Desenvolvimento Sensório-motor

Desenvolvimento Sensório-motor

Desde o nascimento (ou talvez antes), os comportamentos sensório-motores dão início ao desenvolvimento mental, embora sob aspectos mais primitivos. A aprendizagem se dá pela ação sensório-motora, fazendo com que o bebê se adapte ao meio ambiente. No fim deste período, a criança possivelmente já aprendeu a atingir objetivos criando meios (mentalmente) para isto.[1]

  Enquanto que, no ponto de partida deste desenvolvimento, o recém-nascido traz tudo para si, ou mais precisamente, para seu corpo, no final, isto é, quando começam a linguagem e o pensamento, ele se coloca, praticamente, como um elemento ou um corpo entre outros, em um universo que construiu pouco a pouco, e que sente depois como exterior a si próprio.[2]

A distinção entre a criança de dois anos e o recém-nascido, consiste no fato de haver ocorrido, ao longo dos dois anos, muitas assimilações e acomodações. Este estágio do desenvolvimento humano, situado entre o nascimento e os dois anos, é dividido em seis períodos:

 Atividade Reflexiva (0 a 1 mês) - Neste período, o bebê não consegue fazer distinção entre o si mesmo e o seu meio, vendo o mundo egocentricamente, ou seja, unicamente do seu ponto de vista. Não demonstra também, consciência de causa e efeito. E o afeto nesta fase, está intimamente ligado a reflexos.[3] Acorda ao sentir fome, chora, suga, buscando alimentação e libertação de desconfortos, fazendo com que as ações sejam relacionadas a sensações e sentimentos.

Primeiras Diferenciações (1 a 4 meses) - O bebê começa a acompanhar objetos em movimento, com os olhos, direciona a cabeça para onde se emite algum som, os quais são diferenciados como, por exemplo, a voz de sua mãe. Os rostos das pessoas começam a ser associados aos sons por elas emitidos, devido a uma perceptível coordenação entre visão e audição, em fase inicial. Passa a ser demonstrada uma consciência de objetivos, porém, carente de intencionalidade. A criança continua, apenas, o comportamento que tinha sido iniciado. O foco de todo afeto e atividade é egocêntrico. Logo, os afetos não podem ser transferidos.[4]

 Reprodução de Eventos Interessantes (4-8 meses) - Gradativamente, a criança deixa de se comportar voltada, fundamentalmente, para si mesma, voltando-se para outros objetos e eventos. À medida que ocorrem experiências interessantes, ela tenta repetir. Este fenômeno de repetição da experiência é denominado por Piaget de reações circulares ou assimilação reprodutiva; um tipo de interação com o meio ambiente. A criança faz algo, obtém sucesso e busca reproduzir o evento interessante. Seu comportamento gradualmente adquire intencionalidade. Dirige-se a um fim a ser alcançado.[5] A criança passa a agir, buscando atingir um objetivo. “Embora o comportamento intencional se manifeste nesse período, ele não é intencional antes de ser iniciada a seqüência de comportamentos – só depois”.[6] A criança tem a noção de permanência do objeto desenvolvida, isto é, ela prevê onde o objeto em movimento percorrerá. Entretanto, ela continua egocêntrica. Ainda se vê como a causa principal de qualquer atividade.[7]

 Coordenação de Esquemas (8 a 12 meses) - Antes de discorrer sobre este período, faz-se útil à abordagem sobre esquemas. São estruturas mentais ou cognitivas pelas quais os indivíduos intelectualmente se adaptam ao meio. [...] São estruturas que se adaptam e se modificam com o desenvolvimento mental. [...] São estruturas intelectuais que organizam os eventos como eles são percebidos pelo organismo e classificados em grupos, de acordo com as características comuns. [...] São ocorrências psicológicas repetitórias [...].[8]

  Nesta fase a criança percebe que outros objetos podem gerar atividades, e não apenas ela mesma. Começa a distinguir meios de fins, usando aqueles para atingir estes. Ela age antecipadamente aos fatos, como por exemplo, no caso de chorar antes – e não apenas quando o álcool é aplicado sobre o ferimento. No tocante aos objetos, a criança começa a diferenciá-los em forma e tamanho, e a procurá-los quando desaparecem, demonstrando consciência da existência dos objetos apesar da ausência destes. Suas buscas, porém, são limitadas. Procuram apenas onde geralmente eles desaparecem. Ela não procura onde eles somem.[9] Perto do final desta fase, a afetividade tem um papel mais significativo no desenvolvimento infantil. As crianças são atraídas pelas atividades onde são bem-sucedidas”.[10]

