Descubra como desfazer o nevoeiro mental e ter mais clareza
Observo que, muitas vezes, quando um problema toma conta de nossa mente, nublando-a – e com isso travando o funcionamento de nosso córtex pré-frontal – não distinguimos bem qual é esse problema.
Uma função importantíssima de um terapeuta ou coach é exatamente clarificar o problema, em meio à barafunda de ideias e interpretações resultante do impacto emocional na mente do cliente.
Einstein disse que a formulação do problema é tão importante quanto a solução. Isso porque, se o enunciado do problema não estiver muito claro, não há como encontrar uma resposta que poderá solucionar a questão.
Quando você vai ao médico com uma queixa, ele precisa lhe escutar para diagnosticar. Esse diagnóstico é exatamente a definição de qual é o problema. A partir disso, o profissional lhe oferece uma possível solução. Essa possível solução é uma direção que você poderá seguir.
A definição de qual é realmente o seu problema é fundamental para uma possível solução. Com frequência, temos dois impedimentos para perceber qual é a direção para uma possível solução. O primeiro é a nebulosidade da mente. O segundo é focar numa parte da situação sobre a qual não temos controle, e onde não podemos fazer nada.
Com frequência, clientes apresentam um problema a ser trabalhado mas focam em outra pessoa, sobre a qual não há controle e, portanto, onde não há solução. Por exemplo: “Meu marido não me escuta”. Ou ainda: “Meu chefe é terrível”. Todo o foco é colocado sobre o outro.
Um bom processo de autorreflexão e autoquestionamento seria: Não me sinto escutado. Não me sinto valorizado ou estimulado. O que sinto que isso causa em mim? O que sinto que isso causa em nossa relação? Ou: O que sinto que isso causa em minha relação com o trabalho ou em minha produção no trabalho? O que isso pode estar significando em nossa relação? Qual é a minha parte nisso?
Sempre existe uma parte nossa, que com frequência não enxergamos ou não queremos enxergar. Como eu gostaria que fosse? O que eu posso fazer diante disso? Como posso responder à situação de uma forma diferente?
A partir disso existe um espaço de reflexão, e um trabalho se abre para uma possível solução. Porque o problema real talvez não seja “meu marido não me escuta” ou “meu chefe é terrível”. O problema real provavelmente é: temos um problema em nossa comunicação. Não temos uma boa comunicação.
Como identifico isso? Não estou me sentindo escutado. Não sinto ânimo para ir ao trabalho. Mas a aflição emocional com o problema nos impede de explorar a situação. Essa aflição com o problema cria uma emocionalidade que distorce nossa percepção, que nos faz ficar batendo em pontos que não são o xis da questão – e não vão trazer solução.
Nosso sistema límbico emocional fica excessivamente ativado e, sem enxergar possibilidades, podemos entrar em um estado de desespero com a situação. Inclusive, algumas vezes, fazendo com que vejamos fantasma onde existe apenas um lençol jogado sobre a poltrona. Ou seja, a situação não é tão séria ou desesperadora.
Segundo muitos pesquisadores, a emocionalidade com que percebemos o problema define 80% do êxito da solução. A solução nunca está 100% no exterior. Algumas soluções podem estar 100% dentro de nós.
Quando você percebe qual é exatamente o problema, adquire poder sobre a situação. Veremos, então, algumas dicas para que, diante de um problema, possamos enxergá-lo com clareza.
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ACALMAR, INVESTIGAR E SOLUCIONAR
Conforme já dito, o médico precisa lhe escutar para lhe entender. Em muitos momentos, você é seu próprio médico, seu próprio terapeuta ou coach. Por isso, precisa escutar a si mesmo. E escutar com atenção, para entender com clareza o que se passa com você.
Quando estamos impactados emocionalmente, muitos conteúdos se misturam dentro de nós. Por isso, precisamos primeiro nos acalmar. Nenhuma boa percepção acontece quando a mente está agitada e confusa, porque nesse caso ela entra em um funcionamento de sobrevivência, de ação rápida e impulsiva – e não de pensamento com avaliação, lógica e estratégia.
