Desapego

Desapego

Reflexões durante a Pandemia - Covid 19

Este ano de 2020, sem dúvida, vai ficar para a história de todos! Estão sendo muitas as lições!

Comecei a pandemia refletindo muito sobre a vulnerabilidade. Esta palavra inicialmente dá uma conotação de fraqueza, afinal não podemos ser vulneráveis né? Pois é, o que percebi é que este pensamento nada mais é que a falsa ilusão do controle. Somos vulneráveis, sim! E olhar para isso é sair da ilusão, do medo e nos fortalecermos com a coragem e o autoconhecimento para saber agir e reagir nestas situações das quais não temos controle.

“Vulnerabilidade é sinônimo de coragem. Coragem de enfrentar tudo e estar vulnerável para melhorar e não desistir.” (Brené Brown)

No mundo corporativo, as pessoas são cobradas e exigidas para não serem vulneráveis, e assim, limitamos estes profissionais de terem ideias, coragem de arriscar e errar, pois o foco é tão grande nos resultados de curto prazo que um erro pode apagar tantas vitórias já conquistadas.

Após olhar muito para a minha vulnerabilidade nesta quarentena, comecei a naturalmente exercer sem perceber o desapego de várias formas. Temos em casa o hábito de a cada seis meses colocarmos o que não usamos ou o que não queremos mais para doação. Eu tenho até um hábito que acham engraçado que é não comprar novos cabides, ou seja, roupa nova para entrar no armário significa que terei que tirar uma para doação. E nem sempre é fácil!

Comecei, então, na quarentena a jogar fora documentos que guardava por toda uma vida. Até contracheques desde o 1o. emprego, na expectativa de que no processo de aposentadoria poderia precisar. E exames antigos? Sempre achei relevante guardar o histórico de determinadas questões da minha saúde! Será? Se não precisei durante toda uma vida, por que iria precisar agora? Tenho 4 HDs com um total de 3 Terabytes de arquivos armazenados e o meu filho me perguntou como posso guardar tanto lixo? E eu respondi que eram coisas muito importantes. Ao tentar organizar estes HDs, percebi que o lixo digital que guardo é infinitamente maior! Sabem aqueles materiais técnicos ou arquivos de empresas que já trabalhou que você acha que pode precisar um dia para alguma consulta? Não fazia mais sentido guardar. Aliás, nunca fez.

Isso me fez lembrar do seguinte provérbio chinês:

Certa feita, um imperador chinês recebeu de presente de um país vizinho um cavalo que podia viajar milhares de quilômetros por dia.
Com tristeza, ele pensou: “Mesmo que eu viaje milhares de quilômetros neste excelente cavalo, de nada adiantará se meus seguidores não me acompanharem”.
Conversou com seu ministro, que concordou. Assim, o imperador devolveu o cavalo carregado de ouro e seda.
Não devemos guardar o que não necessitamos ou não nos é útil. Para que guardar coisas inúteis?

Esta reflexão me fez olhar para outros desapegos, como no âmbito material, por exemplo, o meu carro que tanto adorava e que há meses na garagem me faz refletir se preciso mesmo de um carro tão grande e caro. E o armário cheio de roupas, quando não as uso há tanto tempo? Será que irei precisar de todas elas ainda? As flores na varanda me alegram hoje muito mais que as joias na gaveta.

E aí fiquei pensando novamente no mundo corporativo. Como estão os meus colegas que tinham maior orgulho do tamanho da sua sala e o tamanho do encosto das suas cadeiras que representavam poder hierárquico e hoje estão em suas casas no seu home office? E as mulheres como eu, que não gostavam de repetir suas roupas, sapatos e bolsas, pois a elegância fazia parte da imagem de sua posição? E quanto ao prazer de estar sempre em aviões e aeroportos, cujas horas de voo representavam a relevância do seu cargo?

Lembro que quando saí do mundo corporativo de multinacional, fiquei por um tempo sofrendo de abstinência. Saudades dos aeroportos, dos meus ternos e tailleurs, do celular que não parava de tocar e da caixa de e-mails que não dava conta de ler os mais de 200 que recebia diariamente. Não foi fácil, acreditem!

Mas hoje vejo que o meu desapego não começou nesta pandemia! Venho me desapegando há muito tempo! Encarei a minha vulnerabilidade com coragem, me reinventei, empreendi e voltei a estudar me formando agora em Direito.

E para quem ainda não se desapegou, este é o melhor momento para nos percebermos vulneráveis o suficiente, e, assim, com coragem, nos reinventarmos a cada dia e só deixar apegado aquilo que realmente tem valor!

E termino esta reflexão com a seguinte frase:

“Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você está nú. Não há razão para não seguir seu coração.”
Steve Jobs
Ana Gomes

Administrative Assistant at Telesat

4 a

Maravilhoso. Me identifiquei muito com seu texto.

Matheus Lettieri Junqueira

Diretor Financeiro - CFO Grupo Primavera

4 a

Muito bom Antonina! Me identifiquei em diversas situações! Como vc disse, desapego é coragem. Coragem não é o oposto de medo, coragem é seguir adiante mesmo com medo.

Cabreira C N

Diretor de Telecomunicações | Consultor | Palestrante | GetCom Consultant Owner

4 a

Excelente texto Antonina. Parabéns pelo teu primeiro artigo. Tenho também pensado muito nos anos que me restam e escrito bastante. Tenho ficado tanto tempo em casa que minhas roupas de sair pensam que morri.

Marcia Thimoteo Azevedo

Diretora de Relações Institucionais na ABMEN - Associação Brasileira dos Mentores de Negócios

4 a

Antonina Paula R. Buriti me vi representada em muitos trechos dessa sua reflexão. Obrigada por compartilhar

Fernanda De Stefano

Relações Públicas na BRETON Curitiba

4 a

"As flores na varanda me alegram hoje muito mais que as joias na gaveta"...também estou nessa frequência...As flores nos dão uma lição diária de vulnerabilidade e entrega e nem por isso deixam de alegrar quem as contemplam.

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