Desafios na era do capital improdutivo
Ao longo do primeiro capítulo de seu livro “Introdução À Economia”, Gregory Mankiw elenca alguns princípios básicos que justificam a tomada de decisão individual. Dentre eles, vale destacar o quarto: “As pessoas reagem a incentivos”. Apesar de soar um tanto quanto óbvio, trata-se de uma proposição que jamais deve ser ignorada na realização de análises socioeconômicas, dado que grande parte da conjuntura global pode ser, em instâncias iniciais, compreendida a partir dela.
Tomando como exemplo a elevada concentração de riqueza em âmbito mundial, organismos multilaterais como a ONU e instituições como a Crédit Suisse atestaram, em estudos recentes, para as consequências de um sistema produtivo que premia a negociação de papéis em patamares superiores aos do investimento produtivo, aqueles realizados na chamada economia real. A eficiência marginal do capital estaria rapidamente se diluindo, afogada pelo elevado custo de oportunidade de empreender em um contexto de alto desemprego e insuficiência de demanda.
Tudo isso é captado de forma exemplar por Ladislau Dowbor em seu livro “A Era Do Capital Improdutivo”, no qual são compilados, além dos citados no parágrafo acima, estudos de diversas fontes para demonstrar, de forma inequívoca, como a maneira pela qual a atividade econômica está organizada conduz a uma alocação ineficiente de recursos, resultando na exclusão de milhões de pessoas do processo e em suas posteriores consequências, como o aumento da pobreza e da fome e na exaustão dos recursos ambientais para proveito de poucos.
Deixando de lado quaisquer julgamentos morais, seria impossível explicar nosso modelo econômico sem, antes de mais nada, lembrar do que Mankiw ressalta com o princípio de número 4. Enquanto perdurar o quadro de incentivos desajustados, será improvável vivenciar um ambiente de crescimento inclusivo e economia pujante.
Sem nos apegarmos a “ismos” e fundamentalismos de qualquer natureza, o que de fato proporcionaria a tão sonhada alocação eficiente dos recursos seria a mudança nas regras do jogo, uma revisão daquilo que entendemos por governança. A questão é obviamente muito mais complexa do que isso, mas seria impensável dar o primeiro passo sem antes rever como se retroalimenta o nosso sistema de incentivos.