Desconstruindo o “Cartel Bancário de 200 milhões de trouxas”
Em audiência pública na última quinta-feira, 29 de Outubro de 2020, o Ministro da Economia Paulo Guedes atacou a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), disse que a entidade é “um cartório”, “uma instituição lobista” e prometeu quebrar o cartel formado pelas maiores instituições financeiras do Brasil. Falou que os maiores bancos do Brasil enganam “200 milhões de trouxas”. Se referindo às taxas de juros cobradas em empréstimos no país, afirmou: “Um absurdo. O Brasil precisa estar em um dígito sólido, é juros de um dígito sólido, em vez de juros de dois dígitos, que é um absurdo. E nós convivemos com isso por décadas. [...] Nós vamos escapar desse cartel bancário de 200 milhões de trouxas que estão sempre na mão de quatro bancos [...] Isso é um absurdo. Isso é falta de competição”, afirmou.
Trabalhei para o Paulo Guedes na Fiducia Asset Management nos longínquos anos de 2007 e 2008. Apesar de nem sempre concordar com o que ele fala ou faz, desta vez o Ministro colocou o dedo na ferida. Tem um par de anos que passo por experiências como empreendedor que demonstram que os juros praticados em empréstimos para empresas no Brasil podem e devem ser mais baixos e que, para isso, precisamos fomentar a competição criando alternativas para os empreendedores, que hoje contam com apenas 5 opções de bancos: 3 privados (Itau, Bradesco e Santander) e 2 públicos (Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal) - totalizando 70% do mercado bancário do Brasil.
O artigo de hoje procura explicar que ferida é essa, desconstruindo dois dos principais argumentos relacionados ao tema e defendidos pela Febraban: o primeiro, de que os juros no Brasil são altos por causa da inadimplência e o segundo, de que os lucros dos bancos no Brasil não são tão altos. Ok, vamos por partes:
1. FEBRABAN & O EMPREENDEDOR INADIMPLENTE
No livro publicado pela instituição em Dezembro de 2018, e com segunda edição revisada em Abril de 2020, com o título “Como Fazer os Juros Serem Mais Baixos no Brasil” a instituição afirma que “a principal causa do spread elevado no país é a inadimplência”. Vamos entender os números que a Febraban utiliza para construir o seu argumento, assim como os fatos que sustentam a nossa diferente interpretação do que acontece na prática:
DESCONSTRUINDO A INADIMPLÊNCIA:
Segundo dados do Banco Central,
a inadimplência corresponde a
17% do spread e não 37%,
como afirma a Febraban.
A diferença entre os números se dá, pois, os dados agregados do BACEN (Banco Central) demonstram a inadimplência baseada nas perdas efetivas enquanto a Febraban demonstra a inadimplência baseado nas “provisões” efetuadas pelos bancos que são feitas com as perdas estimadas. Engraçado que os bancos no Brasil sempre acham que vão perder mais do que realmente perdem... enfim, abaixo um sumário dos dados agregados de crédito do BACEN do sistema financeiro nacional para Setembro de 2020:
2. FEBRABAN & O LUCRO NÃO TÃO ALTO DOS BANCOS
Neste mesmo livro, a Febraban afirma que os lucros dos bancos no Brasil não são altos. Segundo a instituição, “Os bancos não ficam com todo o dinheiro pago pelos clientes como juros. O lucro dos bancos corresponde a 14,9% do spread [...] Os 85% restantes do spread são usados para cobrir os custos da atividade de emprestar, como despesas provocadas pela inadimplência de clientes (37%), pelos tributos, custos regulatórios e fundo garantidor de crédito (23%) e as despesas administrativas (25%)”.
Apenas para ficar mais claro, abaixo uma tabela com a composição do spread bancário no Brasil, segundo a Febraban:
Ainda sobre o lucro dos bancos, a Febraban afirma: “a impressão de que o lucro dos bancos é maior do a de que outros setores da economia não se confirmam nos dados [...] A lucratividade dos bancos ficou entre 5º ao 16º lugar no ranking nacional dos setores econômicos”.
