Desmatamento da Floresta Amazônica – O que a Literacia de Dados tem a dizer a respeito?
Não quero entrar no mérito das questões políticas que se formaram em torno das notícias relacionadas com o “aumento” das áreas derrubadas nas florestas brasileiras. Já existe muitas e competentes pessoas discutindo esse assunto por esse aspecto. Nosso objetivo aqui, como sempre nos propomos é analisar a questão sob o ângulo da Literacia de Dados. Acreditamos que se cada cidadão cultivar seu senso crítico, particularmente sobre como ler e interpretar informações apresentadas em forma gráfica onde números se fazem presentes ela não se deixará enganar por notícias fantasiosas ou enganosas.
As principais discussões, que culminou com a exoneração do então presidente do INPE, renomado instituto que tem sido o principal responsável por esta medição, dizem respeito a resultados de duas metodologias empregadas para distintas finalidades a PRODES – Amazônia e o DETER.
A primeira metodologia representa a variação anual contabilizados o desmatamento medido a partir de medidas de satélites em cada estado que compreende a área de floresta na chamada Amazônia Legal. Extraímos os dados da página indicada e apresentamos no gráfico abaixo.
Observa-se que houve uma diminuição significativa na área anualmente desmatada na Amazônia Legal que em 2004 e 2005 apresentava-se na faixa entre 30 e 20 mil quilômetros quadrados passando para valores menores que 10 mil quilômetros quadrados sendo que em 2012 e 2014 essa área foi inferior a 5 mil quilômetros quadrados. A polêmica se apresenta na variação entre 2017 e 2018 cujos valores absolutos de desmatamento varia entre 7 e 8 mil quilômetros quadrados redundando em uma taxa de variação anual de 8%. Observa-se assim que embora tenha ocorrido no período um aumento do desmatamento observarmos que entre 2004 e 2018 houve uma redução do desmatamento na ordem de 73%.
O DETER constitui um serviço de monitoramento particularmente para ações rápidas dos órgãos de fiscalização o qual em sua metodologia apresenta a variação mensal em áreas de florestas no Brasil. A particular notícia que ocasionou a demissão do cientista dava conta de que:
“... houve um aumento em 88% do desmatamento da Amazônia em junho em comparação com o mesmo mês em 2018”. Fonte
Não conseguimos verificar os números reais a partir do ambiente disponibilizado e por isso não foi possível confrontarmos as informações. O ambiente apresenta uma série de gráficos onde é possível visualizar um conjunto detalhados de informações agregados anualmente e não conseguimos encontrar os números que representam a informação da notícia.
Consideramos que os dois sistemas são importantes ferramentas para que o Estado Brasileiro possa controlar esse importante ativo. Não obstante tendo finalidades distintas pensamos que a mera comparação dos dados obtidos entre uma metodologia e outra pode ser enganosa. O primeiro ponto a ser considerado é se o termo “Amazônia” usada na manchete tem o mesmo significado entre as duas metodologias. O segundo ponto diz respeito à informação em si. Digamos que a área desmatada em junho de 2017 na “Amazônia Legal” foi de 200 quilômetros quadrados então para que houvesse um aumento de 88% a área desmatada em junho de 2018 seria de 376 quilômetros quadrados. Esse é um fato que indica que houve um acirramento do desmatamento nessa região e que merece das autoridades fiscalizadoras, uma rápida ação a fim de minorar as consequências. Não indicando, no entanto que, o “aumento anual” do desmatamento - se houver, será da mesma ordem.
Neste caso se o INPE tivesse mantido essa informação no estrito âmbito a que se propõe, dar suporte de alerta para ações de fiscalização em pequenas áreas, que é exatamente sua finalidade, teria evitado muita confusão.
Professor Jobenil Júnior
Data Literacy - Consultoria e Treinamento
Data Scientist - Founder
Engenheiro de Dados | Implementação | Customer Success | Python | Business Intelligence
5 aParabéns!!! Gostei muito do contexto investigativo que demonstra certa discrepância de informações entre duas entidades, que deveriam trabalhar juntas e com mesmo objetivo em comum, monitorar de forma consistente e coerente, para redução do desmatamento da Amazônia.