Dia sem carro? Pode ser quando for melhor para você
Desde 2006, vários meios de transporte “competem” no Desafio Intermodal de São Paulo, e eu sempre dou uma conferida no resultado. Uma das coisas que mais me desgasta em São Paulo – cidade cheia de defeitos e qualidades – é o trânsito. Não que ele seja o problema mais grave, mas é para mim o mais constante.
Pois bem, no Desafio Intermodal de 2017, mais uma vez, a bike foi o transporte mais eficiente, avaliando o tempo, o custo do transporte e a poluição gerada. Cruzar a cidade em 20 minutos na hora do rush? O ciclista Marcelo Soares levou quase 18 minutos para ir do Brooklin ao Centro. Quem foi de carro levou 1 hora e 20 minutos!
Este ano, por conta da #SemanadaMobilidade2017 e do Dia Mundial sem Carro (hoje!) fizemos uma pesquisa na INNOVA LA sobre como a equipe vai e volta do escritório. O resultado me deixou feliz, pois imaginei que mais gente optasse pelo carro ou por aplicativos (carros compartilhados, que ainda assim são carros circulando, ficando parados no trânsito e poluindo a cidade).
A maioria das pessoas que trabalha comigo usa transporte público (ônibus e metrô); eu, que tenho carro, inclusive. Gosto muito do meu carro, compra-lo foi uma conquista. Uso o carro para viajar, em deslocamentos maiores e me sinto livre para ir e vir, a hora que precisar. Mesmo assim, sempre que posso, deixo ele na garagem. Por mais que eu goste do meu carro, sei que faz bem para mim e para a cidade usa-lo com moderação.
E me senti bem quando soube que as pessoas no escritório também optam por outros meios de transporte. A INNOVA LA fica perto da Av. Paulista, ou seja, do lado do metrô, da ciclovia e na rota de várias linhas de ônibus. Um prato cheio para quem não tem ou não quer usar carro todo dia.
Minha bike, campeã do Desafio Intermodal, também tem ficado na garagem. Porque moro numa rua que é uma ladeira gigante (nem caminhões podem circular), não tenho tanta confiança em encarar o trânsito de São Paulo pedalando e tenho o privilégio de morar e trabalhar perto de estações de metrô.
São Paulo não é fácil e quem (ainda) não encara uma pedalada na cidade pode citar seus motivos. Mas eu decidi ouvir os motivos de quem usa a bike para ir e vir, três pessoas que trabalham comigo e me fizeram ter vontade de tirar a bike da garagem.
Os filhos fizeram a Yumi ter vontade de construir uma cidade mais saudável e menos individualista. Ela e o marido adotaram a magrela e levam as crianças na garupa. Os filhos adoram! E ela perdeu peso, fica mais disposta. Trocou as brigas de trânsito pela cordialidade entre ciclistas. Hoje presta mais atenção nas ruas e nas pessoas no caminho - “Para mim isso é que faz uma cidade realmente viva!”. Bom, né?
Quando eu morava na Vila Mariana, pegava a ciclovia e vinha trabalhar de bike. E realmente ficava mais feliz com São Paulo. O Fábio, que pedala há mais tempo e melhor do que eu, pega um bom trecho sem ciclovia, mas mesmo assim fala a mesma coisa: passar de bike por onde a gente passava de carro é muito diferente. Você vê e sente a cidade – de verdade – e passa a gostar mais dela.
O Fabio também fica feliz de passar pedalando por carros que estão parados no trânsito. Eu criava corridas secretas com carros na Paulista – minha bike na ciclovia e os carros no engarrafamento. Normalmente ganhava e chegava mais feliz no escritório. E mais rica, já que economizava com gasolina, estacionamento ou no bilhete único.
"Imagina a alegria de quem está vindo de bike?". É uma alegria mesmo. A Paula meio receosa, ganhou o Manual completo – De Bicicleta para o Trabalho da Yumi e resolveu tentar. Ela é das minhas, biker iniciante e ainda não sai muito da ciclovia, mas está tão feliz como os veteranos do pedal. Conta que mudou a sua relação com a cidade, e que, ao contrário de chegar mais cansada, chega com mais energia para o dia de trabalho.
Eu vou continuar vindo de metrô. Realmente a ladeira de casa é muito íngreme e andar fora de ciclovia ainda me deixa insegura. Meu Dia Mundial Sem Carro, vai ser sem carro como todos os outros dias que eu saio com o bilhete único e não com a chave.
Mas, depois de mais uma vitória da bike no Desafio Intermodal e da conversa com os bikers do escritório, decidi pedalar mais por São Paulo. É um jeito de aproveitar e de gostar mais da nossa cidade. Estou querendo melhorar nossa relação...
Aliás, pedalar nos dias em que não temos compromisso com horário e quando as ciclovias estão abertas é uma dica para começar a ganhar confiança. Fazer caminhos mais fáceis por ruas menos movimentadas é outro jeito de ir “pegando o jeito” até se garantir para ir e vir do trabalho.
Nesse Dia Mundial sem Carro a gente pode pedalar. Mas pode ser em outros dias também. Quando for melhor para você. Sempre vai ser melhor para a cidade.
Psicóloga | Profissional Autônoma
7 aMuito legal, Natasha! Também gostei de saber que não sou a única a apostar corridas secretas nas avenidas.
Gostei muito do artigo e de entender como nossa equipe vem lidando no seu dia a dia com a mobilidade urbana! Congrats!