Agora analisemos estes fatos com uma ótica diferente:
DESCONSTRUINDO OS LUCROS:
A lucratividade dos
Bancos Brasileiros é a
Maior do Planeta.
Uma das principais métricas que os bancos utilizam para avaliar sua lucratividade é o ROE (Return On Equity), que é um número percentual definido pelo lucro líquido dividido pelo patrimônio líquido (ROE = Lucro Líquido / Patrimônio Líquido). É a taxa de retorno, ou rentabilidade, que o banco tem no patrimônio investido na operação. E adivinha? Os bancos brasileiros reportam ROE na casa dos 18% a 20%, apresentando a maior rentabilidade do PLANETA em seu segmento de atuação. Abaixo estudo feito pela Economática:
DESCONSTRUINDO O ROE:
Um ROE de 18% a 20% já é muito alto.
Quando calculado com as perdas efetivas
- ao invés das estimadas – ele fica ainda maior.
Um executivo sênior de um dos principais bancos do Brasil costumava falar, em tom de brincadeira, que as demonstrações de resultado de um banco são feitas de trás para frente. Veja qual o ROE que tem que dar, o que isto significa em termos de lucro e calibra na provisão para devedores duvidosos / Non Performing Loans (PDD/NPL). Todo mundo caía na gargalhada.
Mas agora, voltemos aos números.
Ao substituirmos os números baseados nas provisões pelos números reais, chegamos a uma composição diferente do spread. Ou seja, tirando os números da Febraban (estimados) e colocando os números do BACEN (reais), a inadimplência deixa de ser 37% do spread, e passa a ser 17%. Se a inadimplência real é 20 pontos percentuais menor que a estimada, o lucro efetivo dos bancos é 20 pontos percentuais maior. Nesta análise, o lucro dos bancos deixa de ser 15% do spread, e passa a ser 35% do spread.
Ou seja, olhando para os números efetivos ao invés de estimados, concluímos que a inadimplência não é tão alta quanto a Febraban argumenta, enquanto o lucro dos bancos corresponde ao maior item da composição do spread. O ROE que já configura entre os maiores do planeta de acordo com os números reportados, quando analisados com os números reais ultrapassa a estratosfera. Com estes números, o ROE real dos bancos (se não houvesse “gordura” de provisão) seria da ordem dos 40% a 45% a.a, ou 2.3x maior que os 18% a 20% que reportam em seus balanços auditados. Abaixo, tabela que ilustra este raciocínio:
Os números da tabela acima falam por si só: o maior vilão dos juros altos não é a inadimplência, como argumenta a Febraban, é o lucro dos bancos. Essa é a ferida onde Ministro pôs o dedo.
E como só criticar não ajuda a resolver, trouxemos a LinKapital como solução. Vamos oferecer crédito mais barato e um lucro mais bem distribuído entre os agentes do sistema, trabalhando com JUROS QUE FAZEM SENTIDO®. Dá pra fazer. Tudo depende do quanto nossa Inteligência Artificial aprende sobre sua empresa, daí a oferta se adapta. Pensando na tabela acima, já conseguimos inovar – e muito – na composição e na estrutura das Despesas Administrativas e na parcela do Lucro dos Bancos:
1. DESPESAS ADMINISTRATIVAS: Já conseguimos reduzi-las usando nossa Inteligência Artificial.
No modelo bancário atual praticado no Brasil, as despesas administrativas correspondem a 25% do spread cobrado do cliente. Dá para fazer muito melhor que isso e com menos despesas. Hoje, com tecnologia que já existe, o processo se torna muito mais fluido e conseguimos torná-lo mais barato e dinâmico. Não tem agência, não tem hierarquia, não tem burocracia. A maior parte da infraestrutura tecnológica e de distribuição é contratada “as a service” e cresce de acordo com o crescimento e escala da operação. Tudo roda na nuvem. O nosso sistema funciona assim:
a) São 4 níveis de Aprendizados. Quanto mais dados você fornece, mais precisão a Inteligência artificial tem na hora de calcular uma oferta que faça sentido para sua empresa.
b) Você escolhe os dados que quiser fornecer. Não existe um limite mínimo ou critérios de preferência, o algoritmo vai entender o que você ensinar a ele e ponto (fica também a seu critério, o download gratuito dessas análises em PDF). O que existe aqui é livre arbítrio e transparência do começo ao fim.
c) As ofertas são sempre diferentes. Claro, nenhuma empresa é igual a outra. O importante é saber que quanto mais a Inteligência Artificial aprende, menores são as taxas e maiores são os prazos e volumes que ela oferece. Faz sentido?
