Devo ficar ou devo ir?

A 10 dias atrás, fomos surpreendidos com a notícia do acidente fatal de um viajante e seu melhor amigo de 4 patas, que estava a poucos dias de concluir seu projeto, chegar ao Alaska. Confesso que tal notícia me afetou de uma forma incomum, primeiro pelo meu passado de vinte anos a bordo de um fusca 1967 e posteriormente um fusca 1973, além de também ter sido um sonho de outrora percorrer inicialmente do Oiapoque ao Chuí e desbravar nosso belo litoral a bordo de um fusca, sem data para partir ou para retornar.

Trazendo detalhes dessa aventura, em minha opinião, a escolha do carro foi perfeita. Trata-se do carro mais vendido em todo mundo, com facilidade de se encontrar peças de reposição, manutenção barata, consumo de combustível relativamente econômico, além de um carro "de respeito" nas andanças por qualquer tipo de terreno.

Também a escolha da companhia foi fantástica. Um cão, além de ser considerado o melhor amigo do homem, está sempre pronto para brincar. Possui uma forte conexão com seu tutor, tornando os dias cinzas mais coloridos e alegres em sua companhia. Não reclama nunca de nada, fica feliz com pouca coisa (e aqui um parêntesis para uma frase que um grande amigo de longa data tem como lema: Não se precisa de muito para ser feliz!), é fiel, companheiro, protetor, carinhoso, amável... E desde o início seu fiel amigo estava inserido nos planos. Por fim, nem sempre o seu sonho de pegar a estrada é também o sonho da pessoa com a qual você se casou/relaciona.

Me pergunto... Como ele não ficaria feliz se, em vida, visse seu perfil nas redes sociais passar de 400 mil seguidores para 1 milhão e 500 mil em poucos dias? Por que não apoiamos as pessoas de bem em seus projetos e sonhos pessoais quando eles estão vivos? De que adianta virar seguidor de um perfil que, via de regra, não receberá mais nenhuma atualização tendo em vista a precoce partida do seu mantenedor? E por que a maior parte das iniciativas como a dele, ou de velejadores que partem em viagens e aventuras, não são divulgadas pela mídia em geral, dando maior ênfase para catástrofes, guerras e crimes de todos os tipos? Será que aventuras e coisas boas não "vendem/rendem" tanto quanto tragédias? Estamos fadados a consumir apenas coisas ruins, tristes ou depressivas?

Enfim... Caso tenham reparado, a imagem que encabeça o presente artigo é a coordenada do local do acidente. E pelas fotos, a dinâmica do acidente consistiu de ele tentar desviar do trânsito que repentinamente ficou lento à sua frente, e ao consertar a manobra, causou o tombamento do seu veículo, fazendo com que o teto deste colidisse com a dianteira do outro carro que vinha em sentido oposto.

Me vi estudando a dinâmica do acidente, e concluindo que em virtude do peso existente no teto do seu carro (barraca, escada de alumínio, tubulação de água, dentre outros) o centro de gravidade do carro foi alterado, tornando-o mais propenso a tombamentos, e por não haver nenhum reforço interno no mesmo (os conhecidos "santo antônio" ou reforços do tipo "gaiola") era também o tendão de Aquiles, a parte mais vulnerável do veículo do viajante.

Respondendo ao título do presente artigo que nem sei por que escrevo (ou melhor, até sei, mas que venham os "haters" de plantão darem seus pitacos para tentarem ser mais felizes), eu não tenho mais idade pra ir. Não tenho mais saúde pra ir. Não tenho coragem pra ir. Tampouco tenho disposição pra ir. Devo ficar. Ficar e admirar os que partem, os aventureiros, desbravadores, viajantes. Sonhar! Pois quem não sonha, não tem esperança, não tem futuro. Já dizia o poeta blumenauense Lindolf Bell: "Menor que meu sonho não posso ser". E para mim, além de uma lição de vida, ficou o gostinho de quero mais... A saudade do que não vivi... E a esperança de mais histórias como esta, mas com final feliz...

E você, o que faria? Should you stay or should you go? That´s the question...