro irradiador de informações, de comando e de controle, hoje ganhou as ruas e os lares, criando uma miríade de centros de comunicação e de liderança.

O que antes era limitado no tempo, com horário para começar e terminar, como os comícios, os shows, os programas de rádio e os filmes, agora são permanentes, estão ligados 24 horas, emitindo informações, criando sensações, animando emoções e amplificando motivações.

Estamos nos referindo ao grande palco mundial armado pela revolução da internet, que é usado inclusive para escrever livros nas nuvens, como este que você está lendo e participando de sua construção, agora.

As tecnologias da informação mudaram também o perfil do mundo político, alterando as configurações de poder e a relação de dominação exercida secularmente pelo Estado em relação à Sociedade pois, como disse Manuel Castells, "ao tomar contato com as novas tecnologias da informação, o estatismo, ao invés de dominá-la, desintegrou-se; e essas novas tecnologias libertaram as forças da formação de redes e da descentralização, comprometendo a lógica centralizadora das instruções transmitidas sempre de cima para baixo e a vigilância burocrática vertical. Nossas sociedades (consequentemente) não são prisões bem organizadas; são selvas caóticas." (Castells, Manuel. O Poder da Identidade. Editora Paz e Terra. 2008, p. 348)

Além desta metáfora da "selva caótica", outra metáfora famosa para descrever nossa sociedade contemporânea é o conceito de "aldeia global", sugerido por Marshall McLuhan, educador e filósofo canadense, famoso por suas projeções no campo da comunicação humana.

Realmente, McLuhan foi premonitório quando em 1964, portanto há mais de 50 anos atrás, falava em circuitação eletrônica (ao se referir ao que hoje denominamos de internet), quando dizia que ainda iriamos viver em uma aldeia global.

Seu pensamento é tão atual, que poderíamos usar suas palavras ao descrever a revolução protagonizada pela eletricidade, a novidade de seu tempo, para nos referir à atual revolução da internet, que estamos vivendo hoje.

Leiam se tenho razão ou não. Dizia ele: “Até recentemente, nossas instituições e disposições sociais, políticas e econômicas – obedeciam a uma organização unidirecional. (...) A obsessão com as velhas estruturas de expansão mecânica e unidirecional, do centro para a periferia, já não tem mais sentido em nosso mundo elétrico. A eletricidade não centraliza, mas descentraliza. (...) A energia elétrica, faz com que todo lugar seja centro, sem exigir grandes conjuntos e aglomerações.” (McLuhan, Marshall. Os Meio de Comunicação como Extensões do Homem. Ed. Cultrix. 1968. p. 38).

Este efeito descentralizador ao qual ele se refere, ganhou uma dimensão globalizadora quando constatamos o que a Internet vem promovendo em nosso mundo e tempo atual.

De fato, com a internet, estamos vivendo a revolução da revolução, mesmo que muitas pessoas, algumas situadas em posições de destaque em governos e instituições, ainda não percebam ou não valorizem o que está ocorrendo.

Esta negação vem do estranhamento quanto a um novo modo de lidar com as informações, de produzir conhecimentos e de alterar relações simbólicas de poder.

Se “a nova configuração e estruturação elétrica da vida cada vez mais se opõe aos velhos processos e instrumentos de analise, lineares e fragmentários, da idade mecânica” (McLuhan, Marshall. in Op. Cit. p. 31) imagine então a dificuldade que estas pessoas, mais resistentes às mudanças tecnológicas, estão tendo ao lidar com um sistema complexo e aparentemente caótico que é a internet, que inaugura uma nova lógica de comunicação e de trabalho.

Mas, a resistência à mudança quase sempre ocorre quando as pessoas se vêm diante do desconhecido e sentem medo de perder a estabilidade e a segurança do que já conhecem e controlam.

