A Desvalorização do Ensino: Um Alerta Urgente
A Desvalorização do Ensino: Um Alerta Urgente
Nos últimos tempos, temos assistido a uma verdadeira erosão dos valores que sustentam a educação, especialmente, no que diz respeito ao ensino secundário. A possibilidade de obter o 12º ano de forma rápida e sem a necessidade de exames nacionais, através de cursos online e sem rigor, levantam sérias questões sobre a qualidade da formação oferecida e a integridade do sistema educativo, visto como um todo.
É alarmante que, num tempo em que se deveria dar prioridade a um ensino-aprendizagem e à excelência do que tange ao desenvolvimento de competências, as instituições de ensino tradicional estejam a perder alunos para empresas de formação profissional que prometem um diploma em apenas três meses!!! Esta tendência cada vez mais crescente, atendendo ao número elevado que podemos observar numa rápida consulta na internet, além de desvalorizar o esforço de muitos estudantes que se dedicam a concluir a sua formação de forma legítima, também, cria um cenário em que o diploma do ensino secundário transforma-se num mero pedaço de papel riscado com tinta árida, desprovido de significado e conteúdo real. “A educação é um ato de amor, de coragem. E não pode dar-se, senão, na condição de liberdade" (Freire, 1970).
O que, aqui, está em jogo, não é somente a atribuição de um diploma, mas o futuro dos alunos que, na procura por uma solução rápida e fácil, podem estar a sacrificar a verdadeira educação e a comprometer as verdadeiras competências que o mercado de trabalho exige. Quando estes cursos são ministrados sem um controlo rigoroso, onde os alunos, muitas das vezes, não são os protagonistas da sua própria aprendizagem, mas sim, meros espetadores que delegam as suas responsabilidades a terceiras partes (pais/EE, explicadores e professores), corre-se o risco de estarmos a “produzir” uma geração de profissionais despreparados, descapacitados em conhecimentos e valores. Estes indivíduos entrarão no mercado de trabalho sem as competências necessárias para se destacarem e produzirem valor acrescentado, prejudicando a sua trajetória e a reputação das instituições que os irão, um dia, empregar.
De acordo com um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), publicado no relatório "Education at a Glance 2020", a qualidade da educação é fundamental para a competitividade económica de um país e para o desenvolvimento social. O relatório aponta-nos que os sistemas educativos de alta qualidade promovem o desenvolvimento de competências técnicas, habilidades socioemocionais e críticas, fundamentais no mundo atual.
Ademais, a falta de fiscalização dessas empresas e a promiscuidade entre o ensino e a formação profissional levantam profundas questões éticas que temos de considerar. “O conhecimento é poder" (Foulcaut, 1982). Neste sentido, o acesso a uma educação de qualidade deve ser um direito de todos, e não um privilégio de poucos. É inaceitável que, sob a bandeira da educação, se permita que a fraude prospere e que alunos sejam enganados, acreditando que estão a construir um futuro sólido, quando na verdade estão a cavar a sua própria sepultura profissional e, quiçá, a comprometer a sua vida.
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O Estado, ao permitir que esta situação se perpetue, falha na sua responsabilidade de garantir uma educação de qualidade. A desregulamentação do ensino e a falta de critérios claros para a certificação de cursos geram um ambiente de incerteza e desconfiança. Quando o ensino se torna um produto de fácil aquisição, sem que se exijam os esforços correspondentes, a sociedade perde, a nação perde. Perdemos a capacidade de formar cidadãos críticos, proativos, preparados e conscientes do seu papel no mundo.
A UNESCO (2020) alerta-nos que "a educação de qualidade é um dos pilares fundamentais para a construção de sociedades pacíficas e sustentáveis".
Portanto, é urgente que a sociedade, os educadores e as instituições se mobilizem para denunciar e combater estas novas realidades. Precisamos de um sistema educativo que valorize a ciência, o conhecimento, o esforço e o mérito. A educação deve ser um pilar de transformação, e não um atalho para a desinformação. O futuro das próximas gerações depende disso.
© 07 jul.2024 | Luís Filipe Ribães Monteiro
Texto escrito depois de verificarmos uma debandada de saída de alunos dos 12º anos que sem qualquer interesse pelo conhecimento, pelo estudo, pela escola, onde muitos deles estavam confinados ao insucesso escolar, optaram por esta via de facilitismos, obtendo os seus certificados de conclusão do 12º ano.