A DESGLOBALIZAÇÃO E O BAIRRISMO DE EMPATIA.

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Minha irmã conta um ensinamento da minha mãe (eu não lembro pois era pequeno) que sempre se devia comprar algo na mercearia do bairro (era assim que chamava), para ajudar as pessoas que viviam próximo. E não é que, assim como o mundo é redondo, o ensinamento voltou e “di cum força”?

Quem viveu nos anos 80 a globalização e vislumbrou um mundo novo a se unir, desbravar e crescer, também conviveu com os efeitos colaterais disto.

Os mercados e supermercados da nossa infância foram comprados por redes multinacionais, aquelas marcas de sorvete e refrigerante gostosas do Nordeste foram compradas por grupos americanos ou europeus, aquelas 3 ou 4 marcas de cerveja que de estapeavam para ver quem vendia mais e tinha mais fãs viraram 72 marcas vindas do Oiapoque a Pequim. E assim foi.

E com isso ganhamos em variedade, competitividade, qualidade e economia pela concorrência (ops). Ganhamos muitas e muitas coisas boas, é impossível negar ou cegar.

Mas também perdemos em empregos, perdemos em criatividade local, perdemos identidade, perdemos em boa e divertida propaganda, perdemos aquela conversa gostosa com seu Manoel da Padaria Flor da Macaxeira, do sorriso amigo da dona Maria que hà 30 anos tinha a farmácia Maria e Filhas. Perdemos aquela compra a granel de feijão e farinha, sempre torcendo para o Pedro dar um chorinho no peso.

Pois não é que na fina ironia dos tempos, cobertos que estamos de todas as tecnologias da informação (e desinformação), dos contatos virtuais que nos aproximam (e nos isolam), estamos agora lembrando dos mais próximos que parecem tão distantes?

Não sei se é pra rir ou chorar, mas eu acho que é pra sorrir. Principalmente se depois desta peste sem cor ou de todas as cores, passar.

Para ser sincero, eu sigo a máxima de Ariano Suassuna de que o otimista é um tolo e o pessimista é um chato, então acho bom ser um realista esperançoso.

E a minha esperança é que, depois que o tsunami viral passar, possamos criar uma nova economia das boas. Pode ser utopia, (releiam a frase acima...) mas como seria bom se os grandes priorizassem sua cadeia produtiva, de logística e de contato com as pessoas de identidade local, de rua, de bairro, de cidade, de estado, de região, desse Brasil lindão capaz e criativo.

Quem sabe no meio de tantas empresas que talvez e infelizmente diminuam muito ou desapareçam, renasçam as mesmas ou outras diferentes. Com mais força, criando de novo aquela marca de batata com nome de santo da cidade, cerveja com fábrica no bairro do lado que você vê o caminhão sair (ah, como eu gosto de ir visitar fábricas, entrar em galpões).

Quem sabe todos nós, que no final somos quem mandamos nessa p... toda, passamos a valorizar os estabelecimentos, produtos e marcas onde você conhece o dono de cumprimentar ou pelo menos ouvir falar e ver? Aquele empresário que tu vê passar em uma carro bonito e admira. E não que você só sabe dele pelos sites de economia ou celebridade, com foto em jatinho e iate. Quem sabe a gente tenha um grande prazer bairrista de comprar daquela empresa que ajuda com doação na festa da padroeira (mas de coração) e não que fica comprando ações da Nasdaq que estão em baixa?

Eu contra os gigantes? Nem pensar. Não tenho nada contra os discursos de “pense grande, seja sempre o primeiro” (mentira, acho este discurso falso que só beneficia no final quem está fazendo o discurso).

Eu só quero dar minha contribuição para o impulso dos que estão embaixo, aliviando a pressão que vem de cima.

Quero que a nova sociedade a emergir seja mais próxima, mais fraterna, mais feliz, mais divertida, mais verdadeira acima de tudo.

E quando todos esses sonhos acontecerem e crescerem, como sempre existirá espaço para os grandes e os pequenos e médios que querem crescer, sermos mais iguais no tamanho moral e social. Uns de jatinho e iate, outros de carro e jangada, outros de bicicleta e carrinho de picolé. Mas todos vivendo em um novo mundo melhor e mais equilibrado.

PS: Se alguma multinacional comprar as marcas e o direito de comercialização do caldinho de feijão da praia de Boa Viagem e colocar em embalagem tetrapack eu vou sair na porrada!

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