Dia das mães chegando e te pergunto: Você respeita a sua mãe? E a dos outros?
SXSW 2019 - Pedro em sua primeira viagem à trabalho! :)

Dia das mães chegando e te pergunto: Você respeita a sua mãe? E a dos outros?

"Alê, você acredita que eu fui desligada no meu retorno de licença maternidade?" Perdi as contas das vezes que ouvi esta frase nos últimos dois anos, desde que o Pedro nasceu e senti na pele o que tantas mães passam. Não estou aqui para falar de leis, benefícios… queria falar sobre você, seus pares, seus colegas.

"Mas existe uma lei e ela está sendo cumprida… tá ótimo!" Será? Há alguns anos, quando uma pessoa da minha equipe estava voltando de licença, foi definido que ela seria desligada. Eu havia mudado de posição, as necessidades da área alteradas e ela não mais caberia ali. Aquilo me incomodou. Neste período soube que ela estava se ajustando para retornar, vendo babá, escolinha, até mudando de casa para ficar mais próxima ao trabalho. Aquilo me consumia! Fui compartilhar isso na empresa e a resposta do RH/Jurídico foi que não foi aprovada realocação e que legalmente não poderíamos mencionar nada até o dia do retorno. Aceitei isso. Falhei!

Quando eu estava no auge do puerpério, comprometida com meu plano de licença maternidade, conectei na call de apresentação da nova líder Global da área em que atuava. Ela seria minha nova chefe! Pela primeira vez, responderia para uma mulher. Que incrível seria isso! Era fevereiro e empresa estava investindo fortemente em ações para mulheres. Que momento maravilhoso! Estou lá ouvindo atentamente todas as novidades, entre uma mamada e outra até que surge um organograma! Nada de errado com ele, exceto pelo fato de que eu não estava ali! Eu havia saído de licença com um plano, com combinados. Como assim? Eu tinha um cargo de Diretoria, conhecia toda a alta gestão. Tentei falar com meus pares, ninguém sabia de nada. Tentei falar então com a minha suposta chefe. Ela também não sabia de nada, aliás, ela nem sabia da minha posição, de mim! Resumindo, a empresa mudou o foco, Financeiro e RH viram a possibilidade de uma redução de "gasto". Acho que pensavam: "A empresa sobreviveu sem ela! Talvez viveu até melhor… tá tudo certo!"

Não, não está tudo certo. Primeiro porque a empresa deve ter palavra e se combinados são feitos, eles devem ser cumpridos. Segundo, porque a volta da licença não significa (apenas) a luta pela manutenção da renda. Claro que este ponto é importante, mas isso é muito maior! A decisão de volta vem com um mundo novo, com demandas altíssimas, com madrugadas tentando estocar leite, com ajustes críticos de logística, decisões dolorosas de ordem prática, adaptações mil: com a nova rotina, com a escolinha, com a babá, com o corpo, com o novo cargo, com a nova jornada… Voltar é um ato de coragem, é uma prova de que a mãe valoriza aquela empresa. Abrir mão de ter mais tempo com seu filho, tem que ser necessário ou valer muito a pena! Não estou falando aqui de casos que fogem ao controle, estou falando que a desculpa de que as coisas mudaram ou de que a profissional já não performava (como se a empresa não tivesse responsabilidade de já ter agido neste caso) se tornaram regra e uma razão absolutamente inquestionável e aceita. O que podemos fazer para mudar esta dura realidade?

Como contei, nunca tive uma líder mulher, não tinha referência. Junto com a objetividade masculina, herdei um machismo velado. Não entendia o que era a maternidade e suas necessidades. Acabava perdendo muito em empatia, sem nem mesmo perceber. Mas a vida ensina… Hoje, quero mudar esta realidade com informação e ação. Não basta uma empresa, não basta uma pessoa, temos que unir forças. E temos que educar. Educar gestores, educar nossas crianças. Muitas vezes a visão machista que queremos combater está instalada por falta de informação. Eu mesma antes de ser mãe não tinha acesso a algumas informações que tento passar para frente e conscientizar outros gestores. Meu time hoje tem várias mães e acho isso maravilhoso! Em nenhum momento as privilegiei por serem mães, apenas avaliei suas competências sem as punir por isso.

Nesta jornada de mãe profissional, pude sentir como faz diferença ter apoio... E como não fazemos nada sozinho, peço sua ajuda: Abrace esta causa! Além da sua, neste dia abrace outras mães. Veja o que você pode fazer para contribuir com este cenário aí onde você trabalha! ;) E se precisar de mim, de trocar ideias, falar com outras pessoas, pode contar.

Eu, por sorte, passo esse dia das mães especialmente feliz em ter ao meu lado um filho incrível, um marido verdadeiramente parceiro de parentalidade, um time lindo e empático às necessidades das mães, um chefe que valoriza a família tanto quanto eu e uma empresa que me valoriza como profissional e respeita profundamente às necessidade do Pedro desde a nossa primeira conversa.

Sim, isso é possível! Duro, raro, mas possível. Então sigamos.

Feliz dia das Mães!<3

Mariana Bonfim

Business Intelligence | Análise de Dados | Marketing Digital

5 a

Alexandra Avelar Me identifiquei muito com seu texto pois também sou do time que foi "desligada" após o retorno da licença maternidade. Me serviu de enorme aprendizado sobre Feminismo, Sororidade e o quanto nosso mercado de trabalho tem tanto a evoluir em questões básicas como equiparidade salarial. Sou mãe de duas meninas e criar mulheres em um Brasil machista é um desafio, mas tudo que faço é pelo futuro delas.

Vivian Lopes 💎

Posicionamento executivo | Estrategista de comunicação p/ C-levels |Mãe, palestrante & Mentora de thoughtleaders| Consultoria LinkedIn B2B @VContent | Personal Branding TOP Voice Thinkers360| Ghostwriter

5 a

Vivian Abukater veja que história incrível

Beatriz Nogueira

Account Executive at DocuSign

5 a

Chorei. É isso! Que assim seja sempre. <3

Luciana Schwarzbach

Diagnóstico in vitro, Assuntos regulatórios, Gerência de Produtos, Qualidade, Auditor interno ISO 13485:2016

5 a

Ale, excelente texto e reflexão.

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