Desinvestir na Diversidade: um caminho perigoso para as empresas
Pé com sapato social preto prestes a pisar em uma casca de banana no chão de cimento.

Desinvestir na Diversidade: um caminho perigoso para as empresas

A responsabilidade social é inerente a toda empresa e a agenda da diversidade e inclusão deve estar na lista de valores inegociáveis em sua gestão.


Em 2018, John Elkington, criador do conceito Triple Bottom Line, propôs um “recall” do termo, 25 anos após sua introdução. Elkington estava preocupado que o termo e seu conceito estavam sendo apropriados pelas empresas de maneira muito diferente da que foi proposta por ele, que era a de garantir  o equilíbrio entre resultados econômicos, sociais e ambientais. Hoje, percebemos a necessidade de um movimento semelhante quando o tema é diversidade e inclusão no mundo do trabalho.


Expansão e recuo da Diversidade Corporativa

Nos últimos anos, testemunhamos um aumento significativo nas ações de diversidade e inclusão nas empresas. Inicialmente impulsionadas por legislação, pressão social e uma compreensão crescente das vantagens competitivas, essas iniciativas ganharam destaque nas agendas corporativas. No entanto, o fervor inicial esfriou e a diversidade voltou a ser colocada de lado, deixando de ser uma prioridade.


Movimentos Anti-Diversidade Recentes

O cenário corporativo norte-americano atual articula preocupantes movimentos anti-diversidade. Notícias do recuo de grandes empresas na pauta ligam um sinal de alerta de uma possível tentativa de reduzir a importância da inclusão ou de apagamento das iniciativas de diversidade. Ainda que sejam isoladas, ou mesmo que sejam articuladas, essas manifestações infelizmente tiram foco de questões importantes como o papel das empresas dentro da agenda da diversidade. Isso sublinha a necessidade urgente de uma revisão crítica e reafirmação do compromisso com a diversidade e inclusão.


Hora de refletir (e agir)

Embora grande parte dessa motivação para a expansão da diversidade corporativa nem sempre tenha sido uma verdadeira consciência da responsabilidade social, é fundamental compreender que ela é inerente a todos os negócios, desde a sua concepção.

Como afirmou Anita Ramasastry, advogada norte americana e defensora dos direitos humanos, “As empresas têm o poder de influenciar significativamente a sociedade, tanto positivamente quanto negativamente. Portanto, é fundamental que integrem o respeito aos direitos humanos em todas as suas operações e estratégias de negócios para promover um impacto social positivo.” 

Não se trata de uma escolha ou tendência do momento. Muito menos fazer porque é legal ou para parecer legal. Mas fazer porque é necessário. A desigualdade, a falta de acesso e a garantia a direitos básicos existem e estão muito distantes ainda de acabar. Enquanto o problema social que enfrentamos não for resolvido, o trabalho continua.

A estagnação e retração da agenda tem demonstrado que há uma distância entre discurso e prática em empresas que promovem ações superficiais de diversidade sem um comprometimento real. Claro que, felizmente, esse chapéu não cabe em todas as empresas. É importante destacar, também, os esforços de um número cada vez maior de pessoas que trabalham para que as coisas aconteçam de verdade aonde quer que estejam.

A real é que é hora de refletir, nos unir e agir para não permitir que o trabalho decente e a redução das desigualdades, pilares dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), sejam negligenciados. A exclusão nas empresas não pode mais ser naturalizada. Não há justificativa (palavra do latim justificare, “tornar justo”) plausível para que narrativas contrárias à inclusão e diversidade se sustentem. 


Ajustes de Rota

A ideia aqui não é estabelecer metas e objetivos, mas um ponto de partida, para ser aprimorado e complementado por tantas pessoas que, como nós, trabalham com diversidade e inclusão. Não há, também, a intenção de diminuir esforços realizados até aqui, afinal nem tudo são trevas e houveram muitos avanços importantes. Por fim, há questões que consideramos fundamentais para incorporar a diversidade como um valor e não somente uma palavra da moda:

  1. Conceito de diversidade e inclusão: É preciso compreender o que realmente significa inclusão e diversidade e os motivos por trás dessas práticas. Sem uma compreensão clara não se entende a importância e impacto do envolvimento com os temas.
  2. Educação ou Reeducação: adotar medidas efetivas que entreguem esse conhecimento às  lideranças e equipes.
  3. Comunicação e monitoramento: As iniciativas devem ser divulgadas de forma clara e sem medo de críticas para evitar o “Green hushing” (omissão das ações com medo de não fazer o suficiente ou para evitar críticas). Bem como deve-se acompanhar e medir avanços, retrocessos, e estagnações, e alertar práticas de “Greenwashing“, “ESGWashing”, “DiversityWashing” (falsa aparência de responsabilidade social).
  4. Reconhecimento de Boas Práticas: é fundamental valorizar iniciativas bem-sucedidas que promovem a diversidade e inclusão e criar um ambiente de cooperação.
  5. Governança da diversidade: por último, mas não menos importante, afinal a cultura organizacional é o que rege as práticas e costumes dentro de uma empresa, o compromisso com a diversidade deve estar presente em suas políticas, além de prover de estrutura e recursos necessários para que o trabalho seja efetivo.


Conclusão

Como já nos alertou John Ruggie, representante especial do Secretário Geral da ONU, “Empresas devem evitar causar ou contribuir para impactos adversos aos direitos humanos por meio de suas próprias atividades, e devem procurar prevenir ou mitigar impactos adversos ligados a suas operações, produtos ou serviços por suas relações comerciais, mesmo quando não tenham contribuído diretamente para esses impactos.” A responsabilidade social é inerente a qualquer empresa. Diálogo e respeito a opiniões diversas são cruciais para o amadurecimento corporativo, mas algumas questões são inegociáveis. A atuação ativa e responsável das empresas na redução das desigualdades e na promoção da diversidade é umas dessas questões inegociáveis. 

Chegou a hora de unir esforços, repensar e reafirmar nosso compromisso com um ambiente corporativo verdadeiramente inclusivo.


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A Santa Causa

A Santa Causa é uma empresa de treinamento e consultoria que tem como missão melhorar a gestão inclusiva das empresas e tornar o ambiente de trabalho mais diverso, inovador e feliz. Conheça os serviços da Santa Causa para que a sua empresa tenha mais assertividade na inclusão de pessoas com deficiência.

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