Dez passos para...
Motivada por muitos dos estudantes (tanto da graduação como da pós-graduação), com os quais tive contato nos últimos anos, resolvi escrever esse artigo.
É crescente a quantidade de estudantes (não só eles, mas também) que têm expressado, direta ou indiretamente, sintomas de ansiedade e depressão, diante dos desafios da vida. E não sou eu quem diz: são os especialistas. Há inúmeras causas para isso (creio que muitas ainda desconhecidas), mas decidi abordar aqui uma pontinha do iceberg, na esperança de ajudá-los a seguirem em frente, não por caminhos mágicos, mas sim por aqueles que estejam ao alcance de cada um. Até por isso, é bem provável que este artigo arranque poucos likes dos leitores (talvez até de estudantes), uma vez que ele vai na contramão do que se apregoa por aí em muitas publicações comerciais, cursos, redes sociais e na propaganda, em geral, que insiste em vender a ideia que podemos ser e ter tudo o que quisermos (desde que compremos o que cada anúncio vende).
Resolvi ilustrar tal mensagem por meio dos...
....DEZ PASSOS PARA....
...a frustração. É assim que sempre vi os textos em que os autores se dizem conhecedores do caminho EXATO para...(o sucesso, a fama, a riqueza, alcançar os sonhos!). Embora sigam a receita exata (essa sim!) para que se vendam bem, pois prometem fornecer ao leitor respostas mágicas às suas angústias, elas me transmitem uma arrogância imensa e só colocam mais pressão sobre quem já está pressionado por todos os lados: todos nós.
Quando conquistamos uma certa maturidade, percebemos que nada na vida se resume a 10 passos, muito menos infalíveis.
Quando conquistamos uma certa maturidade, percebemos que nada na vida se resume a 10 passos, muito menos infalíveis. Pode ser que, para os exemplos frequentemente citados nesses textos - as exceções - tenham sido necessários até menos passos. E sabe por quê? Porque cada pessoa é única e, por mais que se tente pisar sobre as pegadas de alguém que tenha atingido o ápice de, seja lá o que for, há toda uma conjunção de fatores (pessoais, ambientais, conjunturais, entre outros) e sua inter-relação que, muito provavelmente, proporcionarão resultados diferentes a cada pessoa. Aliás, o que significam ápice, sucesso, fama e riqueza (entre outras palavras queridinhas desses autores)? Será que invariavelmente correspondem às definições dadas por esses meios? Será que todos nós sonhamos o mesmo sonho? Creio que, para responder a isso, nem é necessário ser tão maduro assim...
Fato é que as pressões só fazem crescer. Portanto, proponho aqui algumas reflexões, por meio de alguns "passos ao avesso":
1. Admiração sim; comparação, jamais! Todos temos ou buscamos pessoas de referência em nossas vidas, sob vários aspectos. Nos compararmos com quem poderia ser fonte de inspiração e motivação pode ser extremamente frustrante, e até cruel.
2. Alinhado ao “passo” anterior: ninguém é perfeito, nem mesmo a pessoa (supostamente) mais admirada, bem-sucedida, famosa, rica e feliz. Portanto, quanto antes aceitarmos nossa própria imperfeição, melhor, para que possamos usar os recursos de que dispomos, da melhor maneira possível.
3. Você tem muitas das respostas que querem lhe vender. Dentro de cada um de nós há uma sabedoria a ser desvendada. Quando não nos consultamos sobre nossas dúvidas e angústias, com franqueza e gentileza, acabamos acatando as respostas que vêm de fora.
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4. Não corra; caminhe no seu ritmo. O cotidiano tem nos levado a uma aceleração insana. Frequentemente, ultrapassamos nossos limites físicos, mentais e até emocionais para acompanharmos o ritmo da manada e nos sentirmos normais. Mas afinal, o que é ser normal para você? Padecer dos males da atualidade como, por exemplo, “não ter tempo para mais nada”?
Você tem muitas das respostas que querem lhe vender.
5. Alinhado ao “passo” anterior: antes de querer liderar outras pessoas, lidere a si mesmo. Para isso, primeiramente você precisa descobrir quais são os SEUS objetivos. E não me refiro apenas aos objetivos profissionais. Ou atingi-los bastaria para você ser feliz?
