Desenvolvedor fullstack: não seja esse cara
Já faz algum tempo que trabalho nessa indústria de desenvolvimento de software e ultimamente tenho me assustado com a abundância do termo “fullstack” nas vagas de emprego e nos perfis de Linkedin dos desenvolvedores em geral.
Eu me desanimo quando um desenvolvedor se diz “fullstack”. Em um processo de contratação, isso tira uns pontos da pessoa e já a faz ser “secundada” por alguém que, no fim das contas, sabe bem o que quer ou pelo menos entende que é uma profunda má ideia designar uma pessoa para cuidar “meio que de tudo” em um sistema.
Mais detalhes em seguida.
Também fico triste quando vejo empresas procurando por “desenvolvedores fullstack”. Isso costuma ser um sintoma de um mal dentro da organização, geralmente resultado de pura ignorância ou desprezo pelos próprios sistemas.
1- “Se algum outro cuida que é fullstack, ainda mais eu”
Tomo emprestadas as palavras do apóstolo Paulo para dizer que não é porque hoje seu um desenvolvedor backend que fico ressentido ou desprezo quem é “fullstack”, como se fosse por incapacidade da minha parte de compreender ou aprender tudo o que seria preciso para eu mesmo ser chamado de fullstack. Pelo contrário.
Fui hobbysta de eletrônica, entendo de lógica binária e os sinais elétricos mais básicos que movem as lindas portinhas lógicas e latches e flip-flops e memórias e ULAS dentro de um computador. Eu posso desenhar um processador e escrever seu microcódigo. Sei criar um compilador. Consigo programar em assembly. Consigo programar em C. Conheço as entranhas de sistemas POSIX/Unix-like e sei operar esses mesmo sistemas Unix-like. Conheço linguagens imperativas, funcionais e até lógicas e conheço vários paradigmas de programação e várias formas diferentes de se modelar problemas. Conheço bem os principais protocolos de comunicação em rede, dos níveis mais baixos até os mais altos. Faço belas APIs e sei me virar muito bem desenhando interfaces, tanto em GUI/desktop quanto em HTML/JS/CSS e alguns frameworks relacionados.
Acho difícil ser mais “full” do que isso…
A grande questão, então, não é sobre a capacidade de uma pessoa dominar bem os vários elementos que compõe uma pilha de desenvolvimento/execução de software/hardware. De forma alguma. Você pode descartar pelo menos metade da lista que mencionei e focar bem no que sobrar e certamente poderá ser chamado de “um desenvolvedor que entende bem de tudo”.
Logo, a crítica que segue não se baseia em não acreditar na capacidade das pessoas em dominar várias tecnologias.
2- Bom, não brilhante
Eu acredito que você pode ser um bom profissional que trabalhe bem tanto com devops quanto backend quanto frontend, por exemplo. Mas “um bom profissional” é, na minha concepção do termo, algo bem distante do topo, do máximo até onde uma pessoa pode chegar em seu ofício.
Ser bom é bom, mas é bem menos que brilhante.
Um bom profissional faz bem o seu trabalho, deixa a empresa feliz, é tranquilo de se gerenciar, tem entregas sólidas e cumpre com os termos combinados. E isso é bom. Mas é só. Esse é o limite para, chuto eu, 90% das pessoas. O bom funcionário é o perfil ideal da empresa antiga, velha e grande, que cresce 12.3% ao ano e comemora como se fosse dominar o mundo prosseguindo nesse ritmo.
Ou seja: o “bom profissional” é bom, oras. Mas é limitado. Pelo menos 95% deles o são. E é difícil imaginar que alguém limitado pelo “bom” consiga ser brilhante em mais de uma frente ao mesmo tempo.
Isso é uma constatação minha, mas ainda não é o cerne da questão. O que quero dizer é que se as chances de qualquer profissional ser brilhante são estatisticamente muito baixas, menores ainda são as chances de um profissional que se vende como “full stack” ser brilhante. Em 98% dos casos este profissional é “meramente bom”.
A conta é simples: se eu recebesse 100 currículos de “programadores full stack”, minha expectativa seria de encontrar 2 que fossem brilhantes. Logo, se você me envia teu currículo dizendo que é full stack, eu certamente já considero que há somente uma chance em cinquenta de que você seja bom o suficiente para me fazer querer contratá-lo.
Você já começa o processo seletivo com descrédito.
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