Para ilustrar o que estamos dizendo, as reações ao desarranjo econômico, cultural e político promovido pela eletricidade e, hoje, pela internet, também foram sentidas há séculos atrás com a introdução da escrita tipográfica pois, ainda segundo McLuhan, “a palavra impressa, graças à sua intensidade especializada, quebrou os elos das corporações e mosteiros medievais, criando formas de empresas e de monopólios extremamente individualistas. ” (McLuhan, Marshall. in Op. Cit. p. 28)

Voltando ao impacto trazido pela tecnologia da internet, é notório que seus efeitos se fazem sentir muito além do campo da informação e da comunicação.

Sua interferência é cultural, econômica e política pois, ao criar a chamada cultura do downloud e do uploud, qualquer pessoa, com um computador ou celular, pode produzir e receber imagens e informações que irão impactar no comportamento de outras pessoas, ao redor do planeta, quebrando o modelo tradicional unicêntrico e hierárquico, que viabilizava a existência de donos do saber, e consequentemente, do poder.

Desse modo, como fundamentos para o exercício da liderança legítima, contra as estruturas de poder autocráticas, “as novas e poderosas tecnologias da informação podem ser empregadas pelos cidadãos para que estes aprimorem seus controles sobre o Estado, mediante o exercício do direito de acesso a informações armazenadas em bancos de dados de uso público, a interação on-line com seus representantes políticos e o acompanhamento de sessões políticas ao vivo, eventualmente com comentários, também ao vivo sobre tais sessões. Além disso, as novas tecnologias permitem aos cidadãos filmarem eventos, podendo assim fornecer provas visuais de abusos e excessos. ” (Castels, Manuel. in Op Cit. p. 349)

Este é o resultado do ambiente cultural e político viabilizado pela Web 2.0. Criaram-se as redes virtuais que podem conectar todos com todos. Para melhor esclarecer esta novidade, Gilles Deleuze e Félix Guattari (1995) “criaram o conceito de rizoma para designar estruturas que não possuem um tronco de onde saem ramificações. Um rizoma não finda: está sempre em construção. Em uma estrutura rizomática, as ramificações possuem ligações entre elas, são os nós ou links.” (Ana Carolina Sampaio Coelho – A sociedade em rede: a revolução é compartilhada. Publicado em Intexto, Porto Alegre, RS. UFRGS, v.02, n.25, p. 165-173, dez. 2011. p. 167)

Este rizoma sócio-virtual, que se espalha ao redor de nosso planeta, tem sido responsável por diversas revoluções, tais como a Primavera Árabe e outros levantes populares ocorridos no norte da África e em países árabes, além de terem desempenhado um importante papel no movimento Fora Dilma.

“No Brasil, com os movimentos sociais de junho de 2013, e mais recentemente de março e abril de 2015, estamos vivenciando a manifestação clara da liderança cidadã, construída por jovens estudantes secundaristas e universitários, além de trabalhadores, pequenos empresários e donas de casa, que mediados pelas ferramentas da internet, tais como Facebook, WhatsApp, Instagram, Youtube e outras, tecem as redes sociais de liderança difusa, multicêntricas e anárquicas.

Diante deste fenômeno típico do século XXI muitos teóricos tradicionais e articulistas de jornais e revistas estão atônitos, pois não compreendem a natureza relacional e sistêmica da liderança.

A liderança está sendo protagonizada por milhares de líderes que se complementam, se contradizem, se amplificam e se repelem, e se alternam em relações de liderança espontâneas e situacionais. Isto é a expressão da liderança cidadã em seu estado mais puro, portanto antes de ser modelada pelo formalismo burocrático e hierárquico da gestão organizacional, que visa organizar e dar direção e foco às motivações e aspirações da miríade de lideranças, transformadas em seguidores disciplinados na execução de trabalhos coletivos.” (Matos, Ruy. Liderança Cidadã. Amazon.com.br. 2015, p. 8)

Este é o cenário também percebido e interpretado por Pierre Lévy (1996) quando revela que “o ciberespaço manifesta propriedades novas que fazem dele um precioso instrumento de coordenação não-hierárquica, de sinergização rápida das inteligências, de troca de conhecimentos, de navegação nos saberes e de autocriação deliberada nos coletivos inteligentes.” Só assim, acredita Lévy, a humanidade poderá reestruturar o seu futuro. O espaço virtual deverá assumir, cada vez mais, funções de espaço político. Este lugar de trocas alarga as possibilidades de discussão e luta pelo exercício pleno da cidadania.” (Apud. Ana Carolina Sampaio Coelho. In Op. Cit. p. 170).