2. LUCRO DOS BANCOS: Já nascemos distribuindo melhor esses lucros aplicando o conceito de Capitalismo Consciente e Justiça Social.
Menos para os bancos, mais para os empreendedores, mais para os investidores e distribuição de lucros para causas que acreditamos. Utilizando os números de inadimplência efetiva do BACEN, o lucro dos bancos corresponde a 37% do spread cobrado em empréstimos no Brasil. Até agora, falamos dos dados agregados do sistema financeiro nacional. Nosso foco de trabalho são operações de crédito com recursos livres para empresas. Os dados de Setembro de 2020 nestas linhas de produto demonstram taxas de juros praticadas de 11.4% a.a. e uma inadimplência de 1.5%. Sobram assim 9,9% a.a. para remunerarmos nossos investidores e pagarmos os custos da operação.
Assumimos para efeito ilustrativo, que investidores de crédito high yield demandam hoje uma remuneração da ordem de CDI + 4% a.a., o equivalente a 6% a.a.. Entregando aos investidores de crédito privado seu retorno almejado, ainda temos o equivalente a 4% a.a. (200% do CDI hoje) para oferecer taxas mais competitivas para o empresário, pagar os custos da nossa operação, remunerar os nossos acionistas e para contribuir com as causas que acreditamos. No nosso estatuto prevemos que 0.5% (ou 50bps) do nosso spread ou 10% do nosso lucro líquido (dos dois o maior) será direcionado para causas e instituições que nossos clientes, colaboradores, sócios e nós acreditamos.
A LinKapital surge para oferecer operações de crédito extremamente competitivas para o empresário brasileiro – nosso principal foco. Ainda que a concentração de mercado seja alta, novos entrantes como a LinKapital, conseguem ser competitivos exatamente devido à sua tecnologia e flexibilidade na distribuição dos ganhos entre os agentes do sistema. Por consequência, gerando riqueza, empregos e o que mais falta hoje no sistema financeiro nacional: transparência.
Se quiser saber mais, se concorda e principalmente se discorda, comente, manda um inbox, solta o verbo. Aqui no LinkedIn vamos sempre dividir nossos pontos de vista. Nossos artigos e posts são para trocar, engajar e desenvolver esse mercado em conjunto. Falando nisso, gostamos muito da turma dos bancos, tá? Inclusive porque vamos lançar em breve uma nova profissão chamada Empreendedores Financeiros, que foi criada especialmente pensando neles. Por isso, espero que continuemos aprendendo uns com os outros. Só achamos que dessa vez não seremos convidados para o tradicional almoço de fim de ano da Frebraban. Nem o Paulo Guedes.
O debate continua.
#VAMOQVAMO!!!
Renato Hersz, Founder & CEO @Linkapital
Solution Seeker and Creative Manager at hubFactory
3 aPedro Lizandro Neto
Stanford GSB (MSx) | Founder at Scala Capital
4 aÓtimo artigo! Triste realidade que podemos mudar!
Solution Seeker and Creative Manager at hubFactory
4 aGuilherme Aleixo Tavares ;)
Civil Engineer , Expertises - Reports - Assessments
4 aÓtima análise e explanação lógica, dentro de uma linguagem fácil e acessível aos leigos, bem humorada, sem perder a qualidade e a relevância do tema sobre os juros abusivos dos bancos. Parabéns pela coragem de se lançarem neste segmento, enfrentando os grandes e oferendo um produto realmente eficiente, transparente com ganhos e custos justos para ambas as partes. Avante!