Invenção de Novos Meios (12 a 18 meses) - A parir deste período a criança começa a formar novos esquemas a fim de desenvolver novos problemas. Quando os esquemas disponíveis não são suficientes para solucionar um problema, ela inventa novos meios, através de ensaio e erros. Cada vez mais atenta, observa o comportamento dos objetos em situações novas, pois seu comportamento passa a ser inteligente. A criança adapta-se a situações não familiares com desenvolvidas habilidades. Pode-se chamar este comportamento de verdadeiramente inteligente, decorrendo, é claro, daquelas atividades reflexas do primeiro período . Agora a criança não procura mais os objetos onde eles geralmente desaparecem, e sim, onde eles de fato somem.[11] A diferenciação cognitiva progride, fazendo com que a criança seja capaz de distinguir o outro de si mesma. E assim como pode diferenciar (conceito de objeto) o outro de si, ela vai se tornando capaz de dirigir sentimentos como gostar e não gostar do outro. O fato de investir afeto no outro contribui para o inicial desenvolvimento social.[12]

 Representação (18 a 24 meses) - Este estágio é a fronteira para o próximo período – o do pensamento pré-operacional. É o último estágio do período sensório-motor. A criança começa a representar internamente os objetos e eventos, resolvendo os problemas através da representação (pensamento) antes de fazê-lo pela experimentação ativa. Por meio de combinações mentais, a criança constrói possíveis soluções, independente de experiências imediatas, formando sequências de ações em sua cabeça.[13] Neste estágio:

... a criança pode não apenas encontrar objetos quando eles são visivelmente esquecidos, mas a representação de possibilidades lhe permite buscar e descobrir os objetos que ela não vê serem escondidos. Isto resulta em grande libertação das percepções imediatas. A criança sabe que os outros objetos são permanentes e continuam a existir mesmo quando não estão visíveis.[14]

Ela passa, então, a buscar os objetos até encontrá-los. Pela representação, a criança consegue predizer as relações de causa efeito.[15] De um modo geral, entretanto, no sexto estágio, a criança passa a ser capaz de dedução causal e não mais se restringe à percepção da utilização sensório-motora de relações de causa e efeito.[16]

O comportamento dela, agora, é orientado em parte por novas capacidades afetivas. A escolha do que fazer e do que não fazer é fortemente influenciada pelos sentimentos. Como no estágio anterior, gostar e não gostar do outro e relações interpessoais passam a fazer parte da vida da criança. Não há evidencia de que a criança do período sensório-motor entenda de regras. Sua atividade não é social. A brincadeira serve apenas para diversão e exploração. Porém, mesmo que ela ainda não tenha construído conceitos morais, a afetividade e a introdução no inverso social, faz com que os sentimentos morais e a afetividade possam ser desenvolvidos para o futuro, através da forte influência sofrida pelo mundo infantil, pela interação social.[17]

[1] WADSWORTH, B. J. op. cit., pp. 39-40

[2] PIAGET, Jean. Seis estudos de Psicologia. Trad. Maria Alice Magalhães D’Amorim & Paulo Sérgio Lima Silva. Rio de Janeiro: Forense, 1967, p. 16.

[3] WADSWORTH, B. J. op. cit., p.43.

[4] WADSWORTH, B. J. op. cit., pp.43-47.

[5] WADSWORTH, B. J. op. cit., pp.47-48.

[6] WADSWORTH, B. J. op. cit., p.49.

[7] WADSWORTH, B. J. op. cit., pp.50-53.

[8] WADSWORTH, B. J. op. cit., pp.16-17.

[9] WADSWORTH, B. J. op. cit., p.53.

[10] WADSWORTH, B. J. op. cit., pp.53-54.

[11] WADSWORTH, B. J. op. cit., pp.54-56.

[12] WADSWORTH, B. J. op. cit., p.54.

[13] WADSWORTH, B. J. op. cit., pp.57-58.

[14] WADSWORTH, B. J. op. cit., p.59.

[15] WADSWORTH, B. J. op. cit., pp.59-60.

[16] PIAGET apud WADSWORTH, B. J. op. cit., p. 60.

[17] WADSWORTH, B. J. op. cit., pp.60-61.



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