A nova cidadania que, descobrindo-se dona do poder originário da sociedade, começa a traçar novas estratégias de resistência e de confrontação ao poder burocrático do Estado, quando este se desliga das necessidades e anseios sociais.

Portanto, podemos dizer que a tecnologia da informação fez nascer um novo arranjo político, que inviabiliza ou dificulta muito, os movimentos de massa, instrumentos de mobilização dos regimes autoritários. É a Sociedade em Rede, cujos impactos Castells nos apresenta a seguir:

"Além da complexa relação com as mais variadas formas de expressão de poder/representação política, o Estado-Nação vem sendo cada vez mais submetido a uma concorrência mais sutil e problemática de fontes de poder indefinidas e, às vezes, indefiníveis. Trata-se de redes de capital, produção, comunicação, crime, instituições internacionais, aparatos militares supranacionais, organizações não-governamentais, religiões transnacionais e movimentos de opinião pública. Em um nível abaixo do Estado, há as comunidades, tribos, localidades, cultos e gangues.

Os Estados-Nação frequentemente terão de confrontar-se com outros fluxos de poder na rede, que se contrapõem diretamente ao exercício de sua autoridade. (Castells. In Op. Cit., p. 353)

A nova forma de poder reside nos códigos da informação e nas imagens de representação em torno das quais as sociedades organizam suas instituições e as pessoas constroem suas vidas e decidem o seu comportamento. Este poder encontra-se na mente das pessoas. Por isso o poder na Era da Informação é, a um só tempo, identificável e difuso. Sabemos o que ele é, contudo não podemos tê-lo, porque o poder é uma função de uma batalha ininterrupta pelos códigos culturais da sociedade. (Castells, Manuel. in Op. Cit. p. 423)

As redes virtuais, que instrumentalizam a nossa atual Sociedade em Rede, representam um antídoto para a idolatria e o fanatismo, promovendo o fortalecimento da democracia e da cidadania. Afinal, nos regimes democráticos, há pouco espaços escuros onde líderes possam se esconder para se transfigurar em ídolos deificados por fanáticos.

Isto por que as luzes da cidadania iluminam e tornam transparentes as tentativas de exacerbação de papéis despóticos, promovidos por líderes narcisistas combinados ao desempenho de papéis de subserviência e de dependência por seguidores, aspirantes a fanáticos.

Atenção leitor-parceiro: em breve publicarei aqui, mais uma parte de nosso livro Desafios da Liderança Contemporânea.

Acompanhe e participe dessa construção coletiva. Aguardo você.


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Marina Laura Dutra

Coach de Relacionamento Inter e Intrapessoal, Coach de Casal, Team e Leader Coach, Analista Comportamental DISC, Consultora Organizacional em Desenvolvimento Humano