6. Jogue fora a palavra fracasso; quando necessário, use algo como “(isso) não deu certo, mas (aquilo) poderá dar”. A palavra fracasso soa, para a grande maioria, como derrota, incompetência. Pergunto e já respondo: como isso pode nos ajudar na vida? Não pode.
7. Não teime; abra-se ao novo. Aquilo que não deu certo não era garantia de felicidade. Aliás, se você colocou todas as suas fichas em uma única aposta (profissional, afetiva, de vida), você mesmo se colocou em uma posição perigosa: a do tudo ou nada.
8. Alinhado ao “passo” anterior: você sabia que a felicidade, assim como tudo na vida, é efêmera? E que não existe um pote de ouro ao final do arco-íris? Ou seja, ela não estará, necessariamente, lá no final do seu plano de carreira ou de vida. Mas ela pode estar sim, aqui e agora, em vários momentos do cotidiano.
9. Alinhado ao “passo” anterior: a informação é efêmera, o conhecimento pode não ser. Com o aumento da expectativa de vida, entre outros fatores (alguns dizem que é pela “grande competitividade”, enquanto outros, “devido à transformação digital”), é fortemente recomendado que todos nós aceitemos o conceito de “lifelong learning” ou aprendizado contínuo ao longo da vida, em tradução livre (particularmente, eu não acho um sacrifício, pois adoro aprender, me atualizar e compartilhar conhecimentos; não é à toa que amo a docência e considero-me uma eterna aprendiz!).
10. Pense de forma autônoma; não acredite cegamente naquilo que os outros dizem. Parafraseando o filósofo Edgar Morin: dedique-se mais aos questionamentos do que às certezas.
Pense de forma autônoma; não acredite cegamente naquilo que os outros dizem.
Não por acaso, escrevi a minha proposta de “Os 10 passos para....”, em 10 passos. Quis provocar, alfinetar essas palavrinhas “mágicas”, que há muitos anos geram fama e fortuna a vários dos gurus que as utilizam. Mais do que isso, quis provocar o leitor, especialmente os estudantes, a refletirem sobre a verborragia que nos cerca e sufoca.
Parece que sempre estamos errados em tudo e que precisaríamos nascer de novo para termos alguma chance de sermos minimamente ajustados aos “10 mandamentos da atualidade”. Creiam, sem questionar: isso sim é mentira. Afinal, somos apenas humanos. Na tentativa de acertar, muitas vezes erramos, mas é assim que aprendemos, cada um em sua caminhada pela vida.
Industrial Equip. Sales & Service / IoT Consultant
3 aExcelente reflexão.
Prof.a Dr.a
3 aMuito pertinente!! Muito sensível e sábio!
Smart Cities | Innovation | Government | Smart Public Policies
3 aColocações perfeitas, atuais e pertinentes para o momento que vivemos!!👏👏👏
Automation & Control Engineer with emphasis in RF Solutions
3 aComo Engenheiro Elétrico recém formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo as palavras desse post se encaixam na mentalidade minha e de meus colegas como uma luva. Decidimos aos nossos 18 anos (alguns até mesmo antes) que iremos perseguir uma carreira em engenheria, nos espelhando em ídolos como Einstein, Hawkins, Turing, Musk e até mesmo Tony Stark. Criamos expectativas em relação ao curso, acreditando que matemática, física, programação, etc, são flores de beleza inigualavel, mas esquecemos os espinhos, a dor e o suor de compreender elas. Criamos expectativas em relação à nossa profissão, acreditando que ao superar 5 anos de 6h de sono, estudando de 5 a 6 dias por semana iremos nos deparar com empresas que nos darão as mãos e dirão:"pronto, é esse o caminho a seguir","vai com calma, sem pressa","não tem problema você ter errado, faz parte do serviço" E na última instância dessa série de expectativas, admitidamente "furadas", nos deparamos com posts em redes sociais como o próprio LinkedIn de empresas e pessoas que alcançaram o "sucesso" e a "felicidade" seguindo "apenas 10 passos simples". Mais uma barreia a ser superada! Muito bonito e reconfortante o texto, que apesar de estilhaçar as promessas dos "10 passos simples" indica que todos os que chegaram, chegaram suados e doidos.
Parabéns Renata ! Publicações assim podem contribuir muito nesse momento atual !