Wrong Way Corrigan e a arte do Migué
Algumas histórias são difíceis de acreditar. Vez ou outra encontro com casos aburdos ou tentativas frustradas de pessoas que tentaram enganar alguém para conseguirem o que queriam no seu emprego. Algumas, bem dissimuladas, buscando derrubar outras pessoas para galgarem espaços e outros apenas contando desculpas esfarrapadas para justificarem algum erro ou ação indevida, o que também conhecemos aqui no interior como “dar um migué”. A história que conto hoje se encaixa bem nesse segundo exemplo.
Douglas Corrigan foi um piloto e mecânico que nasceu em Galveston, no Texas, no ano de 1907. Em sua pacata vida já constava um feito interessante ao ter sido parte da equipe de mecânicos que produziu o famoso avião Spirit of Saint Louis, que foi pilotado por Charles Lindbergh numa travessia do oceano Atlântico sem escalas, indo dos Estados Unidos à França. Especialista em alterações para ampliar o total de capacidade de voo em aviões, Corrigan tinha o sonho de ser ele também um dos poucos aviadores a realizar a façanha de cruzar o oceano.
Esse sonho durante 10 anos foi pauta na vida de Corrigan. Seu avião, um Curtiss 50 Robin B, comprado por enxutos 310 dólares, era sua esperança de uma conquista pessoal. No entanto, durante todo esse tempo nunca seu pedido para um voo internacional desse porte foi autorizado pelo escritório nacional de Comércio, que dizia que seu avião não tinha as condições necessárias para realizar tal travessia. O sonho, embora barrado, persistia a cada alteração que Corrigan fazia em seu avião, utilizando a experiência que tinha em projetos de aeronaves para voos longos que obteve na construção do mítico avião de Charles Lindbergh. Seu pedido fora negado no ano de 1937, devido ao seu avião, agora apelidado de "Sunshine", ser considerado instável dadas as grandes alterações que Corrigan executou no projeto.
Foi então em Julho de 1938 que Corrigan conseguiu uma autorização para voar de Long Beach, California, para o aeroporto que ficava no Brooklin, em Nova Iorque. Seu voo transcorreu sem problemas e o jovem aviador conseguiu levar seu avião a cruzar o país, um feito importante, embora distinto do seu velho sonho de cruzar o mar. Daí pra frente é que a história fica interessante. No voo da volta, simplesmente o "Sunshine" sumiu entre as nuvens, aparecendo somente 28 horas depois em Dublin, na Irlanda! Corrigan realizou seu voo por sobre o oceano Atlântico e estava em solo europeu! Em sua justificativa aos atônitos oficiais que o receberam no Reino Unido, Corrigan disse que se confundiu nas nuvens e acabou tomando um rumo incerto, curiosamente pousando onde ele sempre quis. Tá bom, né? Me engana que eu gosto.
Por esse voo totalmente maluco, Corrigan recebeu o apelido de "Wrong Way Corrigan" (algo como Corrigan Contramão), afinal não é sempre que alguém comete um errinho bobo de direção errada e vai parar tão longe assim. Até sua morte, em 1995, Corrigan jamais admitiu que seu erro foi proposital, fazendo sempre questão de dizer que foi um erro aliado a uma coincidência. Migué pouco é bobagem. Apesar do grave descumprimento das regras aeronáuticas da época, o nosso amigo Wrong Way apenas tomou uma suspensão de 14 dias para sua licença de aviador e teve que voltar de navio com seu avião amigo "Sunshine". O termo "Wrong Way Corrigan" é usado até hoje dentre alguns aviadores americanos para brincar quando alguém toma um rumo oposto em seus voos de aprendizado. Seu avião aguarda em um galpão para ser levado a um dos grandes museus de história da aviação dos Estados Unidos.
Você tem alguma história de um migué desses no trabalho? Presenciou alguma tentativa frustrada? Compartilhe seu causo nos comentários : )