7 a

Olá, Ruy. Li com muito gosto, até onde já está publicado, seu livro em “construção compartilhada” OS DESAFIOS DA LIDERANÇA CONTEMPORÂNEA. Como sempre, você consegue análise crítica, profundidade, embasamento, clareza, sem tornar a obra pesada ou de difícil leitura. Parabéns, amigo querido! Enquanto lia, fui anotando algumas indagações que me vinham, que vou registrar aqui. Outras, como eu sabia ser possível, foram respondidas adiante, enriquecendo meu pensar. Uma primeira afirmação que me trouxe dúvida e que voltei a ela mais de uma vez, tentando ver pelo ângulo que me pareceu afirmado, mas que não consegui concordar ou alcançar, foi: “Nós estamos vivendo, intensamente, este estágio da liderança cidadã, viabilizado pelas novas tecnologias, pela automação, pela internet e, especialmente, pelas redes sociais.” Por toda a caracterização que, de forma tão pertinente, você faz da liderança cidadã, não consigo vê-la ainda presente com intensidade, mesmo acreditando na potencialidade posta pela tecnologia, pela internet, pelas redes sociais. Aí, quando você fala do consumismo, que é marca de nossa sociedade atual ("É notório que o consumismo, criado e mantido pelo sistema capitalista de produção em massa, tornou-se o mais recente movimento de massas, constituindo uma verdadeira marca de nossa sociedade atual."), sob meu ponto de vista, ele se vale justamente da referida potencialidade para ter a dimensão que tem, para provocar um “efeito manada”. Ainda em relação ao consumismo, outra indagação me veio, quase como um desafio diante do seguinte trecho (aqui, você pode dizer, Marina, não viaja!!! Kkkk): “...Consideramos que as massas de consumo, mesmo desprovidas de um ídolo central, possuem características similares aos demais exemplos militares, políticos e religiosos citados... Portanto, tal comportamento coletivo também pode ser classificado como fanatismo, mesmo que não se consiga identificar fisicamente, um ídolo específico para ser adorado.” A indagação é a seguinte: será possível identificar uma entidade de alguma natureza (embora não seja física), que seja o ídolo central que movimenta a massa de consumo? Será possível? Não tenho a resposta ainda. Mas se o enxergarmos e nominá-lo, será mais fácil superá-lo? Outro ponto: no meu entender, ainda se vive, como estágio imaturo de sociedade, a necessidade do “salvador da pátria” e do “vilão da pátria”, que nos desresponsabilizam pela situação vigente e pela construção do sonho. E aí, a ação manipulativa da mídia parece-me muito presente, afastando-nos do exercício da liderança cidadã! A “revelação dos pés de barro dos ídolos” e o “acordar do torpor dos fanáticos” é um processo, que pode ser demorado e, enquanto isso, o poder das redes é utilizado para retardar esse processo. Ou não? Estou com Thiago de Mello, quando diz ”Faz escuro, mas eu canto, porque a manhã vai chegar!” Mas não sei nem se já estamos na madrugada, ainda que veja o avançar de outros movimentos que fortalecem o caminhar para a liderança legítima. Alguns pontos que você abordou, ao discutir a liderança cidadã, mas que eu gostaria que você explorasse mais (não necessariamente no texto do livro, pode ser em uma rápida resposta aqui, viu? Ou pode dizer – Está lá, Marina, você que não captou!!!! Kkkk): - Como você vê os valores e as raízes da liderança cidadã nascendo (ou não) no seio da família de hoje? Às vezes, parece-me que as relações verticalizadas, p. ex. , entre pais e filhos, mudam de polo (pais tiranizados pelos filhos!), não evoluindo ainda para uma relação genuína de construção da horizontalidade madura. - No mesmo sentido, como anda o papel da escola na preparação do solo para uma liderança cidadã, pela prática, ainda que experimental, de seus princípios e valores (considerando inclusive que as crianças atualmente são “institucionalizadas” muito cedo)? Estas instâncias (família / escola) preparam /despreparam as pessoas para a vida nas organizações, além de poderem ser vistas, elas próprias como organizações. O que pode fortalecê-las como embrião da liderança cidadã? Bem, meu amigo, estas são algumas das questões que a leitura prazerosa de seu livro colocou em minha mente. Muito obrigada por nos brindar com tão relevante contribuição ao avançar da consciência. Um grande abraço Marina Laura

Ruy Matos

PSICÓLOGO ESPECIALISTA EM LIDERANÇA E SAÚDE MENTAL - 22 mil seguidores

7 a

Caro Rogaciário, obrigado pelo comentário, que nos estimula a continuar refletindo e pesquisando sobre Liderança, este tema tão atual e instigante. Aguardo sua participação nos artigos que virão pela frente. Grande abraço.

Excelente abordagem. Coloca o leitor no âmago de variadas e atualissimas questões nos âmbitos organizacionais, políticos, de Estado,etc com tamanho vigor que nos sentimos envolvidos de alguma forma pelas influências de "lideranças desvirtuadas"( expressão deste leitor). Obra com gosto de quero mais. Pretendo divulgar e continuar a leitura. Parabéns ao Ruy pela atualidade do tema.

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