Portanto, é preciso primeiro acalmar a mente, para que ela saia do modo sobrevivência de reação. Respire para se acalmar. Abra o peito, organize a postura, ouça uma música, faça um exercício. Mova o corpo de alguma forma, para que a mente se descole de onde está fixada – porque ela está focada no problema, e não na solução. Essas táticas ajudam você a se afastar emocionalmente da situação.
São raras as situações em que precisamos responder rapidamente, ou seja, são raras as situações de emergência. A grande maioria das situações não é emergencial. Então, tome um tempo. Sua mente e seu cérebro mais estratégico precisam desse tempo para ampliar a visão. Depois disso, provavelmente, é possível que você veja o problema em outra dimensão, ou sob um novo ângulo, que não era percebido.
Depois de se acalmar, parta para a segunda etapa, que é investigar a si mesmo e organizar o pensamento. Qual é o real problema? Qual é a minha parte nessa questão? O que posso fazer a respeito? O que decido fazer? O que é essencial fazer? O que tenho condições de fazer de forma imediata?
Essa investigação traz uma organização do pensamento. E isso só é possível quando nos acalmamos, porque é aí que nosso córtex pré-frontal entra em ação. A maneira como a mente pensa o problema – o mindset com que ela pensa o problema – define a clareza sobre o problema e a possibilidade de solução.
Se pensarmos no problema como se fôssemos vítimas, será difícil perceber bem a questão e encontrar uma solução. Ficaremos nos lamentando, nos queixando e culpando alguém ou algo – o marido, o chefe, ou outra pessoa.
A única chance de resolvermos o problema é pensando como protagonistas. Assim, pensamos com mais lucidez, porque nossa energia não se direciona para reclamações ou culpas, mas para enxergar com clareza e descobrir uma solução. É aí que nos vemos como parte da situação e, por isso, como parte da solução.
Eu só posso fazer alguma coisa pela solução quando sou parte da situação.
A terceira etapa é o processo de solução. Muitas situações não têm solução imediata. É necessário um processo de solução. Nesse processo, há uma estratégia de solução, que demanda investimento mental, emocional, de tempo e de energia.
É indispensável iniciar esse processo e nutri-lo, para que ele vá se desdobrando até a solução final.
Nenhum problema é totalmente externo. E a parte interna requer alguma transformação. É preciso tempo e um mindset de processo e crescimento.
Um mindset de processo e crescimento não está focado em resultado, mas aberto às oscilações naturais do percurso e às experiências e aprendizados que expandem o pensar e o fazer.
Estamos chegando ao final de 2023. Seria muito produtivo fazermos uma análise das questões que ficaram pendentes. Vamos esclarecê-las, para não levarmos pendências confusas para 2024. Pendências podem existir, mas que não sejam mais com nebulosidades. Vamos levar clareza e leveza para o novo ano!
Engenheiro Ambiental |Sustentabilidade| ESG | Construções Sustentáveis | Perito Ambiental | Auditor Interno e Externo | Sistema de Gestão Ambiental| Licenciamento Ambiental | Consultor Ambiental e ESG , NR's, ISO 14001
7 mSeu artigo oferece uma visão perspicaz sobre a importância de desvendar os problemas que nos assolam, destacando a necessidade crucial de clareza mental para encontrar soluções eficazes. Você habilmente ilustra como a confusão mental pode obscurecer a verdadeira natureza dos desafios que enfrentamos, impedindo-nos de identificar e abordar o cerne da questão. Ao nos encorajar a adotar uma mentalidade de processo e crescimento, você nos lembra que resolver problemas nem sempre é uma jornada linear, mas sim um caminho de aprendizado e desenvolvimento contínuo. Sua sugestão de encerrar o ano com uma análise clara e resoluta das pendências é um convite valioso para começarmos o próximo ano com clareza e determinação renovadas. Parabéns pelo insight inspirador e pelas orientações práticas oferecidas!
Psicanalista e Empresário.
1 aMuito bom seu artigo Berenice.