DESCOMPLICANDO A NEUROPLASTICIDADE
Neuroplasticidade é a capacidade essencial do cérebro, de mudar.
Antes de mergulharmos nesse universo de conhecimento, existem alguns detalhes sobre a neuroplasticidade que preciso compartilhar. Quando esse processo acontece, três tipos de alteração acontecem no cérebro.
Primeiro, as alterações químicas, processos que acontecem rapidamente, como bombas explodindo, promovem melhorias de curto prazo e também na memória de curto prazo, mas se vão tão rapidamente como aparecem, e em pouco tempo você volta novamente na estaca zero, ou no ponto de onde partiu, isso é o que acontece quando você faz alguma coisa somente uma vez, não provocando mudança duradoura em seu cérebro, são apenas bombas químicas que explodem como fogos em uma festa junina, são aprazíveis, mas de pouca duração. Essa primeira alteração não tira ninguém da zona de conforto, e quando acontece, promove mudanças apenas em nível de comportamento, podendo rapidamente retornar ao estado inicial, as alterações químicas somente não provoca impacto duradouro.
Segundo, alterações estruturais do cérebro. Claro que é preciso o estouro das bombas químicas, mas ela é somente o primeiro passo, para que aconteça alteração na estrutura cerebral é preciso uma pratica repetida e por um longo período de tempo, assim a estrutura começa a ser alterada. A repetição altera o tamanho do cérebro, pois suas conexões são aumentadas centenas de vezes e novos dendritos são formados, criando uma nova memória e novas habilidades motoras. Essas são as mudanças que acontecem quando dizemos que estamos trabalhando para que a identidade seja alterada, leva mais tempo e precisa ser praticada por diversas vezes.
A terceira alteração que acontece no nosso cérebro são as alterações funcionais. Esse processo é impressionante, quando aplicado, partes inteiras do nosso cérebro são separados e aquilo que se fazia, deixa de ser feito, o cérebro se organiza de forma diferente e funciona de forma diferente e é possível apagar uma parte considerável e o funcionamento continuar normalmente. Para restaurar uma função, voltar ao modo de fabrica é preciso uma mudança estrutural no cérebro.
Criar um novo caminho neural pode ser motor, cognitivo ou social, essas práticas alternadas como escrever com a mão que não é de hábito, usar os sentidos ou mesmo ter relações novas e saudáveis, contribuem para novas neuroplasticidades. Podemos também manipular a neuroplásticidade para que uma mudança aconteça com novas habilidades e isso é possível porque o cérebro não distingue o real do imaginado, gera os estímulos necessários para sinapse neural contribuindo para que aquilo aconteça na realidade.
Para contribuir com esse conhecimento, precisamos destacar dois tipos de células cerebrais, os neurônios que são as unidades básicas do nosso sistema nervoso e pelas quais as informações são transportadas, e temos também as células da glia menos conhecidas, mas que exercem um papel primordial no processo de neuroplasticidade abordo bastante esse assunto para justificar as memórias, mas esse é um assunto que abordarei solitariamente em outra oportunidade. As células gliais são fundamentais para o bom funcionamento do nosso cérebro, pois servem como um apoio para as funções neurais. Pois em algumas oportunidades, nutrem as conexões aumentando seu tamanho, ou removem as sinapses não mais usadas, diminuindo nesse caso o tamanho do cérebro, com certeza se não acontecesse a interferências das glias, seríamos loucos insanos ou zumbis sem perspectivas alguma, nosso cérebro certamente não funcionaria normalmente sem a ação das glias, que também exercem um papel importante na formação de hábitos.
Os neurônios são células diferenciadas do nosso corpo, possui um corpo axonico por onde a mensagem é transportada, com dendritos em uma das extremidades, que se parece com galhos de arvores seca e é responsável por receber mensagens de outros neurônios, quando essa mensagem passa pelo axônio chega a arvore dendritica e passa para outro neurônio, chamamos esse processo de sinapse.
Nesse local exato descrito, acontece então a neuroplasticidade que é a criação de novas conexões. Na neuroplasticidade a arvore dendritrica pode ficar maior criando uma memória intensa, ou pode ser diminuída até ser eliminada por completo, isso vai depender do estado em que essa informação foi disparada na origem.
Vou ilustrar uma situação onde uma nova proposta, pode promover uma série de ramificações e em novas direções, ou seja, mudando o sentido existente, percorrendo uma distancia com resultados extraordinários. Imaginamos uma pessoa entrando em um ambiente modificado, de imediato a ação visual seria ativada, assim como ao tocar em algo que foi mudado, ou simplesmente renovada, isso acontece uma ativação tátil, mesmo que o córtex sensorial estiver distante do visual, assim mesmo serão ativados, o mesmo acontecendo com o sistema auditivo, todos são acionados naquela mesma conexão, aumentando a arvore dendritrica, faça o seguinte experimento, feche os seus olhos e coloque a mão sobre qualquer objeto diferente do seu ambiente, faça isso e perceberá que mesmo com os olhos fechados a imagem é criada e se prestar bastante atenção com silencio ouvira sons daquele objeto ou de uma pintura texturizada, ou de um papel de parede seja qual for, uma cascata de fogos de artifício explodiram dentro de você e se essa pratica se tornar hábito em algum momento o simples fato de somente estar no ambiente criaram novas conexões e aumentaram as já existentes. As novas experiências trazem mudanças no número e na força das sinapses, ramificação dendríticas e axônios. Tudo que fazemos ou deixamos de fazer, exerce um impacto no nosso cérebro. Nosso ambiente imediato e como interagimos com ele, que molda nosso cérebro, em outras palavras, a maneira como interagimos com o ambiente, é o segredo para a reconfiguração do cérebro.
Prof. Elizeu Fagundes
Master Coach/Neurobiologista